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Macron enfurece aliados ao defender Brexit sem acordo

Theresa May jantou à parte dos outros líderes europeus, o que tem sido o normal nas últimas cimeiras. Mas foi o francês Emmanuel Macron que ficou isolado.

11 de Abril de 2019 às 12:47
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A maior parte dos líderes europeus estava de acordo que uma extensão longa, de até um ano, daria a May o tempo suficiente para trabalhar de forma a ganhar o apoio para o seu acordo de saída. Macron insistiu que isso colocaria a União Europeia em risco.

 

Pelas 22:30 todos os assessores tinham saído da sala onde decorria a cimeira europeia, deixando os 27 líderes da União Europeia a debater os detalhes sobre uma nova extensão do processo do Brexit.


"Tudo o que seja depois de 30 de junho deixa a UE vulnerável", afirmou Macron, de acordo com um responsável europeu que obteve a informação junto de um dos líderes que participaram na reunião. Enquanto falava, colocou a mão no coração.

 

Pela mesma altura, May estava na embaixada britânica, que fica a cerca de 1,5 quilómetros de distância, na baixa de Bruxelas, onde jantou borrego assado com os seus assessores.

 

Jogo duro

A primeira-ministra britânica causou melhor impressão nos seus parceiros europeus do que nas reuniões anteriores. Atualizou os congéneres sobre a sua batalha para conseguir o apoio parlamentar para o acordo de saída que negociou em novembro. Contudo, duas pessoas que foram informadas sobre o que se passou na reunião, dizem que May foi evasiva quando questionada sobre como estavam as negociações internas.

 

Ninguém na sala tinha muita convicção sobre qual seria o resultado até Macron ter feito a sua declaração, revelou um responsável. Havia uma preocupação crescente entre os líderes de que o francês estava preparado para o risco de uma saída sem acordo de forma a forçar a questão.

 

Um Brexit desordeiro não é a pior de todas as opções, afirmou aos jornalistas um responsável francês no briefing que fez aos jornalistas.

 

Mas nem todos os Estados-membros estão tão seguros desta visão.


França sozinha

Dentro da sala onde decorria a cimeira, Macron lutava por conquistar apoio.

 

Até a Grécia, um aliado tradicional que quase sempre está ao lado de França nas decisões-chave, teve uma abordagem diferente. O primeiro-ministro Alexis Tsipras argumentou que forçar o Reino Unido a participar nas eleições europeias no próximo mês poderia funcionar como uma punção no momento do Brexit.

 

"Esta será a maior derrota dos ‘brexiteers’, e provavelmente o início do fim do Brexit", afirmou Tsipras, segundo uma transcrição da sua intervenção que foi partilhada por diplomatas.  Foi então que Tsipras pediu aos parceiros para considerarem o apoio da UE a esta possibilidade.

 

No final da primeira ronda de discursos, 17 líderes defenderam uma extensão longa para o final do ano e outros três disseram que poderiam aceitar este cenário. Apenas França defendia um adiamento curto até junho, no máximo, enquanto outros países que partilhavam da visão francesa estavam preparados para se comprometer.

 

Macron entrou na reunião apelando aos seus parceiros que aceitassem a decisão dos britânicos de saírem da União Europeia. "Lamento essa escolha, não foi o que defendi, mas não nos ajuda desafiar [o resultado], recuar ou fazer qualquer coisa para evitar que seja implementado", afirmou o presidente francês perante os jornalistas. "Temos um renascimento europeu para fazer avançar", acrescentou, numa referência ao "slogan" da sua campanha para as eleições europeias.

 

Macron enfurece aliados
Macron também enfatizou a forma como os 27 Estados-membros da UE trabalharam para manter a sua unidade ao longo dos 34 meses de negociações. Essa unidade seria duramente testada nas primeiras horas desta quinta-feira, durante a reunião.

 

Chegando à fase das negociações, houve consenso sobre dar mais tempo a May, pelo menos até ao final do ano, para que a primeira-ministra consiga vencer as suas batalhas políticas no Reino Unido. Mas Macron recusou ceder.

 

O presidente francês argumentou que permitir que o Reino Unido se mantenha na UE para além do verão será uma distração para os planos dos Estados que permanecerão na região para fortalecerem a UE. O próprio Macron apostou muito do seu capital político no projeto europeu e precisa de uma vitória após meses de protestos dentro de portas.

 

Uma extensão longa poderia também deixar May numa posição lamentável, e a UE poderia ver-se numa situação em que teria de lidar com Boris Johnson como primeiro-ministro nessa altura. E pediu proteção.

 

Algumas das condições que Macron queria ver garantidas eram razoáveis, revelou uma fonte europeia. O francês queria reduzir os direitos de voto do Reino Unido nas decisões europeias devido aos planos de saída.

 

A sua teimosia gerou fúria noutros líderes, segundo três pessoas que foram informadas sobre as negociações.

 

"Estamos a resolver os nossos problemas internos", recordou o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker a Macron, de acordo com outra fonte.

 

O acordo foi finalmente alcançado, com um adiamento para outubro, o que significa que o Reino Unido sairá antes de a próxima Comissão Europeia tomar posse, limitando a participação de Londres no futuro da UE. Macron reclamou esta vitória.  

Mas para lá chegar, Macron expôs as tensões entre os 27 países que estão a negociar com os britânicos, pela primeira vez durante as negociações. Tudo o que conseguiu foi a redução, por alguns meses, da data limite de saída. E os britânicos podem, ainda assim, conseguir uma nova extensão depois de outubro.


(Texto original: Macron Gets on Everyone’s Nerves With Brexit Hard Man Act)

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