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FMI coloca Portugal em desvantagem na recuperação económica

Os fatores de recuperação da crise causada pela pandemia, destacados pelo FMI, colocam os países com uma economia dependente do turismo e de fraca capacidade de resposta orçamental em piores lençóis. Portugal enquadra-se.

FMI disse que a pandemia pode ser uma “ameaça muito séria” para a estabilidade do sistema financeiro.
O FMI prevê um impacto e consequências superiores da pandemia nos países mais pobres Yuri Gripas/Reuters
31 de Março de 2021 às 16:09
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Perante uma crise que levou o produto mundial a cair "o triplo em metade do tempo" quando comparada com a última crise financeira, o FMI prevê que a produção mundial seja em 2024 apenas 3% abaixo do projetado antes da pandemia, mas com grandes divergências face ao percurso inicialmente traçado para os países. Ao que o Negócios conseguiu apurar, os critérios decisivos parecem colocar Portugal numa situação de desvantagem.

A pandemia pode ter afetado diretamente e sobretudo os setores da economia que dependem de algum contacto ou proximidade física, como é o caso da restauração, dos transportes ou do retalho. Mas o efeito de transbordamento (spillover efect, em inglês) estendeu o seu impacto a praticamente todos os setores através do desequilíbrio entre a oferta e a procura, que colapsaram simultaneamente.

Para o FMI, e segundo o relatório divulgado esta quarta-feira sobre o impacto da pandemia, um dos principais e mais eficazes meios de resposta são as políticas e apoios com impacto direto no PIB introduzidas, onde as economias mais avançadas têm maior margem de manobra. Ainda assim, Portugal apresenta no conjunto dos estados-membros um dos esforços mais reduzidos em percentagem do PIB.

Numa segunda linha, o FMI acredita que "a extensão da recuperação vai depender da persistência dos danos económicos, ou "cicatrizes", no médio prazo", o que deve variar consoante a estrutura económica de cada país e o peso dos seus setores de contacto. No caso de Portugal (não referido diretamente no relatório), onde o turismo foi responsável por quase 20% do valor das exportações em 2020 e perante a incerteza que ainda se mantém em relação à pandemia e ao processo de vacinação, esta recuperação deve ser ainda mais demorada.

Por outro lado, o país tem conseguido adaptar-se bem ao "novo normal" – mais digital – que é, segundo o FMI, uma mais-valia para o futuro, faltando ainda determinar o impacto no tecido empresarial do país. Com a falência de pequenas e médias empresas fustigadas pela pandemia, o FMI destaca o risco do "crescimento do poder de mercado de empresas dominantes" que vêm a sua cota de mercado crescer.

Maior impacto em economias emergentes e em desenvolvimento
O FMI prevê que "os países de menor rendimento tenham um desempenho pior, em média, do que no seguimento da última crise financeira global" devido à sua capacidade limitada de resposta através de políticas de impacto orçamental ".

Entre as restantes economias, as previsões agora traçadas indicam "que as perdas das economias avançadas sejam muito menores do que nos mercados emergentes e nas economias em desenvolvimento", muito pela sua capacidade superior "através de políticas orçamentais e uma maior antecipação no acesso à vacinação e a terapias".

Uma das particularidades da crise económica gerada pela pandemia de covid-19 é a maneira como afeta de forma diferente economias de estruturas diferentes. Segundo o FMI, "as economias que são mais dependentes do turismo têm uma maior fatia de setores de contacto" o que resulta na previsão de "perdas mais persistentes" face, em muitos casos, ao espaço limitado para "políticas, capacidade de respostas de saúde e apoio à subsistência" da população.

Também o encerramento generalizado das escolas tem um impacto superior nos países mais pobres, o que leva o FMI a afirmar que "as perdas individuais de rendimento e danos à produtividade agregada podem ser um dos legados chave da crise de covid-19".

"Estas diferenças nas perdas esperadas sublinham a importância do acesso universal à vacinação tanto para resultados a nível da saúde como económicos", acrescenta o FMI.

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