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Fitch ameaça cortar “rating” dos Estados Unidos
A agência de notação financeira colocou a classificação da dívida de longo prazo dos EUA sob “vigilância negativa”, o que significa que poderá cortar o “rating” do país nos próximos seis meses.
A justificar esta decisão está o impasse em torno do novo orçamento federal e do aumento do limite da dívida. Em 2011, a Standard & Poor’s foi a primeira agência a cortar o “rating” de topo dos EUA, precisamente devido ao chamado “debt ceiling”, pois apesar de ter chegado a haver acordo para o aumento do tecto de endividamento do país, a agência não o considerou suficiente.
De momento, a Fitch e a Moody’s ainda mantêm o triplo A para a notação da dívida soberana norte-americana.
No relatório divulgado esta terça-feira, a Fitch diz que espera ter uma decisão tomada quanto ao “rating” dos EUA até ao final do primeiro trimestre de 2014, no máximo, “se bem que o ‘timing’ [dessa decisão] irá necessariamente reflectir os desenvolvimentos no país, como a duração de qualquer acordo para aumentar o limite da dívida”.
A agência sublinha que a “vigilância negativa” se deve ao facto de as autoridades norte-americanas não terem ainda conseguido elevar o “debt ceiling”, quando se prevê que a partir de 17 de Outubro o país possa entrar em “incumprimento técnico [pois deixará de conseguir honrar alguns compromissos financeiros].
“Apesar de a Fitch estar convicta de que o limite da dívida será em breve incrementado, o impasse político e a reduzida flexibilidade financeira do país poderão aumentar o risco de um ‘default’ dos EUA”, acrescenta o relatório.
A agência adverte que “as demoradas negociações em torno do aumento do tecto de endividamento [depois do episódio de Agosto de 2011] pode minar a confiança no papel do dólar como moeda proeminente de reserva global, lançando dúvidas sobre a qualidade do crédito dos EUA”.
O "episódio" de 2011
Recorde-se que em 2011, numa altura em que o país estava a reerguer-se e a recuperação económica começava a dar sinais mais claros, se bem que com lentidão, os EUA viram-se também em apuros devido ao seu elevado endividamento. Nos meses de Junho e Julho, a expressão “debt ceiling” tornou-se uma constante.
E o que é, afinal, este “debt ceiling”? É o limite de endividamento estabelecido pelos Estados Unidos. Ou seja, trata-se de um limite - definido pelo Congresso – ao montante de dívida que o governo federal pode legalmente contrair. Em Maio de 2011, os EUA estavam prestes a esgotar esse limite de endividamento, fixado em 14,294 biliões de dólares.
O Congresso norte-americano não conseguia chegar a acordo quanto ao patamar para o novo aumento desse limite de endividamento do país. E era preciso que houvesse acordo até 2 de Agosto, caso contrário os EUA poderiam entrar em incumprimento. Com efeito, a partir desse dia, o país não teria como pagar os juros das obrigações nem teria dinheiro para financiar os seus programas governamentais.
Perante este cenário, as agências Moody’s, Fitch e S&P colocaram a dívida soberana dos EUA sob vigilância negativa.
O acordo no Congresso aconteceu, mesmo em cima da hora, com um aumento do limite de endividamento em 2,1 biliões de dólares. Ao mesmo tempo, comprometeu-se a reduzir a despesa em 2,4 biliões de dólares num prazo de 10 anos. Consequentemente, a Moody’s e a Fitch não concretizaram a ameaça. Mas a Standard & Poor’s fê-lo, defendendo que o compromisso para a redução da despesa deveria ter rondado os quatro biliões de dólares. Na sua opinião, um corte de 2,4 biliões poderia não ser suficiente para estabilizar o nível da dívida.
Assim, a 6 de Agosto de 2011, a S&P cortou o rating soberano dos EUA de AAA para AA+, justificando-o com o facto de o país poder não conseguir reduzir o seu elevado défice orçamental. Nunca nenhuma das “três irmãs” tinha tocado no “grande pai”, já que todas tinham nascido nos Estados Unidos.
A agência de rating Egan-Jones tinha descido a classificação dos Estados Unidos antes da S&P, mas a decisão desta agência de menor dimensão não teve impacto. O mundo tinha as atenções concentradas nas três grandes.
(Notícia actualizada às 22h27)