Notícia
História do primeiro orçamento do Estado
Já estão digitalizados os primeiros orçamentos. O primeiro Orçamento considerado da modernidade foi feito em 1880-1881. O Negócios recupera um artigo escrito em 2007 sobre os primeiros documentos com as receitas e despesas do Estado.
A Nação (sempre) às voltas com a aritmética
É em 1881 que aparece, pela primeira vez, a designação de Orçamento Geral do Estado, tal como é hoje conhecido. O lendário jornal "O Século" começava a circular. O jornalista e parlamentarista Rodrigues de Sampaio assumia a presidência do governo regenerador que tinha como tutelar da fazenda Lopo Vaz de Sampaio e Melo, o ideólogo do novo – o terceiro – regulamento geral da contabilidade pública, "justamente célebre dadas a algumas inovações introduzidas e dada a circunstância de um número significativo das suas normas terem permanecido em vigor até aos nossos dias", justifica hoje* [13 de Outubro de 2007], 126 anos depois, a Direcção-Geral do Orçamento (DGO).
Atingia-se assim, salienta a DGO, a maturidade do modelo de administração orçamental moderna. O documento de 81 aparece ainda assinado por Henrique de Barros Gomes, ministro da Fazenda do governo progressista de Anselmo José Braamcamp, que se demite a 23 de Março desse ano.
Mas a verdade é que o primeiro orçamento da época liberal, "ainda que não originando legislação orçamental formal, foi apresentado pelo Governo ao Parlamento e debatido por este logo em 1821, apenas alguns meses após o triunfo da revolução vintista", recorda Carlos Bastien, na introdução ao livro "Os orçamentos no parlamento português", coordenado por Nuno Valério, editado em 2006 pela Assembleia da República. "Procurava-se então superar a desarrumação, sigilo e confusão reinantes em matéria de finanças públicas e ordenar a acção financeira do Estado. Procurava-se também, e sobretudo, dar expressão à nova visão política dominante que tomava a discussão e aprovação do orçamento como um momento crucial da afirmação da soberania popular", analisa Bastien.
Esses escritos estão compilados na "Colecção de Orçamentos e outros Documentos de Contabilidade, e Administração Portugueza", que deu origem a um documento histórico que ainda hoje, em tom pardacento, pode ser consultado na biblioteca central do Ministério das Finanças. Trata-se, como se lê, de uma exposição "das operações do Thesouro Nacional no 1º semestre de 1821 e das que pode fazer no estado actual dos rendimentos públicos sem augmentar as suas dividas". Dirigida "às Cortes Gerais, Extraordinárias e Constituintes da nação portugueza, pelo ministro e secretario D’Estado dos Negócios e Fazenda", Francisco Duarte Coelho, a introdução do ministro é aqui transcrita na sua versão original. O equilíbrio orçamental era já tarefa ingrata.
O primeiro tal como agora
O Orçamento Geral do Estado de 1881 – o primeiro a surgir com a designação que ainda hoje prevalece – está digitalizado pelos serviços da Biblioteca Central do Ministério das Finanças, à semelhança dos seus antecessores. Online podem ser consultados documentos como os orçamentos apresentados às Cortes desde 1836 a 1841. Intitulado "Orçamento geral e propostas de lei das Receitas e das Despezas do Estado na Metropole para o exercício de 1880-1881", o documento foi apresentado pelo então ministro dos Negócios da Fazenda, Henrique de Barros Gomes. Para o período de 1880-81 a receita total do Estado deveria somar 28.649.568$000, impulsionada por impostos directos de 6.121.568$000 e indirectos de 14.220.134$000. A Despesa situava-se nos 33.799.518$531, o que se traduzia num saldo negativo de 5.149.950$000. Por ministério, o maior peso estava nas Obras Públicas com uma despesa ordinária de 2.443.823$060 e despesas extraordinárias de 4.163.000$000. "Profundamente convencido de que o primeiro e mais indispensável elemento para regularisar a fazenda publica consiste em descrever com inteira verdade a situação em que ella se encontra, em evidenciar de modo completo perante o paiz a grandeza dos seus encargos, não receiei, ao organizar este orçamento que uma descripção realisada nésses termos podesse affectar desfavoravelmente o credito publico", assinava o ministro.
Nota: *Artigo publicado no Jornal de Negócios, a 13 de Outubro de 2007. Na altura decorriam 126 anos desde o primeiro orçamento. À data actual decorrem 135 anos.