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Quem é Pete Buttigieg, o candidato que está a surpreender nas primárias democratas

O outrora quase desconhecido "mayor" de South Bend afirma-se cada vez mais como um dos favoritos a garantir a nomeação democrata para disputar com Trump as presidenciais de novembro. Pete Buttigieg encaminha-se para vencer o "caucus" do Iowa à frente dos inicialmente favoritos Biden, Sanders e Warren.

Lusa
05 de Fevereiro de 2020 às 12:42
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Já não é surpresa para ninguém que Pete Buttigieg se está a afirmar como um dos mais fortes candidatos à nomeação como candidato presidencial nas primárias do Partido Democrata.

 

No entanto, não deixa de ser surpreendente que o antigo e então praticamente desconhecido "mayor" de South Bend esteja a caminho de garantir a vitória no "caucus" do Iowa, a primeira etapa da corrida democrata rumo às eleições para a Casa Branca, agendadas para 3 de novembro.

 

Depois dos problemas técnicos na contagem dos votos terem adiado para esta quarta-feira a divulgação dos resultados finais no Iowa, quando estão contabilizados 71% das secções de voto, Buttigieg segue à frente com 26,8%. Só depois surgem os inicialmente mais cotados Bernie Sanders (25,2%), senador do Vermont, Elizabeth Warren (18,4%), e Joe Biden (15,4%), ex-vice-presidente dos Estados Unidos.

 

Leia em baixo o perfil de Pete Buttigieg que o Negócios publicou em maio do ano passado.

O CANDIDATO QUE AGITA O SISTEMA

 

O jovem democrata Pete Buttigieg foge ao padrão político norte-americano. É jovem e homossexual. Talvez seja essa a "diferença" que o está a projetar para os primeiros lugares na corrida e a captar a atenção dos media e do eleitorado. 

 

 

"Presidente de câmara 'millennial', veterano de guerra no Afeganistão e marido". É assim que Pete Buttigieg se apresenta na página oficial na internet da sua candidatura às presidenciais dos Estados Unidos de 2020. O jovem político está a agitar o sistema e afirma que quer "restaurar a democracia". É o primeiro homossexual assumido a disputar a corrida à Casa Branca. Um facto que ainda não se percebeu se o vai fazer ganhar ou perder votos, mas que já lhe garantiu a atenção dos "media". A revista Time fez capa com o casal "presidenciável" na edição de 13 de maio. Pete Buttigieg e o marido, o professor universitário Chasten Glezmen, foram fotografados à porta de sua casa. As sondagens mostram que o candidato está a ganhar terreno nas primárias e já o colocam em terceiro lugar depois de Joe Biden e Bernie Sanders, ambos com longas carreiras políticas e mais do dobro da sua idade.

Pete Buttigieg parece ser a nova "coqueluche" do Partido Democrata. E há quem lhe reconheça traços de Obama. De facto, o agora candidato foi voluntário na campanha daquele que se tornaria o primeiro Presidente negro da América, há 12 anos. É seguro de si e tem raciocínio rápido. Por isso, muitos comentadores políticos estão desejosos de assistir aos debates, sobretudo com Joe Biden, um político experiente que foi número dois na administração de Barack Obama e que lidera as sondagens. "É a nossa vez de fazer alguma coisa para defender a democracia americana", afirmou Buttigieg recentemente num comício. Toda a sua campanha assenta na ideia de que é necessária uma nova geração de líderes na América. Pessoas que tenham os olhos no futuro nesta "era da automação e da globalização", porque "grandes mudanças estão a acontecer, quer estejamos prontos ou não".

O político é, até agora, o mais jovem candidato ao lugar de Presidente dos Estados Unidos. Há quem lhe aponte a idade, 37 anos, como uma fragilidade, assim como a sua orientação sexual. Então, o que faz dele a nova "estrela" na política norte-americana? Precisamente a sua diferença em relação ao "establishment".

Buttigieg era até agora um desconhecido, mas não é um novato na política. Em 2011, quando tinha 29 anos, foi eleito presidente da câmara de South Bend, a cidade industrial onde nasceu e cresceu, com pouco mais de 100 mil habitantes, no estado de Indiana. Em 2015, voltou a ganhar as eleições, com 80% dos votos. Quando assumiu o cargo, a cidade estava deprimida em termos económicos e sociais. O município entrou em declínio em 1963, quando a fábrica da companhia automóvel Studebaker fechou as portas e lançou milhares de pessoas para o desemprego. No seu mandato, conseguiu atrair investimento e criar postos de trabalho. A oficialização da sua pré-candidatura às presidenciais foi feita num comício numa antiga fábrica de automóveis na sua cidade natal, que encheu por completo. Houve pessoas que ficaram do lado de fora à chuva. É lá, em South Bend, no mesmo bairro que o viu crescer, que vive com o marido. No discurso, fez uma clara crítica à política seguida por Trump que teve como "slogan" "A América Primeiro". "Vendemos um mito às comunidades rurais e industriais de que poderíamos parar o tempo e voltar ao passado."

Outro dos trunfos que Buttigieg tem apresentado na campanha é a sua experiência como militar no Afeganistão. Assume-se com tendo mais experiência nessa área do que "qualquer pessoa que tenha entrado na Sala Oval desde o Presidente George H. W. Bush". Foi tenente na Marinha dos EUA e, em 2014, quando já estava na reserva, tirou uma licença sem vencimento de sete meses, durante o seu mandato de autarca, para prestar serviço no Afeganistão. O seu trabalho de contraterrorismo nessa missão valeu-lhe uma condecoração com o grau de comendador.


As barreiras que tem pela frente

Buttigieg estudou Filosofia, Política e Economia em Oxford, e História e Literatura em Harvard. É um poliglota. Sabe falar oito línguas, incluindo a gestual. Tem feito esforços para comunicar com as várias minorias do país. "O que os gays têm em comum com qualquer pessoa excluída é saberem o que é ter um muro entre si e o resto do mundo e questionar como será do outro lado", disse, num evento da Human Rights Campaign, o maior grupo de defesa e de lóbi dos direitos civis LGBT nos Estados Unidos.

Nesse discurso, apelou à unidade e condenou o seu próprio partido por utilizar a "política de identidade" para dividir os americanos. Algo que, sublinhou, Trump e o Partido Republicano exploraram, ao promover uma forma mais agressiva "dessa política, que é a política de identidade branca". Por isso, defende que os democratas devem usar a diversidade das histórias pessoais dos americanos para unir as pessoas em vez de categorizá-las e dividi-las.

A máquina da campanha de Buttigieg, que até agora conseguiu obter cerca de sete milhões de dólares (6,2 milhões de euros) em donativos, sabe que para ganhar votos tem de conquistar a confiança do eleitorado. Em particular das comunidades afro-americana e hispânica, que ainda não conseguiu impressionar.

A aposta para quebrar barreiras tem sido a de promover encontros com grupos ativistas na comunidade negra e LGBT, refere o jornal online Politico. A publicação cita Cornell Belcher, um antigo pesquisador democrata que trabalhou na campanha de Barack Obama, que compara a campanha de Pete Buttigieg com as de outros "primeiros" candidatos. "Existem preconceitos implícitos que as candidatas mulheres têm de enfrentar? Com certeza. Existem preconceitos implícitos que os candidatos negros têm de enfrentar? Existem preconceitos implícitos que os candidatos gay têm de enfrentar? Com certeza." Então, acrescenta, como é que se inoculam desses preconceitos? "Depende de como se definem enquanto pessoas e como falam genuinamente sobre si próprios."

Até agora, não se conhecem medidas políticas concretas que Buttigieg queira implementar. Sabe-se apenas que defende o fim do Colégio Eleitoral, porque "torna a sociedade norte-americana cada vez menos democrática". E tem mostrado preocupações relativamente às alterações climáticas, assim como em relação a cuidados de saúde, imigração e direitos da comunidade LGBT. 

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