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UTAO: investimento público desilude no início do ano
Os técnicos do Parlamento avisam que não se podem fazer extrapolações para a totalidade do ano a partir de apenas dois meses, mas identificam um desvio na despesa com pessoal. Depois dos mínimos do ano passado, a execução do investimento também desilude.
A Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO) calcula que, quando ajustado para facilitar a comparabilidade entre os dois anos, o investimento está a cair ligeiramente em Janeiro e Fevereiro de 2017 face aos mesmos meses de 2016, com um grau de execução também inferior a esse ano.
"As despesas de capital registaram até Fevereiro de 2017 um grau de execução inferior ao verificado no mesmo período do ano anterior", pode ler-se na nota da UTAO sobre a execução orçamental relativa aos dois primeiros meses do ano. A principal rubrica da despesa de capital é, de longe, o investimento público, que segue esse mesmo perfil.
Recorde-se que o investimento público atingiu em 2016 o nível mais baixo em mais de 20 anos e motivou críticas à esquerda e à direita do PS. Este ano, o Governo está comprometido com um crescimento de 27%, contanto com a recuperação dos fundos comunitários.
De onde vem o desvio nos gastos com salários?
Olhando para a totalidade das rubricas, tal como no ano passado, tanto a despesa como a receita estão a evoluir abaixo do valor orçamentado pelo Governo. A primeira ajuda as contas, enquanto a segunda prejudica-as. No que diz respeito à despesa, os gastos estão a evoluir 2,1 pontos percentuais abaixo do orçamentado, sendo o investimento principal responsável por mais poupanças do que o esperado (-1,3 pontos). Por outro lado, a despesa com salários dos funcionários públicos e compra de bens e serviços está a evoluir acima daquilo que o OE estimava.
"As despesas com pessoal até Fevereiro de 2017 evidenciaram um grau de execução superior ao verificado no mesmo período de análise do ano anterior", pode ler-se no relatório da UTAO.
De referir que pode haver aqui uma discrepância entre aquilo que a UTAO conclui e aquilo que o Governo provavelmente argumentará. Os dados de execução orçamental mostram, de facto, uma queda dos gastos com salários da Função Pública de 0,6%. No entanto, esse resultado está influenciado pela alteração do perfil de duodécimos do subsídio de Natal este ano, que dificulta a comparação com 2016. Se ajustarmos os gastos a essa alteração de perfil – como faz a UTAO – em vez de cair, a despesa dessa rubrica avança 3,6%.
"Para efeitos de comparabilidade, os dados encontram-se ajustados do diferente perfil de pagamentos no âmbito dos duodécimos do subsídio de férias entre 2016 e 2017", refere a UTAO. "Deste ajustamento resulta o aumento das despesas com pessoal em termos ajustados, de 103 milhões de euros, quando em termos não ajustados verifica-se uma redução de 17 milhões face ao período homólogo."
Estas conclusões sobre a execução orçamental devem, no entanto, ser interpretadas com cautela. São apenas dois meses, o que pode dizer pouco sobre a evolução das contas públicas ao longo de 2017, como alerta a própria UTAO. "Decorridos apenas dois meses, a execução orçamental ainda não permite estabelecer extrapolações para o resultado anual", escrevem os técnicos.