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Nova Rota da Seda: como a "borboleta" chinesa espalha influência global

A ambição de Xi Jinping e o proteccionismo de Trump levaram à retoma do mega plano de investimento em infra-estruturas, alargado também à Europa e África, encarado como uma estrada para a ambição geopolítica da China.

Reuters
15 de Maio de 2017 às 13:53
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Reavivar a mítica Rota da Seda por terra e por mar, para retomar o corredor económico que une o Ocidente ao Oriente. Foi durante um périplo por Turquemenistão, Cazaquistão, Uzbequistão e Quirguistão, realizado em Setembro de 2013, que o presidente chinês Xi Jinping começou a gizar este ambicioso plano internacional, que ganhou um novo impulso com as políticas proteccionistas deDonaldTrump e que continua a franzir muitos sobrolhos da política ocidental.

 

Focada em países asiáticos, europeus e africanos – embora as autoridades chinesas já tenham clarificado que não pretendem excluir o continente americano –, a iniciativa "Faixa Económica da Rota da Seda e da Rota Marítima da Seda para o Século XXI", conhecida na versão simplificada como "Uma Faixa, uma Rota" ("Belt and Road" na versão inglesa) é um gigante plano de infra-estruturas, que inclui ligações rodoviárias, ferroviárias e portuárias. Nas contas de Pequim, pode abranger 65 países e 4.400 milhões de pessoas, cerca de 60% da população mundial.

 

Ao Fundo Rota da Seda, constituído logo em 2014 com 35,3 mil milhões de euros, a China adiciona agora 13 mil milhões de euros, além de providenciar ajuda, nos próximos três anos, no valor de 8.000 milhões de euros, a países em desenvolvimento e a organizações internacionais que participem na iniciativa. E dois bancos chineses vão também oferecer empréstimos especiais até 50.000 milhões de euros para apoiar a iniciativa. O anúncio foi feito na abertura de um fórum de dois dias em Pequim, que termina esta segunda-feira, 15 de Maio, e que conta com a presença de líderes de 29 países e responsáveis das Nações Unidas, FMI e Banco Mundial.

 

Países vizinhos, como o Japão ou a Índia resolveram colocar-se à margem deste fórum, por suspeitarem que esta agenda de desenvolvimento chinesa apenas mascara a exploração de activos estratégicos e de ambições geopolíticas. Evidenciando as clássicas preocupações com questões de direitos humanos e ambientais, mas também por dúvidas sobre o ensejo de exportação do modelo de desenvolvimento chinês, assinala a Reuters, também os Estados Unidos, Canadá, Reino Unido e Alemanha decidiram não enviar representantes de topo. Por outro lado, aliados como Erdogan e Putin fizeram questão de marcar presença, com o presidente russo, que advertiu para o aumento do proteccionismo, a alargar a operação de charme com um recital de piano na capital chinesa.

 

 

A escutar Xi Jinping, no poder desde 2012, aludir a uma "grande família em coexistência harmoniosa", esteve, em representação do Governo português, o secretário de Estado da Internacionalização, Jorge Costa Oliveira. Portugal já afirmou até a sua intenção de participar na iniciativa, com a inclusão do porto alentejano de Sines. Em Maio de 2016, durante uma visita ao país, o conselheiro de política externa do Executivo chinês, Lv Fengding, destacou precisamente que "Portugal é um dos terminais da rota marítima da seda e o porto de Sines é importante para a ligação da China com a Europa e a África".

 

Entre os diplomatas ocidentais e os analistas internacionais não restam dúvidas de que a nova Rota da Seda é uma tentativa de a China alargar e promover a sua preponderância a nível global, procurando criar uma esfera de influência geopolítica na Ásia, onde a nível económico e cultural chegou a exercer uma grande influência sobre as nações vizinhas, mas também em África. A Euronews, que a propósito deste fórum aludiu às reservas da Comissão Europeia, pela voz do vice-presidente da Comissão Europeia, Jyrki Katainen, relativas à transparência de acesso das empresas estrangeiras ao mercado chinês, relata os receios de "uma tentativa de ‘colonização’ por parte da segunda maior potência económica mundial".

 

Aquém e além-fronteiras

 

O relançamento deste projecto, quatro anos depois de ser lançado, está a ser encarado como uma resposta alternativa às políticas de proteccionismo económico que constavam do programa eleitoral de Donald Trump, como a revisão de múltiplos acordos comerciais, e que já começaram a ser implementadas desde que o novo presidente americano assumiu o cargo e adoptou a "América Primeiro" como slogan. Depois de em Davos ter advertido que o proteccionismo é como "trancar-se num quarto escuro", na abertura deste encontro em Pequim, numa aparente resposta ao líder da Casa Branca, Xi Jinping insistiu que os países devem "manter e desenvolver uma economia mundial aberta" com o argumento de que "o isolamento leva ao atraso". "A abertura é como a luta de uma borboleta para sair do seu casulo. É acompanhada pelo sofrimento, mas essa dor cria uma nova vida", ilustrou.

 

Este mega plano serve também as aspirações políticas do líder máximo do gigante asiático, que nos últimos cinco anos conseguiu acumular mais poder interno do que os seus antecessores. E que em Outono enfrentará o congresso do Partido Comunista Chinês (PCC), que irá promover uma nova geração de líderes, substituindo vários membros da cúpula do poder. Joseph Cheng, reformado da City University (Hong Kong), frisou à Associated Press que "Xi é agora visto como um líder global, com influência e respeito a nível internacional, e isso definitivamente melhora a sua imagem internamente". A imprensa oficial, que tem acompanhado exaustivamente este fórum, está até a difundir um vídeo em inglês (com um título que será uma tradução mal conseguida), cantado por crianças de vários países abrangidos pela nova Rota da Seda.

 

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