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BCE alerta para riscos de contágio caso a Grécia entre em incumprimento

Se as negociações entre a Grécia e as instituições credoras não chegarem rapidamente a bom porto e Atenas entrar em incumprimento, o BCE alerta para os riscos de contágio. Poder-se-ia seguir a subida dos juros da dívida noutros países da Zona Euro, especialmente nos mais vulneráveis, onde o BCE inclui Portugal.

BCE
28 de Maio de 2015 às 11:27
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No relatório de Estabilidade Financeira publicado esta quinta-feira, 28 de Maio, pelo Banco Central Europeu (BCE), a instituição liderada por Mario Draghi alerta para os riscos de contágio inerentes à possibilidade de a Grécia e as instituições credoras não alcançarem um acordo rapidamente.

 

"Na inexistência de um rápido acordo sobre as reformas estruturais necessárias, o risco de um ajustamento em alta do prémio de risco exigido à dívida soberana dos países vulneráveis da Zona Euro pode materializar-se", refere o relatório do BCE.

 

Ou seja, caso não haja acordo entre Atenas e o Grupo de Bruxelas rapidamente, que permita à Grécia assegurar o pagamento de cerca de 311 milhões de euros ao Fundo Monetário Internacional (FMI) previsto para 5 de Junho, os juros da dívida pública dos países mais vulneráveis da Zona Euro podem subir, sustenta o BCE.

 

Para além de Portugal, a autoridade monetária europeia inclui entre os referidos países vulneráveis a Espanha, a Itália, a própria Grécia, o Chipre e a Eslovénia.

 

Num discurso proferido pelo próprio Mario Draghi em Sintra, no âmbito do Fórum do BCE que ali se realizou na semana passada, o italiano insistiu na ideia da necessidade de continuarem a ser prosseguidas reformas estruturais na Zona Euro. 

 

O britânico Guardian destaca ainda uma parte importante do documento hoje divulgado: "Os riscos soberanos emanados, em particular, da Grécia cresceram fortemente devido à incerteza política ao longo dos últimos seis meses, enquanto o sector financeiro grego assistiu a substanciais fugas de depósitos".

 

Mas apesar de o relatório do BCE alertar para "o forte aumento" do risco de incumprimento da Grécia perante o impasse que se mantém, desde Fevereiro, nas conversações com os credores, Vítor Constâncio já veio tentar colocar alguma água na fervura.

 

Em afirmações produzidas esta manhã em Frankfurt, o vice-governador do BCE garantiu que a autoridade monetária continua a trabalhar segundo o pressuposto de que a Grécia não irá abandonar a Zona Euro, tendo ainda dito aos jornalistas presentes que os bancos gregos continuam a ser encarados como solventes.

 

Razão pela qual o BCE assegurou 114 mil milhões de euros adicionais para a linha de liquidez de emergência (ELA, na sigla inglesa) destinada à banca helénica, disse Vítor Constâncio. 

 

Os juros das dívidas portuguesa e espanhola reagiram em alta nos mercados secundários, sendo que as taxas de juro associadas às obrigações helénicas continuam em queda na manhã desta quinta-feira.

 

A taxa de juro exigida pelos investidores para transaccionar dívida portuguesa nos mercados secundários sobe 0,2 pontos base para 0,039% no prazo a três meses e avança 2,8 pontos base para 2,514% na maturidade a 10 anos. Já a dois anos desce 3,4 pontos para 0,093%.

 

Também os juros associados às obrigações espanholas seguem em alta, estando a subir 1,0 pontos para 0,020% na maturidade a dois anos e a avançar 1,7 pontos para 1,820% a 10 anos.

 

Em sentido inverso, a taxa de juro da dívida grega segue em queda em praticamente todas as maturidades. A dois anos, os juros das obrigações helénicas recuam 14,2 pontos base para 23,460%, a quatro anos descem 42,8 pontos para 16,124% e a 10 anos deslizam 5,4 pontos para 11,041%.

 

Atenas e Grupo de Bruxelas continuam a apresentar versões díspares

 

Depois de esta quarta-feira o governo grego ter avançado que um acordo com os credores estava iminente, o vice-presidente da Comissão Europeia, Valdis Dombrovskis, apressou-se a vir a terreiro explicar que "ainda não estamos lá".

 

Numa indirecta ao Executivo helénico liderado por Alexis Tsipras, Dombrovskis lembrou que "sabemos que a expectativa era que fosse alcançado um acordo até ao final de Abril e já estamos no final de Maio". O relatório do FMI hoje divulgado também notava que "a lentidão e incerteza no processo negocial entre o novo governo grego e os seus credores contribuiu para um período de grande volatilidade nos mercados gregos".

 

A situação financeira da Grécia continua a degradar-se e Atenas já chegou mesmo a assumir que não poderá cumprir as suas obrigações, face ao FMI, em Junho, caso não alcance um acordo final que permita desbloquear os 7,2 mil milhões de euros previstos no programa de assistência helénico, ainda em curso até ao final do próximo mês, que estão dependentes de aprovação da quinta e última avaliação ao programa.

 

Apesar do desmentido ontem feito pela Comissão Europeia, já esta quinta-feira o porta-voz do Executivo grego, Gabriel Sakellaridis, disse estar "esperançoso" de que a Grécia e as instituições credoras possam finalmente firmar um acordo até ao próximo domingo, afiançando acreditar que as partes "estão próximas de um acordo".

 

Uma vez mais, a resposta da Comissão Europeia não se fez tardar, com a porta-voz desta instituição, Annika Breidthardt, a garantir que subsistem várias "questões em aberto" para resolver antes de se poder concluir o processo negocial. Em Dresden, na Alemanha, à entrada para o encontro dos ministros das Finanças do G7, a directora do FMI, Christine Lagarde, reiterou que "ainda há muito trabalho por fazer" antes de se alcançar um acordo entre a Grécia e os credores internacionais.      

 

"São necessários mais progressos nas negociações, (…) ainda não estamos lá", disse a porta-voz da Comissão citada pelo Guardian. Ontem, Valdis Dombrovskis lembrava que um dos temas que continua a causar diferendos entre as partes prende-se com as metas para o excedente orçamental primário e as reformas ao mercado com que Atenas terá de se comprometer.

 

Sabe-se também que a reforma do IVA para apenas dois escalões e uma reforma do sistema grego de pensões continuam a provocar tensões, dado que foram áreas classificadas de "linhas vermelhas" pelo Syriza no programa eleitoral apresentado antes das legislativas de 25 de Janeiro.

 

(Notícia actualizada pela última vez ao 12h25 com subtítulo)

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