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Londres saúda fim do regime, ONU pede “cautela”. As reações à queda de Assad
As reações à queda do regime liderado por Bashar al-Assad sucedem-se. Os EUA dizem que estão a acompanhar a situação.
O Governo britânico saudou este domingo a queda do regime de Bashar al-Assad e apelou a uma "resolução política" na Síria, enquanto o enviado da ONU para Damasco pediu "cautela num momento decisivo" para o país.
Em Londres, a vice-primeira-ministra e também ministra da Coesão Territorial, Angela Rainer, num programa no canal televisivo Sky News, saudou, ainda que com reticências, o colapso do regime de Bashar al-Assad às mãos dos insurgentes liderados pela Organização de Libertação do Levante (OLL ou Hayat Tahrir al Sham ou HTS, em árabe), que tomaram Damasco após 12 dias de ofensiva quase sem resistência.
"A situação parece muito grave e se o regime caiu, saúdo a notícia, mas o que precisamos é de ver uma resolução política alinhada com as resoluções da ONU", disse Rayner.
De acordo com a política trabalhista, é necessário "ver protegidos os interesses dos civis e das infraestruturas, pois há muitas pessoas que perderam a vida e é preciso estabilidade na região".
A vice-primeira-ministra referiu que o ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, David Lamy, está a trabalhar em conjunto e lembrou que o chefe da diplomacia "foi muito claro sobre a saída de civis britânicos da Síria".
"Colocamos em prática um plano para garantir que as pessoas fossem retiradas mais cedo do que aconteceu neste fim de semana e continuamos a apoiar os nossos cidadãos britânicos", disse ele.
Rayner também observou que Bashar al-Assad, que fugiu de Damasco, desconhecendo-se o paradeiro, "não foi exatamente bom para os sírios" e que "a ditadura e o terrorismo criam problemas para os sírios, que já sofreram muito, e também desestabilizam a região".
"É por isso que temos que ter uma solução política onde o Governo atue a favor dos interesses dos sírios", acrescentou.
O Presidente norte-americano está também a seguir "os acontecimentos" na Síria e juntamente com a equipa "está em contacto permanente" com entidades regionais dos Estados Unidos, indicou o porta-voz do Conselho de Segurança Sean Savett, nas redes sociais.
Enviado da ONU pede cautela
Também o enviado das Nações Unidas para a Síria, Geir Pedersen, apelou a "esperanças cautelosas" após a tomada de Damasco por rebeldes islâmicos, que considerou tratar-se de um "momento decisivo" que pôs fim a meio século de poder do clã Assad.
Num comunicado, Pedersen indicou que os quase 14 anos de guerra civil na Síria foram "um capítulo negro (que) deixou cicatrizes".
"Hoje, olhamos para o futuro com esperanças cautelosas de abertura... paz, reconciliação, dignidade e inclusão para todos os sírios", salientou.
Quem também pediu aos seus cidadãos que abandonem a Síria foram a Suécia, Dinamarca e Polónia, "tendo tendo em conta que a situação é "grave" e está a mudar muito rapidamente, o que pode implicar o encerramento de aeroportos e o cancelamento de voos.
"O Ministério dos Negócios Estrangeiros insta os suecos na Síria a deixarem o país utilizando os meios de transporte e rotas de viagem disponíveis, se for possível fazê-lo sem arriscar a segurança pessoal", disse a chefe da diplomacia, Maria Malmer Stenergard, em declarações à agência TT.
Stenegard acrescentou que a Suécia tem muito poucas possibilidades de ajudar os cidadãos que, apesar das advertências em sentido contrário, viajam para a Síria.
Também na vizinha Dinamarca, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Lars Lokke Rasmussen, afirmou que Copenhaga está a acompanhar de perto os acontecimentos na Síria.
"A situação na Síria vai ter um grande impacto em toda a situação no Médio Oriente. Neste momento os acontecimentos no terreno são muito dinâmicos e o Governo está a acompanhar de perto a situação", afirmou em declarações citadas pela agência dinamarquesa Ritzau.
Na Polónia, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Pawel Wronski, garantiu à agência PAP que, neste momento, Varsóvia não tem informações sobre cidadãos polacos que possam necessitar de ser retirados da Síria.
"A nossa representação na Síria [deslocada para Beirute] e o Ministério dos Negócios Estrangeiros estão a acompanhar a situação, que é muito dinâmica. E devido à incerteza da situação, a nossa representação emitiu um alerta", declarou Wronski.
O porta-voz indicou que, uma vez que o regime sírio parece estar a desintegrar-se por si só, a situação poderá, "paradoxalmente", acalmar-se a curto prazo.
Por fim, e apesar dos apelos dos rebeldes para que não se destruam nem se ataquem instituições do Estado e edifícios diplomáticos, a televisão estatal iraniana adiantou hoje que a embaixada do Irão em Damasco foi saqueada, transmitindo imagens filmadas na capital síria pelo canal de televisão saudita al-Arabiya.
"Pessoas desconhecidas atacaram a embaixada iraniana, como podem ver nestas imagens difundidas por vários canais estrangeiros", afirmou a televisão estatal iraniana, após a entrada em Damasco da coligação rebelde que anunciou a queda de al-Assad, de quem o Irão tem sido um aliado inabalável.