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Lula da Silva quer aliança com a UE contra a "guerra fria" de EUA e China
"Vamos trabalhar a ideia de criar um bloco económico, político e cultural para que possamos, juntos com a União Europeia, enfrentarmos a guerra fria", afirmou Lula.
O ex-Presidente Lula antecipou, durante a sua visita à Argentina, que, caso volte à Presidência do Brasil, pretende unir a América do Sul com a União Europeia para enfrentar a "guerra fria" entre os Estados Unidos e a China.
"Vamos trabalhar a ideia de criar um bloco económico, político e cultural para que possamos, juntos com a União Europeia, enfrentarmos a guerra fria que os Estados Unidos estão a tentar estabelecer com a China", anunciou Luís Inácio Lula da Silva, durante uma conferência na Confederação Geral do Trabalho (CGT) da Argentina.
A conferência realizou-se no sábado perante um auditório com os líderes sindicalistas, legisladores e militantes.
"Nós não queremos mais guerra fria. Nós queremos ser uma nação soberana", sublinhou Lula.
O objetivo da aliança é impedir que o Brasil tenha de escolher entre Estados Unidos ou China naquilo que Lula da Silva chama de "guerra fria". Para enfrentar essa dicotomia geopolítica, a estratégia é somar forças com a União Europeia, defendeu.
O ex-Presidente brasileiro, favorito nas sondagens para voltar à Presidência nas eleições de outubro de 2022, disse ter as seguintes prioridades internacionais: Argentina, Mercosul (bloco formado por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai) e América do Sul.
"Quero que saibam que, se eu voltar, vai aumentar a nossa relação com a Argentina. Vamos fortalecer mais o Mercosul. Vamos fortalecer a Unasul (União das Nações Sul-americanas)", indicou.
São todas prioridades opostas às do atual Presidente Jair Bolsonaro, que priorizou os Estados Unidos, dada a sua simpatia e admiração pelo ex-Presidente Donald Trump.
"Todos os países pobres acham que se sorrirem para os Estados Unidos, receberão ajuda. Acham que se sorrirem para a Europa, receberão ajuda. Quem nos vai ajudar seremos nós ao termos orgulho de defendermos a nossa soberania, o nosso povo, a produção, a geração de emprego e de crescimento", afirmou.
A prioridade pelo Mercosul em particular e pela América do Sul em geral relaciona-se com a realidade do comércio exterior.
"O livre comércio que eles [norte-americanos e europeus] defendem é para que eles nos vendam, mas, quando se trata de que nós lhes vendamos, aparecem tarifas e problemas sanitários que impedem a venda", criticou Lula.
"As nossas exportações são para os países da América do Sul, com exceção da China, um fenómeno mais recente", explicou.
Na sexta-feira, em discurso na Praça de Maio, Lula da Silva destacou as mesmas prioridades, recordando que, em 2005, Argentina, Brasil e Venezuela rejeitaram a criação da Área de Livre-Comércio das Américas (ALCA), um projeto dos Estados Unidos para estabelecer uma zona de comércio livre em todo o continente americano, iniciativa que foi interpretada como um projeto de desindustrialização da América Latina.
Por outro lado, recordou que, durante o seu Governo (2003-2011), foi criada a União de Nações Sul-Americanas (Unasul) e a Comunidade de Estados Latino-Americanos e das Caraíbas (Celac) que visavam a integração regional.
A Celac é um espaço que inclui Cuba e exclui Estados Unidos e Canadá para rivalizar com a Organização dos Estados Americanos (OEA), órgão que a esquerda latino-americana considera dominado pelos interesses norte-americanos.
O Governo Bolsonaro retirou o Brasil da Unasul e da Celac por considerar tratar-se de "organismos ideológicos que davam protagonismo a regimes não-democráticos como Venezuela, Cuba e Nicarágua", segundo o então chefe da diplomacia brasileiro, Ernesto Araújo.