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“14º mês deve acabar para sempre”

Juristas e economistas discutem hoje a sustentabilidade do Estado Social na Faculdade de Direito de Lisboa.

10 de Dezembro de 2012 às 13:37
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A crise de finanças públicas que Portugal atravessa não é uma situação transitória, nem é uma situação de emergência. É para sempre. O diagnóstico, feito pelo professor universitário Paulo Trigo Pereira, leva a uma conclusão inevitável: “Há algum retrocesso social que é inevitável”.

Entre esse retrocesso social, “é evidente que o 14º mês para pensionistas e funcionários públicos deve acabar para sempre”, diz Paulo Trigo Pereira, durante uma conferência sobre a sustentabilidade do Estado Social organizado pelo Instituto de Ciências Jurídico-Politicas da Faculdade de Direito de Lisboa.

Paulo Trigo Pereira considera que os problemas que o País hoje atravessa são múltiplos e dificilmente ultrapassáveis. “Temos um problema de Estado Social, mas também um problema de despesa pública, de crise, de concentração excessiva de poderes no Executivo, e um problema de envelhecimento”.

Actualmente, existem quatro activos para um idoso, mas em 2050 não haverá dois activos para cada reformado, o que colocará um problema de sustentabilidade do pagamento das pensões de reforma. “Ou há um crescimento espectacular, que não vai haver, ou temos um problema”. E aí, “ou a despesa social cai abruptamente, ou teremos de trabalhar até aos 75 anos, descreve o economista, para quem os direitos sociais na Constituição “não são um obstáculo a qualquer reforma”.

“Estado estacionário” não é uma fatalidade

Antes dele, o economista João Ferreira do Amaral discordou de uma visão mais fatalista da agonia económica. Para este professor do ISEG, “o Estado Social não está na origem dos problemas financeiros. A questão é, antes do mais económica”.

As sociedades modernas quase desistiram do crescimento económico, como se o que apelidou de “Estado estacionário” fosse uma fatalidade. “Mesmo sem atingirmos os níveis de crescimento do pós-guerra, é perfeitamente possível alcançar níveis razoáveis de crescimento” com as políticas adequadas.

Para Ferreira do Amaral, seria desejável que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) tivesse um orçamento próprio, com financiamento consignado pelas receitas do Estado.

Concretamente, o professor universitário defende que uma parte do IRS seja consignado ao SNS, de modo a que a população saiba quanto estão a pagar e para introduzir transparência no processo.  “O facto de não haver orçamento próprio faz com que estas receitas venham competindo com as outras, o que levou à criação de uma bola de neve de dívida”.

Pedro Pitta Barros, professor universitário e especialista em economia da saúde, diz tratar-se de uma proposta interessante mas pouco viável: “Acho difícil dizer quanto é que se deve afectar à Saúde em termos de percentagem do PIB”. Aliás, o Orçamento para o SNS já existe, chamam-se transferências do Orçamento do Estado. “O que não há é  uma avaliação à posteriori”, refere.

Pitta Barros concorda que o crescimento da economia é a melhor maneira de resolver o problema do Estado Social, mas falta saber se o crescimento não foi ele próprio afectado pelo Estado Social. E aqui dá como exemplo o aumento de impostos, que hoje em dia “são claramente desincentivadores” aos agentes económicos.  

 

 

"Sustentabilidade" é o que cada um quiser

Do que se fala quando se fala em sustentabilidade de despesas públicas? Que indicadores devem ser usados? A pergunta foi colocada por Pedro Pitta Barros, que acha que “sustentabilidade é o que cada um quiser ver”, usando-se medidas muito distintas. 

Para este economista, a sustentabilidade deve ser medida pelo “crescimento das despesas públicas do Estado Social atendendo às flutuações cíclicas e ao crescimento das receitas públicas por crescimento da economia”. Trata-se de uma definição maleável que exige que ao longo do tempo se façam escolhas diferentes em função do tipo de respostas sociais existentes. 

Pedro Pitta Barros alerta ainda que, quando se discutem reformas estruturais é preciso distinguir as despesas que são efectivamente estruturais e permanentes das que são meramente conjunturais. E será também necessário “atender às preferências da sociedade nas reformas do Estado”, coisa que nem sempre é levado em conta.

 

 

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