Notícia
PJ investiga LibertaGia e Deco recebe dezenas de queixas sobre alegado esquema fraudulento em pirâmide
A notícia de que a justiça espanhola está a investigar o português Rui Pires Salvador por burla foi divulgada no fim-de-semana pelo jornal El Pais. Em causa está um esquema piramidal que ascende a mais de mil milhões de euros.
- 14
- ...
A Polícia Judiciária está a investigar a LibertaGia, uma empresa que opera um alegado esquema fraudulento em pirâmide e cujo presidente, Rui Pires Salvador, está já sob a mira das autoridades espanholas.
"Deu entrada recentemente um processo que se encontra em investigação sobre o qual não é possível prestar esclarecimentos", disse hoje a Polícia Judiciária em resposta à Agência Lusa.
Também a associação de defesa de consumidores Deco adiantou à Lusa ter recebido dezenas de queixas de pessoas que se sentiram lesadas pela empresa, que promete um serviço remunerado a 350% por ano.
Em Espanha foi já criada a Plataforma de Afectados de LibertàGià (www.afectadoslibertagia.com) que reúne um conjunto de afiliados da empresa com o objectivo de recuperar o seu dinheiro.
A adesão à plataforma implica o pagamento de 51 euros para cobrir os gastos da representação legal, a cargo do escritório Lemat Abogados.
Em declarações à Lusa, o responsável jurídico do escritório, José García Cabrera, adiantou que representa, até ao momento, cerca de 500 pessoas, em Espanha, estimando que existam entre 1,8 e 3 milhões de pessoas afectadas em todo o Mundo, as quais cerca de 250 mil espanhóis.
A notícia de que a justiça espanhola está a investigar o português Rui Pires Salvador por burla foi divulgada no fim-de-semana pelo jornal El Pais.
Em causa está um esquema piramidal que ascende a mais de mil milhões de euros.
Deco recebeu cerca de duas dezenas de queixas
A Deco confirmou hoje ter recebido queixas de pessoas que se sentiram lesadas pela LibertaGia. "Tivemos alguns contactos, num volume não muito elevado, o que não é surpreendente nos esquemas em pirâmide", disse à Lusa o analista financeiro da Deco PROTESTE, André Gouveia, explicando que muitas pessoas acabam por não denunciar a situação "por vergonha ou porque têm esperança de recuperar o seu dinheiro".
André Gouveia estima que tenham chegado à associação de consumidores entre uma a duas dezenas de reclamações escritas, tendo as queixas começado no ano passado, devido a atrasos nos pagamentos.
"Nós apenas pudemos reforçar os avisos que já temos feito. Tal como [a empresa] era apresentada, era um negócio que nos levantava bastantes dúvidas e o que nos aconselhámos foi tentar levantar o dinheiro e, se possível, fazer uma queixa às autoridades", afirmou o mesmo responsável.
Os pagamentos terão sido feitos "sem grandes problemas" até ao verão passado, altura em que começaram a surgir dificuldades, o que não é surpreende André Gouveia.
"Nesta fase inicial, as empresas pagam sempre e, por isso, não há reclamações sobre estes esquemas, porque enquanto estão a pagar ninguém tem razão para se queixar", adiantou.
Promessa de 320%
Um dos lesados, que pediu para não ser identificado, contou à Lusa que foi recrutado por amigos com a promessa de receber "320% sobre o valor das operações" que teria de fazer para a empresa e que passavam essencialmente por recrutar pessoas, assistir a vídeos e clicar em anúncios.
"Perdi 800 euros", desabafou, queixando-se que deveria ter começado a ser remunerado ao fim de três meses, mas nunca chegou a receber o dinheiro.
Segundo as suas contas, deveria ter recebido 420 euros no primeiro mês, "porque já tinha recrutado 10 pessoas", 1.244 euros no segundo mês e 2.580 no terceiro, valores que dependiam das "operações" realizadas e que não ultrapassavam as 30 por dia, uma tarefa à qual dedicava cerca de duas horas diárias.
Quando descobriu que tinha caído "numa alhada tremenda", cobrou explicações a Rui Pires Salvador mas este deixou de atender os telefonemas.
"Ligava de telefones públicos e aí já atendia e inventava desculpas, dizia que a empresa estava a passar por uma reestruturação", relatou.
Confessou ter recorrido ao aconselhamento da Deco, no final de junho, mas não apresentou queixa na polícia porque "não vale a pena".
Estas pessoas alegam que puseram dinheiro na empresa de Rui Pires Salvador, a LibertaGia, para poderem aceder a um serviço remunerado a 350% por ano. Segundo a empresa, apenas tinham de aceder a determinadas páginas e ver anúncios na Internet.
Teoricamente, a remuneração seria contabilizada "online". "As pessoas tinham um balanço online, como se fosse uma conta bancária, e, por cada acesso que faziam, em teoria receberiam uma remuneração", explicou o advogado García Cabrera
O português Rui Pires Salvador dizia aos "investidores" que o dinheiro que iriam receber por esse serviço provinha dos anunciantes. Mas a LibertaGia, alegam os queixosos, nunca pagou qualquer verba à maioria destes "investidores".
"Quando começaram a não receber, a empresa LibertaGia começou a compensá-los com a possibilidade de trazerem novos associados. Ou seja, a empresa dizia que as pessoas receberiam o que tinham em dívida cobrando aos novos associados que trouxessem. Era uma estrutura piramidal", salientou o advogado.
Os dados na posse da Lemat Advogados, escritório baseado em Granada, indicam dois tipos de verbas em falta: entre 27,3 e 45,5 milhões de euros em dinheiro pago pelas pessoas à LibertaGia para poderem entrar no serviço.
"E depois há cerca de 1.079 milhões de euros em dívida da empresa às pessoas. Este valor não é o do investimento que as pessoas fizeram, mas sim o trabalho, a remuneração que deveriam ter recebido e não foi paga", explicou García Cabrera.
O processo em investigação na 5.ª Vara do Tribunal de Granada (Andaluzia, Sul de Espanha) foi aberto em Março, na sequência de uma queixa da Lemat em Fevereiro.