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EUA vs. China: qual é a maior economia do mundo?

O debate pode ser simbólico, mas nas relações internacionais o simbolismo tem importância. A China tem argumentos para reclamar o título de maior economia do mundo, mas os seus cidadãos estão longe da riqueza dos americanos.

Reuters
06 de Abril de 2017 às 19:30
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Durante quase 150 anos, os Estados Unidos foram a maior economia do mundo, depois de terem ultrapassado o PIB britânico em 1872. Agora começam a saber o que é estar no lugar do ultrapassado. Por algumas métricas, a China já ocupa o topo da pirâmide e continuará a ganhar influência na economia global nos próximos anos. No dia em que os líderes das duas maiores economias do mundo se vão encontrar pela primeira vez, saiba como é que essa relação tem evoluído.  

 

Segundo os dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), quando se mede o produto interno bruto (PIB) de ambos os países em paridade de poder de compra, a China já ultrapassou os EUA em 2014, quando a sua economia passou a representar 16,6% do PIB mundial e os EUA caíram para 16%. Hoje, a diferença é ainda maior: 17,9% vs. 15,6%.

 

Alhos e bugalhos

Esta análise em paridade de poder de compra permite saber o que conseguiria comprar com a sua moeda noutro país. Uma vez que, com o mesmo dinheiro, consegue comprar mais coisas na China, o PIB chinês é beneficiado. Por exemplo, segundo os dados do World Economic Forum, um maço de cigarros custa menos 75% em Pequim do que em Nova Iorque, os transportes públicos custam menos 93% e uma cerveja menos 28%. Por outro lado, a gasolina ou um iPhone são mais caros (74% e 33%, respectivamente). Esta perspectiva permite uma análise mais estável dos dados e dá um melhor retrato do poder de compra agregado dos consumidores e, como tal, uma aproximação ao bem-estar.

Desde a década de 80 que a economia americana representava pouco mais de 20% do PIB mundial. A partir de 2000, iniciou-se uma trajectória descendente, que foi acompanhada pela tendência ascendente chinesa. No início dos anos 90, o PIB chinês tinha um peso inferior a 5% da economia mundial. Hoje tem o triplo e o FMI antecipa que continue a "engordar" até 20% em 2021. Nesse ano, os EUA estarão claramente no retrovisor chinês, caindo para 14,4%.


 

No entanto, quando se olha para o PIB a preços de mercado, sem qualquer ajustamento de preços, os Estados Unidos são ainda a maior economia do mundo, com um PIB estimado em 18,6 biliões de dólares em 2016. Por esta métrica, os chineses ainda estão longe dos americanos: o seu PIB vai em 11,4 biliões.

 

Ainda assim, mesmo nesse capítulo, a liderança norte-americana não deverá durar muito tempo. As previsões mais recentes do Centro de Investigação de Economia e Negócios (CEBR) apontam 2029 como o ano em que a China ultrapassará, também nesta métrica, os EUA.

 

A aproximação entre os dois países tem sido relativamente rápida. Há 16 anos, a economia chinesa representava menos de 12% da americana, ascendendo agora a 60%. Por trás dessa aceleração estão taxas de crescimento altíssimas. Nas últimas três décadas e meia, a China cresceu a perto de 10% ao ano, o ritmo mais rápido alguma vez observado numa grande economia, que permitiu tirar 800 milhões de pessoas da pobreza. No mesmo período, os EUA avançaram 2,6%/ano.

 

Falta saber se a recente desaceleração – abaixo de 7% dois anos consecutivos – é apenas um arrefecimento passageiro ou um sintoma de moderação mais permanente do crescimento. O FMI acha que a segunda hipótese é mais provável e vê o crescimento a convergir para os 5%, à medida que o país perde fulgor demográfico e faz a transição para uma economia mais sustentada no mercado interno e no consumo da sua população.


 

População faz a diferença

 

Importa, contudo, reflectir sobre o que estes dados querem realmente dizer. Sendo o PIB uma estimativa da produção de um país, não é normal que um país com 1,4 mil milhões de habitantes tenha mais poder de fogo do que outro com 320 milhões?

 

Não surpreende que Portugal tenha um PIB superior ao do Luxemburgo e inferior ao da Índia. Mas, se queremos saber qual é o país mais rico, talvez o mais justo seja dividir a riqueza produzida pelos seus residentes. Isso permite-nos ficar mais perto daquilo que os cidadãos de cada país podem potencialmente beneficiar. Para isso precisamos de recorrer ao PIB per capita.

 

(A palavra "potencialmente" é importante, porque o PIB per capita não é uma medida do nível de desigualdade. Se a riqueza estiver concentrada num pequeno grupo, isso não se reflecte nestes dados.)

 

O PIB per capita dá-nos uma imagem totalmente diferente da relação entre os Estados Unidos e a China. Os EUA passam a ser a oitava maior economia do mundo (o Luxemburgo é o nº.1), enquanto a China afunda para 75.º, atrás da Roménia, da Malásia e da Venezuela, por exemplo (Portugal está em 40.º, à frente da Índia). O PIB per capita americano é sete vezes maior do que o chinês.

 

Mesmo que se ajuste pela paridade de poder de compra utilizada anteriormente, a distância continua a ser grande. Nessa perspectiva, o PIB per capita americano é quase quatro vezes superior ao da China.

 

Podemos confiar nos números da China?

 

É difícil discutir a pujança da economia chinesa sem falar da confiança que existe nas estatísticas produzidas na China. Os especialistas tendem a achar que os dados económicos manipulados – ainda que apenas ligeiramente – para atenuar as crises. Isso faz-se essencialmente mexendo no indicador de evolução dos preços, conhecido como deflator do PIB. Essa suspeita é reforçada pelo facto de o crescimento nominal da economia chinesa ser altamente volátil, ao passo que o crescimento real segue um padrão relativamente estável.

 

Carsten Holz, economista da Universidade de Ciência e Tecnologia de Hong Kong, dizia ao Financial Times em 2015 que essa suavização pode impressionar os estatísticos de outros países, mas efeitos práticos limitados. Ele calcula que entre 1978 e 2011, o crescimento económico médio chinês ficou entre 9,1% e 11%, um intervalo que inclui os 9,8% oficiais.

 

Porém, outros argumentam que o problema é mais profundo. Harry Wu, professor na Universidade Hitotsubashi em Tóquio e antigo mentor de Holz, acha que existe um fosso maior entre a realidade e os dados reportados. Os seus cálculos apontam para uma diferença média de 2,5 pontos percentuais entre o valor oficial e real, com o problema central a estar no apuramento dos dados industriais. Por exemplo, em 2014, em vez de a economia ter crescido 7%, teria avançado apenas 3,9%. Wu considera que o problema não é de metodologia, mas sim de influência política.

 

De referir ainda que, se os EUA estão preocupados com o distanciamento da economia chinesa, não podem deixar de olhar para trás do ombro. Um estudo recente da PricewaterhouseCoopers antecipa que em 2040 será a vez da Índia ultrapassar os americanos, aproximando progressivamente da China.

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