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FMI coloca Portugal em desvantagem na recuperação económica
Os fatores de recuperação da crise causada pela pandemia, destacados pelo FMI, colocam os países com uma economia dependente do turismo e de fraca capacidade de resposta orçamental em piores lençóis. Portugal enquadra-se.
Perante uma crise que levou o produto mundial a cair "o triplo em metade do tempo" quando comparada com a última crise financeira, o FMI prevê que a produção mundial seja em 2024 apenas 3% abaixo do projetado antes da pandemia, mas com grandes divergências face ao percurso inicialmente traçado para os países. Ao que o Negócios conseguiu apurar, os critérios decisivos parecem colocar Portugal numa situação de desvantagem.
A pandemia pode ter afetado diretamente e sobretudo os setores da economia que dependem de algum contacto ou proximidade física, como é o caso da restauração, dos transportes ou do retalho. Mas o efeito de transbordamento (spillover efect, em inglês) estendeu o seu impacto a praticamente todos os setores através do desequilíbrio entre a oferta e a procura, que colapsaram simultaneamente.
Para o FMI, e segundo o relatório divulgado esta quarta-feira sobre o impacto da pandemia, um dos principais e mais eficazes meios de resposta são as políticas e apoios com impacto direto no PIB introduzidas, onde as economias mais avançadas têm maior margem de manobra. Ainda assim, Portugal apresenta no conjunto dos estados-membros um dos esforços mais reduzidos em percentagem do PIB.
Numa segunda linha, o FMI acredita que "a extensão da recuperação vai depender da persistência dos danos económicos, ou "cicatrizes", no médio prazo", o que deve variar consoante a estrutura económica de cada país e o peso dos seus setores de contacto. No caso de Portugal (não referido diretamente no relatório), onde o turismo foi responsável por quase 20% do valor das exportações em 2020 e perante a incerteza que ainda se mantém em relação à pandemia e ao processo de vacinação, esta recuperação deve ser ainda mais demorada.
Por outro lado, o país tem conseguido adaptar-se bem ao "novo normal" – mais digital – que é, segundo o FMI, uma mais-valia para o futuro, faltando ainda determinar o impacto no tecido empresarial do país. Com a falência de pequenas e médias empresas fustigadas pela pandemia, o FMI destaca o risco do "crescimento do poder de mercado de empresas dominantes" que vêm a sua cota de mercado crescer.
Maior impacto em economias emergentes e em desenvolvimento
O FMI prevê que "os países de menor rendimento tenham um desempenho pior, em média, do que no seguimento da última crise financeira global" devido à sua capacidade limitada de resposta através de políticas de impacto orçamental ".
Uma das particularidades da crise económica gerada pela pandemia de covid-19 é a maneira como afeta de forma diferente economias de estruturas diferentes. Segundo o FMI, "as economias que são mais dependentes do turismo têm uma maior fatia de setores de contacto" o que resulta na previsão de "perdas mais persistentes" face, em muitos casos, ao espaço limitado para "políticas, capacidade de respostas de saúde e apoio à subsistência" da população.
Também o encerramento generalizado das escolas tem um impacto superior nos países mais pobres, o que leva o FMI a afirmar que "as perdas individuais de rendimento e danos à produtividade agregada podem ser um dos legados chave da crise de covid-19".
"Estas diferenças nas perdas esperadas sublinham a importância do acesso universal à vacinação tanto para resultados a nível da saúde como económicos", acrescenta o FMI.