Notícia
Brexit: Prazo a esgotar-se, o mesmo impasse
O Reino Unido e a União Europeia acordaram fechar o dossiê da futura relação comercial até ao final deste domingo. Equidade regulatória é o principal entrave, que pode ditar a rutura. Boris Johnson e Ursula Von der Leyen deverão conversar ainda hoje.
Haverá ou não um acordo comercial entre o Reino Unido e a União Europeia até ao fim do período transitório do Brexit, que acaba no final do ano? A resposta é suposto ser conhecida hoje, mas como tem sido habitual neste processo, as negociações tendem a arrastar-se até à 25ª hora.
O dia de ontem foi marcado por intensas conversações até tarde, que serão retomadas hoje. Segundo o Financial Times, o principal motivo de discórdia continua a ser o "level playing field" regulatório.
A União Europeia exige que o Reino Unido se comprometa a adotar a atual e futura regulamentação europeia em temas como as ajudas de Estado, as regras ambientais ou os direitos dos trabalhadores, de forma a garantir que as empresas britânicas não beneficiam de vantagens indevidas no acesso ao mercado europeu, concorrendo de forma desleal.
Já o governo liderado por Boris Johnson não aceita que Bruxelas continue a ditar regras para serem implementadas pelo Reino Unido, cedendo a sua soberania nestas matérias.
Uma fonte do governo britânico disse à Sky News que "a oferta que a União Europeia tem em cima da mesa continua a ser inaceitável". O cenário mais provável em cima da mesa continua a ser a inexistência de um acordo.
O primeiro-ministro britânico e Ursula von der Leyen vão conversar ainda hoje para tentar fechar um entendimento ou, não sendo possível, decidir se as negociações devem prosseguir.
Segundo disse um diplomata da União Europeia ao Financial Times, Bruxelas propôs um mecanismo de equivalência, gerido por um comité conjunto composto por membros da UE e do Reino Unido, com a possibilidade de recorrer para a arbitragem em caso de conflito. Um modelo que o Governo britânico recusa.
Boris Johnson pressionado internamente
Por fechar está também o segundo principal entrave das negociações: os futuros direitos de pesca da União Europeia em águas britânicas. O Governo fez saber que deu ordens à marinha para se preparar para uma vigilância apertada de forma a impedir a pesca ilegal, caso não exista acordo até ao final do ano.
Algumas figuras do Partido Conservador vieram já contestar a atitude de Boris Johnson. Chris Patten, antigo presidente dos Tories, referiu-se ao primeiro-ministro como um "nacionalista inglês". A enorme incerteza que ainda persiste, a três semanas do fim do período de transição do Brexit, também está a ser criticada por líderes empresariais.
A União Europeia representa cerca de 47% das exportações britânicas. A ausência de um acordo terá um impacto negativo de 8% no PIB no Reino Unido a longo prazo, segundo um estudo da London School of Economics. Segundo o Banco de Inglaterra, o impacto negativo a longo prazo na economia será maior do que o da pandemia da covid-19.