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Nova encíclica papal critica reacendimento de populismos, racismo e discursos de ódio

"A história dá sinais de regressão. Reacendem-se conflitos anacrónicos que se consideravam superados, ressurgem nacionalismos fechados, exacerbados, ressentidos e agressivos", escreve Francisco no texto divulgado pelo Vaticano e publicado pela agência Ecclesia.

6º Papa Francisco, Vaticano
Carlos Barroso / Correio da Manhã
04 de Outubro de 2020 às 13:09
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O Papa Francisco (na foto) criticou na sua nova encíclica 'Fratelli Tutti' (Todos Irmãos) o reacendimento de populismos, racismo e discursos de ódio, lamentando a perda de "sentido social" e o retrocesso histórico que o mundo está a viver.

"A história dá sinais de regressão. Reacendem-se conflitos anacrónicos que se consideravam superados, ressurgem nacionalismos fechados, exacerbados, ressentidos e agressivos", escreve Francisco no texto divulgado pelo Vaticano e publicado pela agência Ecclesia.

Naquele que é o primeiro documento do género em cinco anos, o Papa Francisco identifica o surgimento de "novas formas de egoísmo e de perda do sentido social mascaradas por uma suposta defesa dos interesses nacionais".

A encíclica associa os discursos de ódio a regimes políticos populistas e a "abordagens económico-liberais", que defendem a necessidade de "evitar a todo o custo a chegada de pessoas migrantes".

Sobre o racismo, Francisco diz ser um "vírus que muda facilmente" e "está sempre à espreita", em "formas de nacionalismo fechado e violento, atitudes xenófobas, desprezo e até maus-tratos".

Essas expressões devem envergonhar a todos, porque põem a descoberto o quão pouco a sociedade evoluiu de facto e que esses avanços não estão garantidos, considera.

Por isso, exorta os países a abandonarem o "desejo de domínio sobre os outros" e a adotarem uma política "ao serviço do verdadeiro bem comum", afirmando que os responsáveis políticos se devem preocupar mais em "encontrar uma solução eficaz" para a exclusão social e económica do que com as sondagens.

O Papa defende ainda que o "desprezo pelos vulneráveis" pode esconder-se em formas populistas que, "demagogicamente, se servem deles para os seus fins", ou em formas liberais "ao serviço dos interesses económicos dos poderosos", e alerta para a diferença entre populismo e popular.

Francisco considera essencial pensar a participação social, política e económica, de forma a incluírem movimentos populares e lamenta sobretudo a "intolerância e o desprezo perante as culturas populares indígenas".

Referindo-se especificamente às plataformas digitais e redes sociais, mostra-se preocupado com as manifestações de ódio e de destruição aí propagadas, e com o visível aumento de "formas insólitas de agressividade, com insultos, impropérios, difamação, afrontas verbais" até destruir a imagem do outro.

O texto realça que a conexão digital pode "isolar do mundo", alimenta a divulgação e discussões em torno de 'fake news' e aniquila a "capacidade de respeitar o ponto de vista do outro", um pressuposto do "diálogo social autêntico".

A nova encíclica papal, intitulada 'Fratelli Tutti', que se dedica à fraternidade e amizade social, foi hoje apresentada pelo Papa Francisco no Vaticano, após a oração do Ângelus.

'Fratelli tutti' é a terceira encíclica do pontificado do Papa Francisco, após 'Lumen Fidei'(A luz da fé), em 2013, e 'Laudato si', em 2015, sobre a ecologia integral.

No sábado, Francisco assinou junto ao túmulo de Francisco de Assis a nova encíclica, o 299.º documento do género na história da Igreja Católica.

O antecessor de Francisco publicou três encíclicas, no seu pontificado (2005-2013); antes de Bento XVI, João Paulo II assinou 14 encíclicas, entre 1979 e 2003.

Segundo a agência Ecclesia, a encíclica -- tradicionalmente assinada no Vaticano -- é o grau máximo das cartas que um Papa escreve e a expressão 'Fratelli Tutti' remete para os escritos de São Francisco de Assis, o religioso que inspirou o líder dos católicos na escolha do seu nome.
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