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Caos em Hong Kong nos anos 1960 dá lições importantes para 2019
Depois de um aumento dos bilhetes de barco ter espoletado motins, o governo colonial investiu para controlar as tensões.
Foi por 5 cêntimos. Foi este o aumento na tarifa para passageiros dos barcos Star Ferry que desencadeou os protestos em Hong Kong. Carros e edifícios foram incendiados. A tropa de choque patrulhou as ruas. Bombas de gás lacrimogéneo foram disparadas. E mesmo assim a multidão só crescia.
Isto aconteceu em 1966. Não parou por aí. Um ano depois, manifestantes inspirados pelo Partido Comunista de Mao Tsé-Tung encetaram revoltas e explosões que mataram 51 pessoas na então colónia britânica.
A polícia de Hong Kong e as forças armadas do Reino Unido lançaram legislação de emergência, buscas e prisões em massa, por vezes sob acusação de uso de força excessiva. Ainda assim, o que veio a seguir foi um conjunto mais amplo de medidas que inaugurou uma época de ouro na cidade.
O governo colonial empenhou-se em obras de infraestrutura, incluindo residências para a população de rendimentos baixos, para tratar dos conflitos sociais subjacentes. Foi adotada uma abordagem mais colaborativa para aliviar as tensões com manifestantes, o que construiu confiança e, eventualmente, ajudou a restaurar a paz.
Atualmente, Hong Kong enfrenta dois meses de agitação — centenas de milhares de manifestantes tomaram as ruas, sitiaram o aeroporto, atearam fogo perto de esquadras da polícia e atiraram bombas de gasolina contra forças de segurança. É difícil não reparar nas semelhanças com o que aconteceu na década de 60.
No entanto, até ao momento, o que veio do governo de Carrie Lam, que tem o apoio de Pequim, foi apenas um reconhecimento mais generalizado da necessidade de reconciliação. "Este é o meu compromisso político muito sério e a minha responsabilidade perante o povo de Hong Kong ", afirmou Lam aos repórteres na semana passada, acrescentando que agiria "depois da violência parar".
Quando Hong Kong voltou à soberania chinesa, em 1997, foi alterado o delicado equilíbrio entre o público e a polícia que tinha sido estabelecido depois da década de 60. Isto tem impedido que Lam consiga arquitetar uma solução pacífica para os protestos.
Nas últimas semanas, a polícia tem empregue o rigoroso estatuto contra tumultos que foi raramente usado desde a sua aprovação, no auge do caos em 1967, acusando dezenas de manifestantes de crimes com penas de até 10 anos de prisão. Isto agravou as relações tensas entre manifestantes e policias, que ainda não tinham sido reparadas após os embates durante o Movimento dos Guarda-Chuvas, em 2014, em prol da democracia.
"Na fase final do domínio colonial britânico, o policiamento tinha-se tornado bastante cooperativo e comunitário, e não de confronto", salientou Andreas Fulda, professor assistente da Universidade de Nottingham e autor do livro "The Struggle for Democracy in Mainland China, Taiwan and Hong Kong" ("A Luta pela Democracia na China Continental, Taiwan e Hong Kong", numa tradução livre).
Nos últimos anos, ocorreu um "distanciamento das estratégias contidas de policiamento da colónia britânica, no sentido de acalmar os ânimos, e houve uma migração para uma rápida politização e militarização da polícia de Hong Kong", avalia o professor.
Um oficial da polícia declarou aos repórteres que as forças policiais podem lidar com infrações por manifestantes, mas não com queixas mais profundas. Questões políticas precisam de soluções políticas, além da polícia, afirmou o oficial.
Os protestos deste ano começaram em junho, tendo como razão um polémico projeto de lei que permitia extradições para a China continental. Manifestantes citam outras motivações, como o facto de os imóveis residenciais na cidade serem os mais caros do mundo e o aumento da desigualdade social.
Lam suspendeu a tramitação do projeto de lei, mas recusou a retirá-lo formalmente. Pequim e o governo de Hong Kong também negaram ceder a qualquer uma das exigências dos manifestantes, incluindo uma investigação sobre as táticas policiais, nem trataram das causas mais amplas da insatisfação popular.
(Texto original: What Hong Kong’s 1960s Chaos Could Teach City’s Besieged Leaders)