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A conferência de imprensa de Gaspar por detrás das câmaras

Directos, microfones, jornalistas. Funcionários do Ministério, estantes, quadros. Não há um plano B para as contas públicas do país, se o Tribunal Constitucional chumbar algumas medidas do Orçamento do Estado. Mas há um lado B da conferência de imprensa de Vítor Gaspar. É só ir ao salão nobre do Ministério das Finanças.

Bruno Simão
15 de Março de 2013 às 18:38
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“Não sei responder a essa pergunta”. Vítor Gaspar apaga a luz vermelha do microfone à sua frente. Levanta-se. Há um voo para apanhar.

 

“E é com este ‘não sei’ do ministro que termina esta conferência de imprensa”. A jornalista Judith Menezes e Sousa despede-se dos ouvintes da TSF após horas de transmissão. Foi de auscultadores nos ouvidos que enfrentou a conferência de imprensa no salão nobre do Ministério das Finanças, no n.º 1 da Avenida Infante D. Henrique, mesmo ao lado da Praça do Comércio. Sala ampla, paredes azuis, quadros, estantes envidraçadas com livros a compô-las. Algum frio.

 

A alguns metros, na mesma sala, Anselmo Crespo da SIC Notícias levanta-se da sua cadeira, vira-se para a câmara, continua entre as cadeiras pretas, e termina o directo.

 

O ecrã que, durante a conferência, passou o Power Point de Gaspar – e não o Excel – já só apresenta um ambiente de trabalho. Por pouco tempo. Já se desligou.

 

Para trás, ficaram os ouvidos dos jornalistas, os olhos das câmaras e a atenção dos funcionários. Tudo para ouvir Vítor Gaspar. O microfone à sua frente esteve quase sempre com a luz vermelha ligada. A palavra, ali no salão nobre, é dele.

 

Formal e informal mas sempre nobre

 

Gaspar fala e, na maior parte do tempo, olha para a folha com o discurso – distribuído, depois, quando terminou a primeira intervenção, antes das perguntas dos jornalistas. Está quase sempre a ler o texto. Olha para os jornalistas, de quando em vez, para dizer algumas palavras, muitas delas no fim das frases. “O desemprego é um flagelo pessoal”. Aqui, já está mais tempo a fitar a plateia.

 

Duas plateias, na verdade. Do lado direito do ministro, jornalistas. Uns com auscultadores, outros com canetas, telemóveis, quase todos com roupa mais informal. Escrevem-se notícias para os sites. Os funcionários do Ministério das Finanças encontram-se à esquerda de Gaspar no salão nobre. É habitual virem às conferências. A formalidade toma conta do vestuário.

 

Na sala, presentes também milhares de pessoas. Os olhos são as câmaras de filmar. Oito estão em cima do estrado que se encontra atrás da audiência. Há holofotes. A luz branca projectada é intensa. No tecto, também há lâmpadas, nos vários quadrados de vidro. Nestas, a luz já não é tão forte. Algumas, até, ameaçam fundir-se.

 

A alcatifa e o trabalho facilitado

 

“Não se trata de mais tempo nem de mais dinheiro”, responde Gaspar a uma pergunta de um jornalista. Ouvem-se teclas de computador. Para actualizar as notícias do online, pensa-se. “Trata-se sim de alargar o prazo para a consolidação”, alerta o ministro, por detrás da mesa com toalhas avermelhadas até ao chão.

 

Ao pé das toalhas, fotógrafos. Ajoelhados, sentados, tentam apanhar a melhor pose de Gaspar. Há uma alcatifa, que torna menos penosa a função. As objectivas também olham para os cinco secretários de Estado ao lado do ministro.

 

As máquinas podiam ter apanhado o momento em que Hélder Rosalino se estava a rir largamente e chamou Manuel Luís Rodrigues, talvez para contar a razão da gargalhada. Do que se tratava, não se sabe. O interlocutor também foi tímido na resposta. Apenas um muito ligeiro sorriso. O resto do tempo, o mais recente membro do Governo entre aquele grupo tira notas.

 

“A sétima avaliação é o início do fim. Foi a mais difícil e demorada”, continua Vítor Gaspar. Lento é, igualmente, o registo com que fala. Uma das assessoras de imprensa do Ministério das Finanças vai distribuindo o microfone para os jornalistas que, quando chegaram ao salão, se inscreveram para fazer perguntas. Ao mesmo tempo, as rádios estão em debate, em directo. Ali, no salão. Com um volume baixo, para não incomodar.

 

“Senhor, ministro. Senhor ministro,... Aqui, deste lado, deste lado”. Gaspar procura a jornalista que tem a palavra. Está do lado do salão nobre onde estão os funcionários das Finanças, mas o microfone nas suas mãos facilita a identificação.

 

Da bancada governamental, a resposta de sempre. “Muito obrigado pelas suas perguntas”. Por vezes, Gaspar passa a palavra aos secretários de Estado. Desta vez, foi para Carlos Moedas.

 

Com o microfone de Gaspar sem luz vermelha, o secretário de Estado Adjunto do primeiro-ministro liga o seu. Não tem muito para dizer e passa novamente a palavra. Devolve a luz do microfone. Da gravata verde, passa-se para a gravata vermelha. Do casaco azul para o casaco preto. De Moedas para Gaspar. Porque a palavra, hoje, é das Finanças.

 

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