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Pequim (ainda) em silêncio sobre onda de protestos na China

Os protestos populares - que irromperam na China contra a política de covid zero - são raros no país e deverão merecer por isso uma resposta do Partido Comunista Chinês. O reforço da atual política poderá ser uma hipótese, mas o fim da covid zero também.

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28 de Novembro de 2022 às 10:45
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Há poucas semanas, quando o atual líder chinês Xi Jinping foi reeleito para o seu terceiro mandato, anunciou que se ia fazer acompanhar por Li Qiang, o homem que geriu os confinamentos em Xangai na primavera, reforçando o seu compromisso com a política de covid zero no país.

O que parecia estar controlado desde a erupção da covid-19 na China teve o seu fim este fim de semana. Com os casos a atingirem de novo valores máximos, os confinamentos voltaram a ser o processo preferido do governo, só que desta vez os cidadãos parecem não querer acatar o isolamento obrigatório.

Os protestos violentos, que começaram nas instalações da Foxconn em Zhengzhou, a maior fábrica de iPhones do mundo, na passada sexta-feira, já se alastraram a grandes metrópoles como Xangai e Pequim, e também em cidades como Nanjing, Chengdu e Wuhan.

A revolta popular foi desta vez espoletada pela morte de dez pessoas num incêndio num bloco de apartamentos na cidade de Urumqi, capital da província de Xinjiang. Os manifestantes responsabilizaram os controlos impostos na sequência da pandemia como a razão que impediu as forças de segurança de intervirem no incêndio.

Estes protestos, raros na China, representam um dos maiores desafios do Partido Comunista Chinês, depois da crise na praça de Tianamen há trinta anos. E a forma como Xi estiver disposto a responder pode provar-se de elevada importância para o futuro da potência asiática.

Nos vídeos das manifestações em Xangai é possível ouvir quem peça a saída do presidente, arriscando uma vida na prisão, mas essa não deve ser uma hipótese para o atual líder. Ao mesmo tempo, uma rápida retirada da política de covid zero poderia levar a um grande número de mortes.

Para já a única resposta chegou por parte do porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Zhao Lijian, que evitando a questão sobre a frustração da população chinesa respondeu que "o que está a ser mencionado não reflete o que realmente aconteceu", acrescentando que "a China tem estado a seguir as dinâmicas da política de covid zero e a realizar ajustamentos baseados nas realidades no terreno". Ainda assim, o governo ainda não reconheceu os protestos, nem respondeu em qualquer formato formal.

Esta segunda-feira, de acordo com a BBC, existia uma grande presença policial na principal rua em Xangai onde os manifestantes estiveram este fim de semana, a Wulumuqi Middle Road e foram colocadas barreiras. Os dados mais recentes sobre os casos de covid-19 indicam o quinto recorde diário, de 40.052 infeções esta segunda-feira.

Mercados não resistem ao tumulto
A incerteza vivida tem estado a afetar os mercados por todo o mundo. Na Ásia a negociação foi negativa e em Hong Kong, o Hang Seng chegou a perder mais de 4% no dia.

Também o petróleo está a ser afetado e, tanto o Brent, como o WTI perdem mais de 2%, com os protestos a levarem a preocupações relativamente às perspetivas de consumo por parte do maior consumidor de petróleo do mundo.

Já a moeda chinesa, o renminbi perde face às principais divisas, estando o dólar a ser o ativo que mais beneficia desta queda.

A queda nos mercados está, no entanto, a ser amparada pela possibilidade de que estas manifestações obriguem a um fim mais rápido à política de covid zero. Numa nota do Goldman Sachs vista pela Bloomberg, os analistas esperam uma reabertura na China no segundo trimestre de 2023. O impacto económico dos constantes confinamentos deverá também influenciar a decisão do governo chinês.

Apple vai produzir menos seis milhões de iPhones Pro na maior fábrica do mundo da marca
Depois dos protestos da passada quarta-feira na maior fábrica de iPhones da Apple, a gigante tecnológica deverá ver os efeitos passarem para a produção do recentemente lançado telemóvel. De acordo com uma fonte da Bloomberg, em risco está a produção de seis milhões de iPhones.

Ainda assim, a situação carece de conclusão e por isso poderão existir ainda alterações a este número. Muito vai depender ainda da capacidade da Foxconn, empresa de Taiwan que opera a instalação, de conseguir com que os trabalhadores regressem às linhas de montagem. Caso os confinamentos continuem nas próximas semanas, tal feito deverá complicar-se.

A empresa chegou a emitir um comunicado em que oferecia uma contrapartida financeira caso os trabalhadores recentemente contratados deixassem a fábrica de imediato.

O défice na produção de iPhones traz acrescidas dificuldades à marca, antes da época natalícia, um período em que se regista um pico nas vendas. Antes destes protestos, a Hon Hai Precision Industry, empresa da Apple e Foxconn, fez um anúncio de corte na produção, levando inclusive à emissão de um raro aviso aos investidores sobre os atrasos.
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