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Portugal "amigo especial" da China é um "mito que não faz sentido", diz Santos Silva ao FT
O ministro dos Negócios Estrangeiros rejeitou dependência do investimento chinês e apelou a que empresas norte-americanas e europeias também apresentem propostas para o terminal de Sines.
"Foi criado um mito de que Portugal é uma espécie de amigo especial da China na Europa. O que não faz qualquer sentido". A declaração é de Augusto Santos Silva ao Financial Times, num artigo em que o jornal britânico destaca que Portugal recusa a ideia de ter um problema de dependência do investimento chinês.
A notícia do Financial Times surge a propósito do concurso público para a construção e exploração do terminal Vasco da Gama, em Sines, que até agora tem atraído o interesse apenas de companhias chinesas.
O jornal britânico adianta que a concessão deste ativo estratégico - Sines é o porto europeu mais próximo do Canal do Panamá – vai colocar as relações entre Lisboa e Pequim num novo escrutínio.
Com um investimento estimado de 642 milhões de euros, este novo terminal pode ser relevante no projeto internacional de infraestruturas lançado pela China 'Uma Faixa, Uma Rota', do qual Portugal é dos poucos países europeus que faz parte.
O acordo assinado entre Lisboa e Pequim em 2018 contempla o porto de Sines, onde os chineses já têm investimentos. Segundo o FT, são pelo menos duas as companhias chinesas que estão interessadas em concorrer à nova concessão: a Cosco e a Shanghai International Port Group.
O Governo português está também a convidar empresas europeias e norte-americanas a apresentar propostas.
"A qualidade das ofertas será muito melhor" se empresas norte-americanas e europeias também entrarem na corrida por Sines, disse o ministro português ao FT, acrescentando que esta concessão que terá um prazo de 50 anos "representa uma das grandes oportunidades para a Europa reduzir a dependência do gás russo".
O critério de adjudicação será o da melhor qualidade-preço, a adjudicação deverá ocorrer no último trimestre deste ano e a obra terá início em 2021, com uma duração aproximada de três anos. O prazo da concessão é de 50 anos.
Santos Silva refutou a ideia de que Portugal seja o principal recipiente do investimento chinês, adiantando que este está antes concentrado nos maiores países europeus, como o Reino Unido, Alemanha e França.
Ainda assim, assinalou que Portugal pretende continuar a captar investimento chinês, reforçar o comércio entre os dois países e atrair mais turistas. "É tempo dos investidores chineses instalarem empresas industriais" em Portugal, "em particular no setor automóvel e na mobilidade elétrica", disse Santos Silva.