Notícia
Le Pen defende regresso ao ECU
A líder da Frente Nacional francesa quer recuperar uma moeda nacional na qual denominar a dívida do país e regressar ao sistema de cabaz de divisas soberanas que existia antes da introdução do euro como moeda física, em 1999.
A líder da Frente Nacional e candidata às presidenciais em França, Marine Le Pen, defende que os países da Zona Euro devem abandonar a moeda única e regressar ao ECU, o sistema monetário que existiu na União Europeia antes de 1999 e no qual conviviam as diferentes moedas nacionais europeias.
Em declarações à Reuters esta quarta-feira, 4 de Janeiro, depois de uma conferência de imprensa que marcou o início do ano, Le Pen defendeu ainda que, caso seja eleita, a dívida nacional francesa será denominada numa nova moeda nacional.
A responsável tinha já argumentado com a mesma ideia esta terça-feira, numa entrevista concedida à RMC/BFMTV: "Uma moeda nacional, com o euro enquanto moeda comum. Eu quero uma moeda nacional porque é um pilar da soberania e permite adaptar a economia. O ECU era o quê? Então, é semelhante!"
A saída da França do euro e da União Europeia tem sido defendida por Le Pen, que advoga não só a supressão da UE como de outras duas camadas administrativas no país – regiões e intercomunidades -, e a organização alternativa em torno de comunas (municípios), departamentos (estrutura intermédia entre as regiões e as comunas) e do Estado, acompanhada de uma "revalorização do estatuto do autarca."
O ECU – European Currency Unit, ou Unidade de Conta Europeia, que vigorou entre 1979 e 1999 – era um cabaz das divisas transaccionadas nos então Estados-membros, constituindo uma média ponderada entre elas.
Citado pela Reuters, o economista da Frente Nacional, Jean-Richard Sulzer defende que os franceses poderiam ter dois cartões de crédito, um denominado em euros e outro em ECU's. E que o sistema que o partido defende teria taxas de câmbio fixas, mas permitiria ajustes excepcionais, eliminando a flutuação permanente do valor, o que "criaria grande instabilidade aos nossos exportadores".
A Unidade de Conta Europeia foi criada em 28 de Junho de 1974, a valer 1,20 dólares, sendo sucedida pelo ECU em 1978. O cabaz foi criado um ano depois. Em 1987, de acordo com dados do Banco de Portugal, o Banco Mundial aceitou o ECU para projectos e pagamentos relacionados com as suas operações de empréstimo.
Para o estratega Neil Mellor, do Bank of New York Mellon, esta alteração traria muitos problemas práticos.
"É um assunto para a França, mas se Le Pen ganhar será um assunto para a Zona Euro como um todo," disse por seu turno Patrick O'Donnell, da Aberdeen Asset Management, antecipando que o mercado venha a "votar com os pés" e um aumento substancial dos "spreads".
Em 1989, a moeda portuguesa - o escudo – valia 0,8% do total do cabaz de 13 divisas europeias incluídas então no ECU, tendo um peso semelhante ao do dracma grego. O marco alemão (30,1%), o franco francês (19% do total) e a libra esterlina (13%) representavam, juntas, quase dois terços do cabaz.
A 1 de Janeiro de 1999, com a entrada do euro – com cada unidade a valer 200,482 escudos no caso de Portugal – o ECU foi substituído pela moeda física, passando cada ECU a equivaler a um euro.
(Notícia actualizada às 16:00 com mais informação)