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Conversações em Hong Kong interrompidas após violentos confrontos
Ao cabo de mais de uma semana de protestos nas ruas de Hong Kong surgiram os primeiros confrontos. Grupos pró-Pequim enfrentaram os manifestantes, que acabaram por cancelar as conversações iniciadas na quinta-feira com o Executivo daquela região.
Vários grupos de elementos pró-Pequim acorreram ao centro financeiro de Hong Kong na tarde desta sexta-feira, tendo, segundo relatos dos estudantes do movimento Occupy Central, provocado e instado o eclodir de vários focos de confrontações que provocaram vários feridos.
Após mais de uma semana desde o início do movimento de desobediência civil que ocupa as principais artérias do centro de Hong Kong, os protestos que até agora se mantinham pacíficos deram origem ao primeiros cenários de violência.
A zona de Monkok, apesar da presença policial no local, foi aquela que assistiu aos confrontos mais violentos. Um oficial das forças policiais citado pela CNN revelou que o número de efectivos no local não era suficiente para garantir a segurança dos manifestantes pró-democracia.
Os estudantes, que estavam desde quinta-feira em conversações com um representante do líder do Executivo de Hong Kong, Leung Chun-ying, cancelaram o diálogo e acusam as autoridades da região administrativa chinesa de ter aceitado que os grupos anti-Occupy Central atacassem os protestantes pró-democracia.
"O governo e a polícia fecharam os olhos, enquanto outros grupos atacaram com violência as pessoas que se manifestavam de forma pacífica", afirmou uma organização estudantil em comunicado. Os estudantes representam um importante papel nos protestos de Hong Kong, tendo sido a organização dos estudantes a iniciar o movimento de desobediência que deu entretanto origem ao movimento pró-democrático Occupy Central.
Estes estudantes tinham exigido a demissão de Leung, a quem encaram como uma figura institucionalmente instrumentalizada por Pequim. O líder do Executivo não aceitou demitir-se, mas disponibilizou-se a iniciar uma ronda de conversações tendo em vista a resolução pacífica da contenda.
Numa altura em que decorriam as primeiras conversações, o já referido movimento pró-Pequim acabou por, para já, voltar a página e começar um novo capítulo em que o diálogo não foi colocado de parte e em que a violência passou a ser um elemento a ter em conta na equação. Em Hong Kong aproxima-se a madrugada com milhares de pessoas ainda nas ruas, dando seguimento a um braço-de-ferro que ainda não permite vislumbrar para que lado poderá inclinar.
O Partido Comunista Chinês (PCC) continua a apostar na resolução pacífica dos protestos, tentando evitar uma reedição do derramamento de sangue de 1989, em Tiananmen. Todavia, já assumiu ao longo desta semana que as autoridades policiais de Hong Kong dispõem dos meios e capacidade para controlar a situação.
O rastilho deste conflito acendeu em definitivo quando o Governo chinês decidiu que os candidatos à liderança do Executivo de Hong Kong seriam pré-definidos pelo PCC. Isto contrariamente ao acordo sino-britânico (1997) que aquando da transferência de soberania de Hong Kong de Londres para Pequim, estipulava um conjunto de direitos, liberdades e garantias aos cidadãos daquela região, entre os quais a possibilidade de eleger por sufrágio universal os seus governantes.
Pequim agendou entretanto o acto eleitoral para 2017, mas guardou para si a definição dos três candidatos que serão colocados perante o crivo democrático da população de Hong Kong. Ora, foi precisamente essa decisão que espoletou os protestos há já mais de uma semana, com o movimento Occupy Central a clamar por um processo eleitoral plenamente democrático.
O Governo de Leung condenou, já ao final da noite desta sexta-feira, as acções contestárias do Occupy Central que classifica de "movimento ilegal". Só nos próximos dias deverá ser possível conhecer o culminar da situação. Mas uma das conclusões a retirar de mais um dia de protestos é que o precedente da violência foi aberto.