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Risco político está a mudar os mercados

Durante muito tempo, o risco político tinha significados diferentes caso se estivesse a investir em mercados desenvolvidos ou em economias emergentes — e a solidez das instituições era o principal diferenciador. Nos últimos oito meses, no entanto, essa distinção tornou-se muito menos evidente, e um número crescente de investidores passou a pensar sobre qual seria a melhor forma de reagir.

23 de Fevereiro de 2017 às 15:26
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Para quem investia em mercados desenvolvidos, o risco político normalmente restringia-se a mudanças dentro de faixas relativamente estreitas em torno do posicionamento político dos governos em relação a défices e orçamento, desregulamentação e, às vezes, liberalização de capital e comércio.

 

Não era assim para quem investia em mercados emergentes, onde o risco político poderia facilmente envolver mudanças radicais na orientação económica, a especificação do comércio e controles de capitais, a operação do sistema de taxas de câmbio e inclusive políticas de nacionalização e cobrança de impostos excessivos. Além disso, como ilustrado pelo caso da Yukos, outrora uma potência petrolífera russa, o risco político também poderia implicar a ruptura total de uma empresa que de outra forma seria saudável e rentável.

 

A credibilidade e a estabilidade das instituições e o respeito ao Estado de Direito foram alguns dos factores mais importantes a contribuir para essa diferença notória. Essas características ancoravam na organização económica e financeira, mantendo, de forma geral, a estabilidade económica e relativa previsibilidade.

 

Até há tempos, essa distinção conseguiu suportar diversas mudanças — inclusive na Grécia, onde o Governo Syriza, uma coalizão da esquerda radical, foi eleito em 2015 com a promessa de realizar grandes mudanças políticas, mas acabou por fazer essencialmente a mesma abordagem do seu antecessor.

 

Depois, veio o referendo do Brexit. David Cameron, então primeiro-ministro e líder do Partido Conservador, cometeu o que agora é visto como um enorme erro de cálculo político quando realizou, em Junho do ano passado, um referendo para decidir se o Reino Unido deveria sair da União Europeia. A surpreendente vitória da campanha pela saída tirou Cameron do cargo e agora investidores e empresas enfrentam dúvidas significativas em relação ao arcabouço jurídico que vai reger as relações económicas e financeiras do país com seu principal parceiro comercial.

 

Agora, é a vez de a França injectar risco político nos mercados.

 

Nos preparativos para a eleição presidencial que acontecerá no segundo trimestre, acontecimentos incomuns e inesperados nos partidos tradicionais de ambos os lados do espectro abriram uma possibilidade para que Marine Le Pen, líder de extrema-direita da Frente Nacional, dispute seriamente o Palácio do Eliseu. Como a plataforma do seu partido pede a saída da Zona Euro, a negociação de obrigações francesas disparou na semana passada e os diferenciais de risco aumentaram em relação às bunds alemães.

 

Como resultado, parece que para os investidores se tornou mais conflituante tratar o risco político relativo ao preço de obrigações, acções e câmbios do mercado desenvolvido. É compreensível que poucos sintam a necessidade — pelo menos por enquanto — de adoptar uma metodologia do mercado emergente. Mas não fazer nada está a tornar-se cada vez mais incómodo, considerando que os movimentos contrários ao normal estão a conquistar adeptos em diversos países avançados.

 

A resposta poderia muito bem ser uma evolução lenta e gradual, em vez de uma revolução.

 

É improvável que os mercados consigam ignorar o aumento generalizado do risco político no mercado desenvolvido. Desse modo, muitos indicadores de volatilidade, com a notável excepção da protecção contra a queda extrema, continuam demasiado baixos. Afinal, os efeitos de vários anos de um crescimento económico demasiado fraco e insuficientemente inclusivo alimentaram uma mistura entre ira política, receio em relação às instituições e perda da confiança na opinião de especialistas. Mas o Estado de Direito dos mercados desenvolvidos, o interesse próprio — mesmo que não seja do tipo mais esclarecido — e os sistemas de verificação e equilíbrio há muito em vigor provavelmente vão actuar como forças restritivas que limitarão a probabilidade de se cair num regime semelhante ao dos mercados emergentes.


Esta coluna não reflecte necessariamente a opinião do conselho editorial nem da Bloomberg LP e de seus proprietários.

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