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BCE teme um choque "repentino" na dívida europeia
O BCE receia que a subida dos juros nos EUA contagie a Zona Euro e provoque um choque “repentino” nas condições actuais do mercado da dívida.
O mar está calmo, mas não significa que uma tempestade não possa chegar de um dia para o outro. A mensagem está expressa no Relatório de Estabilidade Financeira do Banco Central Europeu, publicado esta manhã, 24 de Maio. A instituição liderada por Mario Draghi pretende avisar que não se pode excluir a possibilidade de uma subida abrupta de juros nos países da moeda única.
O BCE aponta para riscos de um sismo no mercado de dívida. "As yields [juros] das obrigações da Zona Euro podem aumentar repentinamente, sem que haja uma melhoria simultânea das perspectivas de crescimento", pode ler-se no documento. O que provocaria este agravamento? A onda poderá vir do outro lado do Atlântico. "Este cenário pode materializar-se através do contágio de "yields" mais elevadas noutras economias avançadas, em particular nos Estados Unidos."
O BCE antevê que, à medida que a política monetária da Reserva Federal dos EUA evolua, as yields de activos de prazos mais longos deverão subir. Tendo em conta o elevado nível de integração entre o mercado norte-americano e europeu, juros mais elevados nos EUA poderão contagiar as obrigações europeias. A Fed já subiu duas vezes os juros e poderá fazê-lo outras duas vezes este ano, se a economia norte-americana continuar a seguir uma trajectória de recuperação.
Mas esse não é o único risco. O choque nos mercados pode também ser provocado pela incerteza política, que o BCE ainda classifica como elevada; e por pressões inflacionistas, se estas levarem os investidores a reavaliarem as perspectivas de política monetária.
No mesmo documento, o banco central reconhece que os juros dos países da Zona Euro têm caído, mas isso "mascara a fragilidade das finanças públicas de vários países".
O programa de compra de dívida do BCE tem contribuído para um alívio dos juros pagos por Portugal. Embora a dimensão desse impacto positivo não seja consensual, ela está avaliada entre 1 a 2 pontos percentuais. Contudo, nos últimos meses, o BCE começou a diminuir os montantes dessas compras (curiosamente, os juros portugueses têm descido recentemente) e, para o futuro, prevêem-se mais recuos, à medida que se confirme a solidez da retoma europeia e uma recuperação da inflação. Este movimento terá, no entanto, de ser bastante gradual, para que não se traduza num agravamento substancial das condições de acesso a financiamento, principalmente por parte de países em situação mais débil, como é o caso de Portugal.