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Portugal e Holanda têm um mar de oportunidades para explorar juntos
A histórica ligação ao mar de Portugal e Holanda, dois países de vocação global mas europeístas, é o ponto de partida para uma nova fase de cooperação económica, com o foco nas energias sustentáveis e na indústria aeroportuária e aeronáutica.
Duas semanas antes da visita de Estado a Portugal dos reis dos Países Baixos, Willem-Alexander e Máxima, o Ministério dos Negócios Estrangeiros holandês convidou um grupo de jornalistas portugueses para conhecerem melhor as apostas que a ‘laranja mecânica' está a fazer para preparar o futuro.
Do lado holandês, acredita-se que é possível aprofundar as relações económicas com Portugal em sectores-chave, como as energias limpas, a indústria aeroportuária, aeronáutica e aeroespacial, ou os portos marítimos, a agricultura e a tecnologia, tudo com base no forte investimento na inovação.
E inovação tem sido uma das palavras mais usadas pelos políticos portugueses nos últimos anos para definir a prioridade da política económica, pelo que há claramente interesses comuns e especializações individuais que podem criar importantes sinergias.
Se a Holanda tem o impressionante Porto de Roterdão, que se impõe no Mar do Norte, Portugal tem o Porto de Sines como magistral entrada do Atlântico Norte e, do lado de lá, acredita-se que mais do que rivalidade, pode haver complementaridade entre as estruturas.
Depois, os Países Baixos contam com alguns dos aeroportos mais movimentados da Europa e estão na crista da onda no que toca à investigação aeronáutica e aeroespacial, enquanto Portugal está a desenvolver o seu sistema aeroportuário com o lançamento do novo aeroporto de Lisboa, além de ter, recentemente, captado o importante investimento da companhia de aviação brasileira Embraer, que os holandeses têm debaixo de olho.
Lá, como cá, também há a forte cultura de desenvolvimento das energias renováveis e, no sector agrícola, a potente Holanda (segundo maior exportador mundial de produtos agrícolas) pode dar uma ajuda ao parceiro luso, que tem procurado dar impulso a esta área, como prova o Alqueva.
Além disso, há espaço para um aprofundamento das relações políticas, até para responder aos desafios que dois Estados relativamente pequenos (em dimensão, grandes em História) enfrentam no seio de um União Europeia em mudança, obrigada a reinventar-se após o ‘Brexit', isto é, a decisão de saída do Reino Unido do bloco europeu.
De resto, há muito mais semelhanças entre Portugal e a Holanda do que poderiam parecer à primeira vista, e vão muito além do facto de ambos os países serem bons de bola e terem sido campeões europeus de futebol: a Holanda em 1988 e a equipa das quinas, liderada por Cristiano Ronaldo, em 2016, sendo o atual detentor do troféu.
Olhando para trás, além da tradição marítima que os levou à descoberta do mundo, ambos os países estiveram durante um certo período da sua história integrados na coroa espanhola, e ambos conseguiram a independência de Madrid. E também estiveram ambos ocupados pelas forças de Napoleão.
Tanto Portugal como a Holanda já foram impérios globais, regidos por monarquias e repúblicas, sendo que neste caso o país das tulipas tem a originalidade de ter sido um dos poucos do mundo que começou por ser república e é hoje uma monarquia.
Ambos foram ao longo dos tempos alvos de invasões e guerras constantes, até entre si, mas também partiram para conquistar territórios por essa Terra fora, tendo sido ‘vizinhos' em lugares de África e da Ásia, mas também no Brasil, onde os portugueses acabaram com o sonho da Nova Holanda (Nordeste do Brasil) em meados do século XVII.
Ora, depois de navegarem por águas agitadas durante boa parte do passado, hoje, quer Portugal quer a Holanda consolidaram-se como democracias estáveis.
A postura pacífica no conturbado contexto atual das relações internacionais é outro denominador comum entre portugueses e holandeses, com ambos os países a privilegiarem a integração em forças de manutenção de paz, mas também a disponibilizarem meios para o combate ao terrorismo.
A aposta no multilateralismo também é comum, com ambos os países presentes e ativos nas principais organizações internacionais, como a Organização das Nações Unidas (ONU) ou a Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO).
A defesa dos Direitos Humanos, das liberdades individuais, do pacifismo e da justiça internacional e do meio ambiente são outros campos em que Portugal e a Holanda caminham de mãos dadas rumo ao amanhã.
Porém, se a nível político, social e até cultural há muitas semelhanças, é justo dizer que em termos económicos e financeiros há um fosso que separa os dois países, com a Holanda a contar com uma saúde das Finanças Públicas que não tem correspondência na terra de Camões e Pessoa.
Sendo certo que o Reino dos Países Baixos, com 17 milhões de habitantes, tem outra pedalada (ou não houvessem mais bicicletas do que pessoas nas grandes cidades, como Amesterdão, Roterdão ou Haia) no que toca à riqueza e condições de vida da população, também é verdade que o bom momento económico que Portugal atravessa traz legítima esperança na melhoria da situação para os 11 milhões de lusitanos que habitam no extremo mais ocidental da Europa, tão cobiçado por cada vez mais turistas.
Por tudo isto, é caso para se dizer: Portugal e Holanda, muito mais é o que nos une, que aquilo que nos separa.
Rei dos Países Baixos quer aprofundamento das relações com Portugal
O rei dos Países Baixos, Willem-Alexander, definiu Portugal como um país moderno e com futuro, antecipando um aprofundamento das relações bilaterais antes da sua visita de Estado que, a par de uma missão económica holandesa, vai decorrer em outubro.
O chefe de Estado holandês considerou, num encontro com jornalistas portugueses em Haia, que existe já uma base sólida nas relações entre os dois países, com mais de 350 anos, mas destacou que há oportunidades para fortalecer a cooperação económica e política entre as partes.
As energias renováveis e a aeronáutica são os setores destacados por Willem-Alexander, que sublinhou a participação de 25 empresas holandesas na missão a Portugal e realçou a aposta portuguesa nestas áreas, bem como na inovação, traduzida por exemplo com o acolhimento em Lisboa da Web Summit, a principal feira tecnológica do mundo.
Já em termos políticos, os desafios levantados à União Europeia (UE) pelo ‘Brexit', que o rei dos Países Baixos lamentou - até pelo forte peso das trocas comerciais com o Reino Unido na economia ‘laranja' -, levam ao reforço da cooperação com outros países em diferentes geografias, o que, no caso de Portugal, engloba o espaço lusófono que se estende por quatro continentes através da língua.
Por tudo isto, o monarca holandês revelou que encara a visita a Portugal com muita expectativa, elogiando o trabalho que o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, tem desenvolvido na defesa e representação dos interesses portugueses.
Willem-Alexander fez questão de salientar a recuperação económica de Portugal que, depois de ter sido um dos países europeus mais afetados pela crise económica e financeira recente, mostrou a resiliência necessária para superar esse período ‘negro'.
Segundo o chefe de Estado da Holanda, o turismo é outro dos trunfos que Portugal tem para potenciar, sendo o mercado holandês um dos clientes de referência.
Antes de assumir a coroa holandesa, o então príncipe Willem-Alexander já tinha visitado Portugal nalgumas ocasiões, a primeira das quais em 1986 e a outra durante o Campeonato da Europa de Futebol (Euro 2004).
Ainda sobre o ‘Brexit', o rei dos Países Baixos vincou as fortes relações comerciais entre a Holanda e o Reino Unido, assinalando que os 27 Estados-membros que vão continuar no bloco europeu se estão a manter unidos nas negociações com Londres.
E considerou que é hoje claro que todos os países que vão permanecer na UE querem e vão continuar juntos, mantendo-se unidos para reforçar o processo de construção europeia.
Quanto ao Reino Unido, apesar da decisão de sair da União Europeia, Willem-Alexander defendeu que as partes devem continuar a apostar na cooperação, agora já não como parceiros da UE, mas enquanto países europeus.
Relativamente ao arrastar das negociações relativas à formação do Governo holandês, que duram há seis meses, Willem-Alexander sublinhou que a Holanda tem tradição em contar com executivos formados com base em coligações, e que, desta feita, nem sequer foi batido o recorde de tempo para o efeito.
Na sua opinião, a Holanda tem um sistema democrático muito robusto, pelo que o principal interesse do país é que o processo seja sério e que o resultado seja positivo.
O rei Willem-Alexander e a rainha Máxima vão estar em Portugal em visita de Estado de 10 a 12 de outubro, a convite do Presidente da República, deslocação que vai coincidir com a realização de uma missão económica.
Segundo a presidência da República, essa missão será "chefiada pela ministra do Comércio Externo e Cooperação no Desenvolvimento" dos Países Baixos e "centrada nos aeroportos e na indústria aeronáutica, bem como na tecnologia do ambiente e nas energias renováveis".