Notícia
Aumentos do salário mínimo e pensões vistos como obra do PCP
Quem recolhe mais louros pelas medidas populares do Governo? Segundo uma sondagem da Aximage, o PCP vence claramente no campeonato do salário mínimo e das pensões. Já no IRS, a conversa é outra.
Depois das eleições autárquicas, a pergunta tornou-se incontornável: como era possível explicar a queda da CDU num contexto de reposição de direitos e rendimentos, tão reclamada pelos comunistas? A explicação que saltou à vista foi a de que haveria um problema de percepção do eleitorado, que não reconheceria devidamente o contributo dos comunistas para as medidas tomadas pelo governo do PS. Isso mesmo chegou a ser admitido pelo líder parlamentar do PCP, em entrevista ao Negócios.
Agora, uma sondagem feita pela Aximage para o Negócios e Correio da Manhã vem dinamitar esta conclusão. Quando questionados sobre o partido que mais contribuiu para o aumento do salário mínimo e das pensões, a resposta dominante dos portugueses é o PCP. E esta opinião mantém-se independentemente do partido em que os inquiridos declaram votar.
Segundo a sondagem, realizada entre 14 e 17 de Outubro, 40% dos portugueses atribuem a responsabilidade pelo aumento do salário mínimo aos comunistas. Como seria de esperar esta convicção é mais profunda entre os eleitores do PCP, onde a percentagem dos que atribuem estas duas medidas populares ao PCP ascende a 67%. Mas entre os eleitores do PSD, a percepção mantém-se com metade dos seus votantes a atribuir a medida aos esforços do PCP. Nos outros segmentos partidários, a percentagem varia entre 30% e 37%, mas o PCP surge sempre como o principal responsável pelo aumento do salário mínimo.
Já o Bloco de Esquerda – que juntamente com o PCP e Os Verdes garante o apoio parlamentar ao governo socialista – apenas os seus eleitores consideram o partido liderado por Catarina Martins como o principal responsável pelo aumento da remuneração mínima legal: 38% apontam o Bloco, mas logo a seguir surge o PCP com 31%. O Bloco é apontado como responsável pela medida por 27% do cojunto de todos os eleitores, muito abaixo do PCP, mas bem acima do PS, com apenas 16%.
O que se passou com o salário mínimo
É uma medida defendida pelo PCP e pelo Bloco de Esquerda com idêntica determinação. Porém, desde o início da legislatura que o PCP exige que o salário passe de imediato para os 600 euros, ao passo que o Bloco acordou com o PS uma valorização gradual ao longo de quatro anos. E os aumentos feitos até agora seguiram à letra o acordo feito com o Bloco, que previa nos primeiros dois anos aumentos de 5% com vista a atingir no final dos quatro anos os 600 euros.
As conclusões são idênticas para o aumento extraordinário das pensões: 40% atribuem a medida ao PCP, ao passo que o Bloco apenas é apontado por 22%, seguido pelo PS com 18%. Também aqui a posição dos comunistas é dominante e, neste caso, até os eleitores do Bloco compram a ideia de que a medida é da autoria da CDU (coligação que reúne PCP e Os Verdes): 42,8% dos eleitores que assumem a intenção de votar no Bloco dizem que a CDU é a principal responsável pelo aumento extraordinário das pensões. Entre os eleitores do PCP a percentagem atinge o valor mais alto, como seria de esperar: 67,4%. Mas os comunistas são vistos como principais autores desta medida por todos os grupos de eleitores, seja qual for o partido em que declaram votar.
O que se passou com as pensões
Uma das medidas acordadas entre os partidos que compõem a chamada geringonça foi o regresso à actualização automática das pensões em função do andamento da economia. Mas tanto o Bloco como o PCP sempre exigiram que houvesse um complemento que reforçasse o curto aumento (em valor e em abrangência) que resulta da fórmula da lei. Foi assim que nasceu o aumento extraordinário de 2017 que garantiu, a partir de Agosto, um acréscimo mínimo de seis euros para as pensões social, rural e mínima do regime geral e de 10 euros para as restantes, até aos 630 euros. O mesmo mecanismo será aplicado em 2018. Foi o PCP que avançou com a ideia geral do aumento mínimo de 10 euros para todos.
Sobretaxa de IRS vai para o PS
O mesmo estudo da Aximage chega a conclusões diferentes quando a pergunta é sobre a eliminação da sobretaxa de IRS. Aí, os portugueses apontam o PS como o principal responsável pela eliminação gradual da sobretaxa de IRS: são 35%, percentagem que desce para 26% em relação ao Bloco e apenas 15% para o PCP.
Um aspecto que se destaca neste estudo de opinião é que o eleitorado do PCP é o que mais louros reclama para o seu partido. Mesmo no caso da sobretaxa de IRS, em que os comunistas surgem em terceiro lugar no ranking de autoria da medida, 57% dos eleitores do PCP está convencido que o seu partido foi o responsável pela medida. Todos os outros eleitores, com excepção dos que dizem votar no Bloco de Esquerda, atribuem a medida sobretudo ao PS.
O que se passou com a sobretaxa de IRS
A eliminação da sobretaxa de IRS foi bandeira dos três partidos da geringonça, mas o PCP e o BE começaram por impor a sua extinção mais acelerada do que o que o PS gostaria. Assim, logo em 2016, poucos meses depois de tomar posse, o Governo baixou substancialmente a sobretaxa e prometeu acabar com o resto para 2017. Chegados a 2017, contudo, a sobretaxa só seria extinta para o segundo escalão de IRS, mantendo-se para os restantes (embora de forma mais atenuada do que no ano anterior). É só em 2018 que o adicional ao IRS desaparece totalmente.
Ficha técnica
Universo: indivíduos inscritos nos cadernos eleitorais em Portugal com telefone fixo no lar ou possuidor de telemóvel.
Amostra: aleatória e estratificada (região, habitat, sexo, idade, escolaridade, actividade e voto legislativo) e representativa do universo e foi extraída de um sub-universo obtido de forma idêntica. A amostra teve 603 entrevistas efectivas: 278 a homens e 325 a mulheres; 57 no Interior Norte Centro, 81 no Litoral Norte, 107 na Área Metropolitana do Porto, 108 no Litoral Centro, 170 na Área Metropolitana de Lisboa e 80 no Sul e Ilhas; 104 em aldeias, 158 em vilas e 341 em cidades. A proporcionalidade pelas variáveis de estratificação é obtida após reequilibragem amostral.
Técnica: Entrevista telefónica por C.A.T.I., tendo o trabalho de campo de corrido nos dias 14 a 17 de Outubro de 2017, com uma taxa de resposta de 82,4%.
Erro probabilístico: Para o total de uma amostra aleatória simples com 603 entrevistas, o desvio padrão máximo de uma proporção é 0,020 (ou seja, uma "margem de erro" - a 95% - de 4,00%).
Responsabilidade do estudo: Aximage Comunicação e Imagem Lda., sob a direcção técnica de Jorge de Sá e de João Queiroz.