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Marcelo alerta que a situação internacional é extremamente complexa e imprevisível

"A situação internacional é extremamente complexa, porque ninguém sabe qual o epílogo do que estamos a viver, ninguém sabe quais os custos desse epílogo e depois do epílogo, e ninguém sabe qual vai ser a configuração definitiva na correlação entre os poderes maiores" do mundo, declarou o chefe de Estado quando traçou o panorama da atual conjuntura global.

Rodrigo Antunes / Lusa
05 de Junho de 2022 às 22:20
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O Presidente da República alertou hoje para a extrema complexidade e imprevisibilidade da situação internacional e considerou que a guerra na Ucrânia fez ultrapassar os limites da razão, gerou uma enorme emoção e obriga a "equilíbrios enormes".

Marcelo Rebelo de Sousa falava no encerramento de um debate no âmbito da Festa do Livro em Belém, que foi moderado por Pedro Mexia e que contou a participação do ex-deputado do Bloco de Esquerda José Manuel Pureza e de Diana Soller, especialista em política internacional.

"A situação internacional é extremamente complexa, porque ninguém sabe qual o epílogo do que estamos a viver, ninguém sabe quais os custos desse epílogo e depois do epílogo, e ninguém sabe qual vai ser a configuração definitiva na correlação entre os poderes maiores" do mundo, declarou o chefe de Estado quando traçou o panorama da atual conjuntura global.

Numa alusão indireta aos Estados Unidos e às próximas eleições presidenciais neste país, Marcelo Rebelo de Sousa referiu que ninguém sabe qual vai ser a evolução interna norte-americana - e isso "não é indiferente".

"A posição perante os outros poderes [no tempo de Donald Trump] era substancialmente diferente da posição atual. Há aqui um problema de correlação de poderes. A Europa é o teatro onde se projeta todo o conjunto de circunstâncias atuais, mas a Europa sabe humildemente que há realidades que a ultrapassam, realidades bélicas", completou.

Já sobre a guerra na Ucrânia, o Presidente da República transmitiu uma preocupação de fundo. "A emoção esteve sempre na política, só que era disciplinada substancial ou aparentemente pela razão. Agora, extravasou dos limites da razão e o máximo que a razão pode fazer é tentar condicionar e travar os excessos da emoção", assinalou o chefe de Estado.

Para Marcelo Rebelo de Sousa, relativamente ao caso da Ucrânia, "há questões a serem tratadas pela via da racionalidade, mas outras de forma muito emocional".

"Essa emoção está presente. Dir-se-á que com o correr do tempo vai aumentando a razão e diminuindo a razão, mas isso não é assim tão linear. Não é linear perante situações dramáticas, complexas e visíveis de uma forma brutal", justificou.

Ou seja, "há uma emoção muito grande e essa emoção obriga a equilíbrios enormes", reforçou.

Em relação à problemática interna da União Europeia, Marcelo Rebelo de Sousa disse que vive já "há muito tempo numa encruzilhada", quando sistemas políticos nacionais de alguns Estados-membros entraram "em rutura".

"Basta olhar para partidos estruturantes de sistemas partidários e que já não existem ou se fragmentam, como a democracia cristã italiana ou o gaulismo francês", exemplificou o chefe de Estado.

"Essa crise nos sistemas políticos não é própria da Europa. Existe no sistema norte-americano, como tivemos a oportunidade de assistir ainda não há muito tempo. É um problema complexo, diferente caso a caso, mas com uma amplitude apreciável. O que há de novo agora é que há um teste mais intenso", advogou.

Esse teste mais intenso, segundo Marcelo Rebelo de Sousa, colocou em questão tudo aquilo que se encontrava em debate e em tentativa de equilíbrio -- aqui, numa alusão à pandemia da covid-19, que é global, e também à guerra na Ucrânia.

"A União Europeia teve inicialmente uma grande dificuldade para reagir ao desafio pandémico, mas, depois, readaptou-se e fez um esforço de ajustamento. Ora, esse esforço de ajustamento permanente, com altos e baixos, é o processo europeu", disse.

No entanto, de acordo com o chefe de Estado, "soma-se isso agora a guerra na Ucrânia, com as consequências de crises económicas, financeiras e sociais em cima de outras crises muito recentes".

"Não diria que é uma tempestade perfeita, mas é quase perfeita", concluiu.

 
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