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O perigo está na retirada dos apoios orçamentais, não na inflação, avisa FMI

Se no final do próximo ano o crescimento na Europa abrandar muito, nem a política orçamental, nem os bancos centrais terão grande forma de ajudar, avisa o diretor do departamento europeu do FMI, Alfred Kammer.

FMI disse que a pandemia pode ser uma “ameaça muito séria” para a estabilidade do sistema financeiro.
Yuri Gripas/Reuters
20 de Outubro de 2021 às 14:00
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Com a taxa de inflação a subir, os holofotes apontam para os bancos centrais, à espera de ver se as ações correspondem efetivamente às palavras, que têm garantido que a situação é apenas temporária e não se justifica, por isso, ir a correr retirar estímulos monetários. Mas não é para aqui que se devia estar a olhar, avisa Alfred Kammer, diretor do Departamento Europeu do Fundo Monetário Internacional, num artigo publicado esta quarta-feira. O perigo está na definição da política orçamental, assegura.

"Apesar de haver uma incerteza considerável sobre a inflação, os bancos centrais têm muita experiência a lidar com ela e podem mobilizar ferramentas rapidamente e de forma flexível. Pelo contrário, retirar as medidas de despesa de emergência que os governos implementaram para apoiar as suas economias é uma tarefa enorme e complexa", argumenta Alfred Kammer, num artigo publicado no blog do FMI, pela ocasião da divulgação do relatório regional para a Europa, também esta quarta-feira. "Se os políticos falham, arriscam-se a repetir o crescimento morno que se seguiu à crise financeira de 2008", avisa.

Alfred Kammer diz que as economias mais avançadas da Europa arriscam-se a chegar ao final de 2022 com um ritmo de crescimento mais baixo do que o previsto (de 1% ou menos, em vez dos 2% a 3% que se preveem agora) e não ter como reagir. Nessa altura, "a política orçamental não terá capacidade para mexer um centavo", antecipa o responsável do FMI. "E os bancos centrais não estarão bem posicionados para ajudar, uma vez que as taxas diretoras já estão tão baixas quanto podem ir", soma.

O economista explica que a cada trimestre que as economias se atrasarem a atingir o pleno emprego cresce o desafio de depois reintroduzirem essas pessoas no mercado de trabalho. Para Kammer, o problema não será tão grande para as economias emergentes, porque aplicaram menos estímulos para responder à pandemia (reservando agora alguma margem) e porque têm um crescimento potencial mais elevado.

Em contrapartida, no que diz respeito à inflação Kammer recupera os argumentos que justificam a leitura corrente de que será temporária, e até antevê que possa ser complicado para o Banco Central Europeu atingir o objetivo de médio prazo de 2%. 

Por isso, Kammer defende que "há bons argumentos" para baixar os défices orçamentais que estejam demasiado elevados. Mas nota que em caso de dúvida sobre a força da recuperação económica, é preferível errar por excesso de apoios, do que por defeito.

"Acertar no ritmo de retirada dos apoios orçamentais vai ser complicado. O melhor caminho parece ser errar por retirar pouco os estímulos, em vez de retirar demasiado, sobretudo nas economias com grande espaço orçamental, de forma a acautelar o risco de travar o momento da recuperação económica", defende.
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