Notícia
Centeno vê "janela de oportunidade" para reforçar a Europa
A um dia de assumir oficialmente o cargo de líder do Eurogrupo, em Paris o ministro Mário Centeno disse querer aproveitar a actual conjuntura económica e política para "progredir na construção europeia".
Mário Centeno assume o compromisso de, enquanto presidente do Eurogrupo, ser um agente para reforçar a integração europeia. No dia em que recebeu, em Paris, o "sino do Eurogrupo" (uma espécie de passagem de testemunho) das mãos do ainda líder Jeroen Dijsselbloem, o ministro português das Finanças falou num "desafio muito motivante" e prometeu trabalhar em prol de um "processo de construção de uma Europa mais robusta e resistente a crises".
Para Mário Centeno, o bom momento proporcionado pela actual conjuntura, quer política quer económica, deve ser aproveitado para avançar com as reformas necessárias no seio do bloco do euro.
Nesse sentido, Centeno avisa que será determinante assegurar que os Estados-membros do euro mantenham um compromisso com o processo de construção europeia. Centeno fala numa "janela de oportunidade que tem duas dimensões" que criam as condições necessárias "para progredir na construção europeia".
A primeira é "política" e decorre do "início de novos ciclos políticos em vários países relevantes na Europa", como a França e a Alemanha, onde esta manhã foi alcançado um acordo de princípio entre o bloco conservador (CDU/CSU) da chanceler Angela Merkel e o SPD de Martin Schulz para dar início de conversações formais para a formação de governo.
Centeno considera que este acordo na Alemanha "é uma boa notícia". Em Março haverá também eleições em Itália, a terceira economia do euro, porém são grandes as perspectivas de instabilidade política no país uma vez concluído o acto eleitoral.
Já segunda dimensão está relacionada com a vertente económica, com o reforço do crescimento e a posição orçamental mais equilibrada dos países da moeda única e com a poupança líquida e externa favorável à Europa.
Tendo em conta estas condições, Centeno pretende agora "trazer essas poupanças para o investimento no futuro da Europa, concluir a União Bancária e discutir uma capacidade orçamental para a União que promova o investimento e funcione como mecanismo de estabilização".
Centeno insiste em orçamento comum na Zona Euro
O ministro português reitera assim a intenção de criar mecanismos na Zona Euro de corrigir choques assimétricos e de constituir uma capacidade orçamental comum na região, em linha com as propostas para a Europa feitas pelo presidente francês Emmanuel Macron, com quem Centeno esteve hoje reunido e com quem partilha "preocupações e ambição".
"A posição do presidente Emmanuel Macron é muito importante. Temos de alavancar nessa ambição para promover um processo de reformas a nível europeu", declarou Centeno aos jornalistas. O diagnóstico é conhecido: "completar a integração na área do euro que hoje ainda é incompleta".
Assim, Mário Centeno assume que as "questões orçamentais estão no centro desta discussão", o que passa por "saber se a União Económica e Monetária deve, ou não, ter uma capacidade autónoma". "É um debate longo mas que, estando em cima da mesa, eu comprometo me a tê-lo com todos. Sempre com o objectivo de criar consensos equilibrados face à vontade das partes", acrescentou o governante luso.
Apesar da incompletude da Zona Euro, Centeno lembra que a Europa "enfrentou uma crise muito séria e actuou", tendo os Estados-membros do euro realizado "reformas ambiciosas nas diferentes áreas", tudo "reformas que têm de se manter".
Por fim, palavras ainda sobre a execução orçamental da França e de Portugal. Sobre o país de Macron, Centeno garantiu não estar preocupado com a perspectiva de que Paris volte a violar as regras europeias registando um défice superior a 3% do PIB. Centeno salientou a existência o "forte compromisso" das autoridades gaulesas em ter uma execução orçamental que "leve a França a sair do procedimento por défices excessivos".
Quanto a Portugal, o ministro recordou que uma vez mais o Governo cumpriu "todas as metas que apresentámos", porém Centeno voltou a não esclarecer se o défice orçamental de 2017 se fixou mesmo em 1,2% como avançado esta semana pelo primeiro-ministro António Costa, um número que o titular das Finanças lusas rejeitou confirmar.