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Assad enviou perto de 250 milhões para Moscovo durante guerra civil síria
Segundo o Financial Times, ao todo, foram realizados 21 voos entre março de 2018 e setembro de 2019, da Siria para a Rússia, com um valor declarado superior a 250 milhões de dólares.
O regime liderado por Bashar al-Assad enviou perto de 250 milhões de dólares em dinheiro vivo para a Rússia, entre 2018 e 2019, período durante o qual o ditador, recém-deposto, estaria em dívida com o Kremlin devido ao apoio militar, avança, esta segunda-feira, o Financial Times (FT).
O jornal britânico descobriu registos que mostram que quase duas toneladas de notas - de 100 dólares e de 500 euros - foram transportados do banco central sírio para o aeroporto de Vnukovo, em Moscovo, e depositado em bancos russos sob sanções por parte do Ocidente.
Os registos comerciais russos do Import Genius, um serviço de dados de exportação, mostram que, ao todo, foram realizados 21 voos entre março de 2018 e setembro de 2019, com um valor declarado superior a 250 milhões de dólares, sendo que não existiam tais transferências de dinheiro entre o banco central da Síria e os bancos russos antes de 2018, de acordo com os mesmos registos, citados pelo FT, que recuam até 2012.
David Schenker, que foi secretário de Estado Adjunto dos EUA para os Assuntos do Médio Oriente de 2019 a 2021, comentou que as transferências por parte do regime de Assad não eram surpreendentes: "Tinha de mandar o dinheiro para o estrangeiro, para um porto seguro, de modo a poder usá-lo para ter uma boa vida...para o regime e para o seu círculo íntimo".
Fonte familiarizada com os dados do banco central sírio indicou ao FT que as reservas de moeda estrangeira não representavam "quase nada" em 2018, mas devido às sanções, impostas por causa da guerra civil no país, que estalou em 2011, o banco tinha de pagar em dinheiro vivo, tendo-o feito com serviços de impressão de dinheiro e em gastos com "defesa" e na compra de trigo à Rússia.
A mesma fonte revelou ainda que o banco central pagava em função do que "estava disponível no cofre". "Quando um país está completamente cercado e é alvo de sanções, só lhe resta o dinheiro vivo", frisou.
Segundo o FT, os registos russos mostram que as exportações regulares da Rússia para a Síria - tais como remessas de papel seguro e novas notas sírias da empresa estatal russa de impressão Goznak, e carregamentos de componentes militares russos de substituição para o Ministério da Defesa da Síria - ocorreram nos anos anteriores e antes de uma grande quantidade de notas ter sido levada de avião para Moscovo.
Mas, acrescenta, não há registo de que os dois credores russos que receberam as notas enviadas por Damasco em 2018 e 2019 tenham recebido outras remessas de dinheiro vivo procedente da Síria ou de outro país no período de uma década.