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BCE: Portugal e Draghi perdem um aliado alemão

Jorg Asmussen, o membro alemão na Comissão Executiva do BCE, troca o lugar em Frankfurt pelo de ministro-adjunto em Berlim. Draghi e Portugal perdem um aliado.

16 de Dezembro de 2013 às 11:49
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O caloroso abraço de Jorg Asmussen a Maria Luís Albuquerque na sua estreia como ministra das Finanças nas reuniões do Ecofin em Julho fica como bom sinal da proximidade do ainda membro alemão da Comissão Executiva do BCE com Portugal, uma relação que já cultivava com Vítor Gaspar. Do directório do BCE, foi também ele que concedeu a única entrevista a um órgão de comunicação social português desde que a troika aterrou em Lisboa, considerando na conversa com o Negócios no final de 2012 que “o objectivo de regresso aos mercados pode ser conseguido”.

 

Mas a principal razão pela qual Portugal perde um aliado no BCE encontra-se no apoio que Asmussen deu a decisões essenciais para baixar as taxas de juro nacionais, com destaque para o programa de compra de dívida pública anunciado há um ano (OMT) por Mario Draghi. Os críticos do BCE dirão que o banco central não fez o suficiente, recusando-se por exemplo a comprar dívida ou outros títulos que baixassem ainda mais os juros e facilitassem a vida na periferia. Mas para uma instituição conservadora que tem de gerir a sensibilidade de 17 países e em particular a pressão alemã, o papel de Asmussen foi valioso.

 

O anúncio da saída para integrar, como ministro-adjunto, o Ministério do Trabalho entregue ao SPD (onde está filiado) foi a principal surpresa na composição do novo governo alemão. Asmussen tem experiência governativa, também como ministro adjunto entre 2008 e 2011, mas sempre na área financeira e monetária. Trabalhou primeiro com Peer Steinbrueck, do SPD (onde está filiado) e depois com Wolfgang Schäuble. Em 2011 trocou o Governo alemão pelo BCE para substituir Jurgen Stark, que se demitiu.

 

Mario Draghi perde um importante aliado, sublinha na sua edição online o Financial Times. A Bloomberg concorda e chama-lhe mesmo “aliado chave alemão”, recordando que o seu mandato, iniciado em Janeiro de 2012, se prologaria até 2019.

 

Asmussen esteve ao lado do presidente do BCE nas decisões mais ousadas, como a criação do programa de compra de dívida pública anunciado há um ano. Esta foi uma ajuda preciosa junto da opinião pública alemã, ainda para mais quando Jens Weidman, presidente do Bundesbank, o banco central alemão, tem sido um crítico vocal de Draghi.

 

Carsten Brezeski, do ING em Bruxelas, sintetiza à Bloomberg, o papel de Asmussen: “Sentirão falta da rede de contactos de Asmussen dentro do Governo alemão. Ele não tinha medo de representar a posição do BCE junto dos media alemães. Actuou como um contrapeso e defendeu de forma convincente a linha de argumentos do BCE”.    

 

Vários órgãos de comunicação social apontam para  Sabine Lautenschläger, vice presidente do Bundesbank para a substituição, o que permitiria aliviar as críticas sobre o BCE de que se transformou numa instituição só de homens. Lautenschläger também se opôs ao programa de compra de dívida no passado. A Bloomberg diz que é possível que outros países lutem pelo lugar, mas sublinha que Schauble já marcou terreno, afirmando que Lautenschläger tem muita experiência em supervisão, uma área em que o BCE precisa de recursos.

 

Asmussen é já o terceiro alemão a demitir-se do BCE durante a crise. Primeiro foi Axel Weber, em Fevereiro de 2011, então presidente do Bundesbank, que anunciou a sua saída para o sector privado decidindo não se candidatar à liderança do BCE – que lhe estava praticamente garantida – e abrindo assim caminho a Mario Draghi. Em Setembro desse ano, Jurgen Stark, o economista-chefe do BCE, demitiu-se após a aprovação de um programa de compra de dívida pública, que entretanto foi descontinuado para dar lugar ao OMT.    

 

O político alemão garantiu que sai apenas por razões pessoais, pois a mulher e os dois filhos continuavam em Berlim, afirmou num comunicado. Draghi, por seu lado, afirmou que sentirá falta dele. Asmussen foi a cara do BCE das negociações europeias durante a crise, tendo desempenhado um papel central nos desenvolvimentos dos últimos dois anos. O Financial Times lembra, por exemplo, que foi ele que deixou claro ao Presidente cipriota que se não aceitasse o resgate europeu, veria o sistema financeiro colapsar.

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