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Quando uma bazuca orçamental de 8 biliões não é suficiente
Os países mais ricos adotaram medidas fortes para amortecer o impacto. Muitas economias da África e América Latina não conseguiram destinar nem alguns milhares de milhões de dólares em ajuda orçamental,
Mesmo com mais de 8 biliões de dólares injetados por governos para combater a pandemia do coronavírus, uma desigualdade ainda maior entre países ricos e pobres ameaça agravar a crise económica global.
Os países mais ricos adotaram medidas fortes para amortecer o impacto. Alemanha e Itália, por exemplo, alocaram mais de 30% do PIB para gastos diretos, garantias bancárias e injeções de empréstimos e capital, com um total combinado de 1,84 biliões em ajuda, segundo dados do Fundo Monetário Internacional.
No entanto, analistas do FMI dizem que estão mais preocupados com países que mal conseguiram oferecer apoio: muitas economias da África e América Latina não conseguiram destinar nem alguns milhares de milhões de dólares em ajuda orçamental, segundo dados do FMI e relatórios de mais de 60 países analisados pela Bloomberg News.
"Os governos têm adotado medidas de apoio orçamental em todo o mundo, mas nem todos os pacotes são iguais", disse Chua Hak Bin, economista sénior da Maybank Kim Eng Research, em Singapura. Enquanto "bazucas orçamentais são a norma em economias mais avançadas", governos de mercados emergentes "não têm esse tipo de munição e espaço de manobra orçamenal. Os seus pacotes são mais pistolas de água do que bazucas".
Gita Gopinath, economista-chefe do FMI, manifestou repetidamente preocupação de que países em desenvolvimento tenham menos margem para políticas e infraestrutura menos sofisticada para lidar com os surtos do vírus.
Grande parte da ajuda orçamental global de mais de 8 biliões de dólares consiste em garantias bancárias em países desenvolvidos - França e Espanha destinaram mais de 300 e 100 mil milhões de dólares, respectivamente, para esse tipo de apoio, por exemplo. Os gastos totais para o alívio do impacto do vírus nos EUA ultrapassam 2,3 biliões de dólares.
A África do Sul, o único membro do G-20 do continente, conseguiu elevar o seu pacote para cerca de 26 mil milhões de dólares, mas muitos dos seus vizinhos enfrentam mais restrições.
Monitorizar o suporte orçamental em todo o mundo não é um exercício simples, o que dificulta comparações globais. Alguns países como a Rússia ainda não publicaram números oficiais, enquanto outros como o México fornecem poucos detalhes para uma estimativa sobre um pacote de apoio.
Para a recolha de dados da Bloomberg, nenhum financiamento de bancos centrais foi considerado. O apoio orçamental geralmente enquadra-se em três categorias: ajuda direta à resposta médica ao vírus; apoio às famílias, incluindo benefícios em dinheiro; e fundos para empresas, como incentivos fiscais, apoio a empréstimos, garantias bancárias e subsídios salariais. Em muitos casos, os governos realocaram gastos que já estavam orçamentados, além de adicionar novas medidas.
Veja alguns destaques:
Ásia-Pacífico
Até agora o estímulo da China na crise foi "notavelmente contido", com medidas orçamentais no valor de cerca de 3 biliões de yuans (424 mil milhões de dólares), ou 3% do PIB, segundo cálculos de Chang Shu, da Bloomberg Economics. O pacote inclui pagamentos mais rápidos de seguro-desemprego, prestações de impostos mais baixas para pequenas empresas e investimentos em infraestrutura.
No resto da Ásia, os governos dão prioridade a estímulos de curto prazo em relação às típicas preocupações de défice no longo prazo. O apoio orçamental do Japão corresponde a mais de 20% do PIB, enquanto Singapura, Hong Kong e Austrália destinaram gastos de 10% ou mais do PIB.
América Latina
Na América Latina, a resposta tem sido irregular. Autoridades argentinas estão mais focadas na negociação do alívio da dívida a longo prazo, e o governo brasileiro está em desacordo sobre a ameaça do vírus. No México, até aliados do presidente Andrés Manuel López Obrador dizem que tem sido muito contido na proposta de ajuda orçamental.
Europa
A Alemanha avançou com apoios acima de 1 bilião de dólares, cerca de metade na forma de garantias bancárias. O Reino Unido tem medidas avaliadas em 500 mil milhões de dólares, com apoios para as empresas manterem os postos de trabalho e para vários grupos mais vulneráveis, como os trabalhadores por conta própria.
A Rússia ainda não providenciou um valor para os programas que está a implementar, mas os analistas do ING calculam que os benefícios fiscais, as garantias de estado e outras despesas possam corresponder a 3 biliões de rubls (38,6 mil milhões de dólares).