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Isabel dos Santos: "Não há essa coisa da ‘filha do presidente’. É um mito"
A presidente da Sonangol e filha mais velha de José Eduardo dos Santos reconhece que teve um "percurso inesperado" e justifica a sua chegada ao topo da petrolífera com o "longo registo" de criação de negócios.
A presidente da Sonangol diz que se sente privilegiada mas também alvo de preconceito por ser filha do presidente de Angola e considera um "mito" que tenha um estatuto especial por ter como pai José Eduardo dos Santos, assegurando que a relação com o chefe de Estado tem um domínio familiar mas também "profissional".
"Não há essa coisa da ‘filha do presidente’. É um mito. Somos filhos dos nossos pais. Tenho uma mãe e um pai. A nossa relação com os nossos pais passa pelas emoções, pela família. O trabalho do nosso pai, seja um presidente ou um CEO, é uma relação profissional da vida dele. E são dois aspectos muito diferentes," argumenta Isabel dos Santos numa entrevista à cadeia televisiva britânica BBC.
Nas respostas ao jornalista Paul Bakibinga, Isabel dos Santos reconhece ter sido privilegiada pelo facto de poder ter tido acesso a uma "boa educação" e pelo contacto com o mundo, mas admite também que é alvo de preconceito, quando a acusam de ter chegado à liderança da petrolífera estatal angolana ou de ter erguido o seu império empresarial "através de favores ou favoritismo".
"Não há dúvida que há muito preconceito em relação a isso, acho que tenho um percurso inesperado," classifica. E defende que a sua indicação para a Sonangol, em Junho do ano passado, se deveu à sua passagem pelo sector empresarial e ao "longo registo" de criação de negócios.
"A Sonangol estava numa situação particularmente difícil, houve uma queda prolongada dos preços do petróleo ao longo de dois anos, isso reflectiu-se na estabilidade financeira da empresa, que era crítica. O Governo tomou a decisão – que foi uma decisão muito corajosa – de enfrentar esses problemas e ver que género de reformas e reestruturação poderia ser feitas na Sonangol para a tornar numa empresa mais forte tendo em conta que as receitas tinham caído 60% na empresa," justifica.
Questionada sobre se se sentia confortável com o facto de 75% da população de Angola viver com menos de dois dólares por dia, a gestora reconhece ter "ouvido esse número" mas não ter elementos para o pôr em causa. E responde com o investimento público feito nos últimos 15 anos em infra-estruturas que, postas ao serviço da população, deverão contribuir para a sua "integração social".
E à pergunta "sabe quanto vale?", em termos de riqueza pessoal, Isabel dos Santos responde: "Isso depende se conta com as minhas dívidas ou não [sorrisos]. Acho que tenho de perguntar isso aos meus conselheiros financeiros". Segundo a Forbes, em 2016 a fortuna da empresária aumentou em cerca de 100 milhões de dólares, ascendendo a 3.100 milhões de dólares.
Prefere depois sustentar com o seu trajecto empreendedor, alegando que fazer negócio "não é construir apenas o nosso próprio capital", sendo necessário "um projecto sólido" e, o mais difícil, convencer investidores para tirar as ideias do papel.
"Quero acreditar que sou mais, que estou além da marca. Sou uma mulher, criei riqueza para outros, criei um bom número de empregos, e além de tudo acho que no trabalho que faço o objectivo não é criar riqueza, é criar desenvolvimento, trazer soluções para Angola e para África, que sejam sustentáveis e funcionem para nós," acrescenta.