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S&P prepara descida do 'rating' do Brasil

A agência de notação financeira Standard & Poor's disse hoje que colocou o 'rating' do Brasil, dois níveis abaixo da recomendação de investimento, em Observação Negativa devido à possibilidade de o escândalo político atrasar as reformas económicas.

Reuters
23 de Maio de 2017 às 12:59
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"A colocação em Observação Negativa [CreditWatch, no original em inglês] reflecte os riscos acrescidos de que uma resolução lenta ou disruptiva dos recentes desenvolvimentos políticos possam atrasar ou minar a capacidade da classe política brasileira de avançar com medidas económicas correctivas em tempo útil, ou seja, antes das eleições presidenciais e legislativas de 2018, quando os desafios económicos e orçamentais se acumulam", dizem os analistas.

Depois do mais recente escândalo de corrupção no Brasil, "o cenário político tornou-se outra vez mais complicado", dizem os analistas da S&P, vincando que "no meio da incerteza política os progressos sobre os consideráveis desafios económicos e orçamentais, no contexto de um já de si prolongado caminho de ajustamento, está em risco de ser adiado".

O 'rating' do Brasil, actualmente dois níveis abaixo do patamar da recomendação de investimento, ou seja, em 'junk' ou 'lixo, como é normalmente conhecido, pode ainda descer mais se a S&P concluir que o escândalo vai mesmo atrasar a implementação das reformas.

Moody's diz que turbulência política no Brasil atrasa reformas e prejudica o 'rating'

A divulgação de escutas telefónicas do Presidente do Brasil é negativa do ponto de vista da análise da qualidade do crédito mesmo que não resulte na destituição de Temer, considera por outro lado a agência de notação financeira Moody's.

"Apesar de não serem claras as implicações para Michel Temer, as consequências políticas das alegações é negativa do ponto de vista do crédito soberano porque vai provavelmente atrasar o fôlego das reformas", dizem os analistas numa nota de análise.

No documento, afirma-se também que "se o escândalo político continuar por resolver, o crescimento económico arrisca-se a ser prejudicado".

O escândalo de corrupção, investigada pela operação judicial Lava Jato, alargou-se a 18 de maio ao Presidente brasileiro com a abertura de um inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF).

Em causa está uma gravação de uma conversa entre o empresário Joesley Batista, da empresa JBS, e Temer sobre o alegado pagamento de uma verba ao ex-deputado Eduardo Cunha, que foi presidente do Congresso (parlamento) e principal aliado de Temer no afastamento de Dilma Rousseff da Presidência.

Nessa conversa, de acordo com os áudios divulgados, o Presidente terá recomendado ao empresário manter o pagamento de uma verba regular a Eduardo Cunha, acusado de vários crimes de corrupção.

Temer sucedeu há um ano a Dilma Rousseff, de quem era vice-presidente, mas, desde então, vários aliados têm sido atingidos pela operação judicial, por suspeitas de corrupção e de receberem pagamentos ilegais.

A degradação da situação política no país tem levado muitos dirigentes a exigirem eleições presidenciais (diretas ou via parlamento), já que Temer não tem um vice-presidente que o substitua no caso de abertura de um processo de destituição.

Após a divulgação do áudio, Michel Temer recusou, em várias declarações ao país, apresentar a demissão e já pediu a suspensão da investigação até que seja verificada a autenticidade da gravação.

"Não é claro como serão resolvidas as acusações, nem se isso vai envolver outra transição política" no Brasil, dizem os analistas da Moody's, vincando que "mesmo que o Presidente se mantenha no cargo, o escândalo pode minar a qualidade do crédito do Brasil uma vez que o recente momento económico positivo pode ser parado ou revertido".

A Moody's teme que o caso "possa dispersar o foco de fazer avançar as reformas, que são críticas para melhorar a força orçamental do Brasil".

Para além disso, salientam os analistas, "a turbulência política e as suas implicações em termos de políticas vão pesar na confiança dos investidores, revertendo a recente recuperação económica do Brasil", que melhoraram significativamente deste que Temer chegou à Presidência.
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