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Casa Branca confirma que Trump pediu ao presidente da Ucrânia para investigar Biden

Uma transcrição da conversa telefónica entre os presidentes dos EUA e da Ucrânia divulgada pela Casa Branca mostra que Donald Trump pressionou Volodymyr Zelensky a investigar Joe Biden, potencial rival presidencial e cujo filho trabalhou para uma empresa de gás ucraniana.

Reuters
25 de Setembro de 2019 às 15:48
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Um memorando divulgado esta quarta-feira, 25 de setembro, pela Casa Branca confirma que Donald Trump pediu mesmo ao seu homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky, que investigasse Joe Biden, candidato à nomeação democrata às presidenciais americanas de 2020 e potencial rival do magnata nova-iorquino nessa eleição. 

O conteúdo agora revelado diz respeito à conversa telefónica que os presidentes americano e ucraniano mantiveram em julho e que está na origem do processo de destituição de Trump que o Partido Democrata espoletou contra o residente na Casa Branca. 

Ao contrário da garantia dada por Donald Trump, que ontem prometera a divulgação da transcrição "completa" e "desclassificada" da chamada telefónica com o recém-eleito presidente ucraniano, aquilo que foi revelado pela Casa Branca resulta somente de notas escritas por elementos do Departamento de Justiça.

"Fala-se muito sobre o filho de [Joe] Biden, que Biden interrompeu a acusação e muitas pessoas querem saber mais sobre isso (...) "Portanto, o que conseguir com o procurador-geral seria excelente", transmitiu o presidente americano ao seu homólogo na conversa mantida a 25 de julho passado. O filho do vice-presidente de Barack Obama, Hunter Biden, trabalhou para uma empresa ucraniana (Burisma) que opera no setor energético do gás.

O documento agora conhecido confirma que Trump quis saber se Joe Biden ordenou o cancelamento de uma investigação a essa mesma empresa. "Biden andou por aí a gabar-se de ter parado a investigação [ao filho], portanto se puder ver disso... para mim tudo isto é horrível", disse ainda Trump ao seu homólogo referindo-se ao alegado papel desempenhado pelo ex-presidente dos EUA no afastamento do então procurador-geral da Ucrânia.


Esta terça-feira a presidente da Câmara dos Representantes (câmara baixa do Congresso americano), Nancy Pelosi, anunciou uma investigação com vista à destituição (impeachment) de Trump, dando o tiro de partida para que seis comités da câmara baixa prosseguissem as investigações ao presidente.

"As ações do presidente violaram gravemente a Constituição", declarou Pelosi considerando que Trump desrespeitou o juramento presidencial ao colocar em causa a segurança nacional para, em troca, obter informações potencialmente prejudiciais para Joe Biden, que não apenas é o favorito a disputar com Trump as presidenciais do próximo ano, mas também apontado pelas sondagens como provável vencedor.

O telefonema acerca dos quais hoje foram divulgadas anotações tornou-se público na sequência de uma denúncia feita ao inspetor-geral dos serviços secretos americanos por uma fonte anónima. Para pressionar o presidente ucraniano a corresponder ao seu pedido, Donald Trump suspendeu a autorização necessária a uma transferência de ajuda militar destinada a Kiev num montante de 250 milhões de dólares.

No entanto, na terça-feira o The New York Times noticiou que a suspensão da ajuda determinada pela Casa Branca terá afinal decorrido da pressão feita pelos Estados Unidos para que também países como a Alemanha e a França fizessem as suas respetivas contribuições. Recorde-se que desde a anexação da Crimeia pela Rússia em 2014, vários países do chamado mundo ocidental incrementaram o seu apoio económico-militar a Kiev, a que se juntou também o Fundo Monetário Internacional. 

Donald Trump desmente ter exercido qualquer influência ou pressão sobre o presidente ucraniano a fim de obter ganhos políticos. 

Destituição difícil
Depois de os democratas não terem avançado com um processo de destituição em torno das alegadas ligações de Trump, sobretudo de elementos da sua campanha presidencial, a Moscovo, agora decidiram avançar numa altura em que se avolumava a pressão sobre Pelosi, em especial porque foi o próprio presidente americano a confirmar ter conversado com o homólogo ucraniano sobre Biden.

Sendo provável que a Câmara dos Representantes, onde os democratas detêm maioria, valide as acusações que pendem sobre o presidente americano, bastando para tal uma maioria simples, o processo segue depois para o Senado, onde os republicanos estão em maioria. Como é necessária uma maioria de dois terços para aprovar o impeachment, seria preciso que cerca de duas dezenas de senadores republicanos se juntassem aos democratas para destituir Trump, cenário que, nesta fase, se afigura improvável até pela apoio generalizado de que o presidente dos EUA beneficia no seio do partido. 

Dos três processos de impeachment lançados sobre presidentes americanos (Andrew Johnson, Richard Nixon e Bill Clinton), nenhum foi concluído com sucesso, pese embora a tentativa de destituição de Nixon tenha produzido efeitos já que este, envolto no caso Watergate, se demitiu antes ainda da votação na Câmara dos Representantes.

(Notícia atualizada pela última vez às 16:30)
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