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Aguiar-Branco apela a mudanças regimentais e pede uma AR que não seja "espetacularizada"
"O trabalho parlamentar não tem de ser espetacularizado. Nem tem de ser transformado em programa televisivo", afirmou o novo presidente da Assembleia da República no seu primeiro discurso.
Após a sua eleição, José Pedro Aguiar-Branco, o novo presidente da Assembleia da República, lançou o repto para que os deputados repensem o atual regimento do Parlamento em relação à eleição da presidência da AR, criticou a sobreposição do debate de cenários políticos aos debates das propostas dos partidos e pediu o fim do que diz ser um trabalho político "espetacularizado".
"Se alguma coisa o dia de ontem nos ensinou é que não devemos desistir da democracia. Eu não desisto. Por isso mesmo vou desafiar todos os grupos parlamentares a repensar o regimento nomeadamente no que diz respeito às regras de eleição desta mesa para que o que aconteceu ontem não se volte a repetir", defendeu.
O sucessor de Augusto Santos Silva centrou grande parte do seu discurso inaugural na crítica ao que diz ser um trabalho político "espetacularizado" nas televisões. "Ouvimos falar mais de política do que das políticas. Ouvimos mais análises e comentários sobre cenários e hipóteses do que sobre as políticas que aqui se discutem, que aqui se desenham e que aqui se constroem. Esta casa não é a casa cenários e dos comentários. É a casa das políticas que, no concreto, afetam os portugueses", referiu.
Para inverter esta tendência, pede também que haja uma maior abertura do Parlamento à sociedade. "Mostrar o que aqui é feito, como é feito e quando é feito, é mais do que uma opção,é um dever. É uma responsabilidade que começa com os deputados, mas não termina nesta sala. É uma responsabilidade que desafia todos os que aqui prestam serviço".
Para encerrar o discurso lembrou o portuense Miguel Veiga, fundador do PSD e deputado da Assembleia constituinte: "Termino tomando de empréstimo as palavras de um grande advogado do Porto, homem da cultura, pensador livre e amante da liberdade, tantas e tantas vezes por si manifestada na ação política, Miguel Veiga. A democracia é de uma magnífica fragilidade. Cuidemos dela com a devoção que a sua magnificência e fragilidade exigem."