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Marine Le Pen, a candidata que trouxe a extrema direita para o poder
Domingo, 7 de Maio. A França vai às urnas e, 15 anos depois, a Frente Nacional está de novo na segunda volta das eleições de onde sairá o próximo Presidente. É a extrema direita na escalada do poder e a provar que já não são só os radicais assumidos a votar nela. Mas quem é Marine, a candidata de que todos falam?
Tirar a França do Euro, lutar contra a globalização, travar a imigração e derrotar o fundamentalismo islâmico. As principais bandeiras de Marine Le Pen encontraram terreno fértil para prosperar num país confrontado com o terrorismo, numa europa fragilizada pelo Brexit, e a candidata da extrema-direita leva a sua Frente Nacional (FN) a uma inusitada segunda volta para as presidenciais. As sondagens não lhe são favoráveis, mas há indecisos e, sobretudo, há muitos eleitores que nunca votaram na FN e que desta vez se preparam para lhe dar o seu voto. Marine Le Pen, a radical de direita, entrou oficialmente na esfera do poder e, ganhe ou não ganhe, por lá promete ficar.
De seu nome Marion Anne Perrine Le Pen, nasceu a 5 de Agosto de 1968 em Neuilly-sur-Seine, Paris. Foi a terceira filha de Jean-Marie Le Pen, fundador e histórico presidente da FN, e aderiu ao partido quando fez 18 anos. No entanto, começou o seu percurso profissional longe da política nos corredores dos tribunais, mais exactamente no Tribunal de Grande Instância de Paris, equivalente ao nosso Supremo Tribunal de Justiça. Licenciada em Direito, só mais tarde entraria para a FN, onde exerceu funções no departamento jurídico do partido.
Terá iniciado aí a sua vocação política. Em 1998 concorreu e foi eleita para o Conselho Regional de Nord-Pas-de-Calais e depois também para o de d’Île-de-France, no coração de Paris. Gradualmente foi ganhando força dentro do partido e adquirindo cada vez mais responsabilidades. E em 2002 foi ela o cérebro da candidatura do seu pai à Presidência da República francesa, nas eleições em que Jean-Marie Le Pen chegou à segunda volta, juntamente com Jacques Chirac.
Em 2004 entrou na corrida para o Parlamento Europeu e foi eleita. Prosseguiu a ascensão dentro do partido e em 2012 foi ela a cara da FN nas presidenciais, onde arrecadou uns promissores 17,9%, embora se tenha ficado pela primeira volta. Nessa altura era já a líder do partido desde o afastamento do seu pai, em 2011, devido às suas posições demasiado radicais até para a FN e, sobretudo, prejudiciais para um partido que queria assumir um papel mais moderado, afastando-se do rótulo de radical, susceptível de lhe retirar eleitorado.
Uma vida privada envolta em segredo
A vida pessoal de Marine, escrevem os jornais franceses, é tão tumultuosa como a do seu próprio partido. No currículo conta com dois divórcios, ambos com membros do partido. Actualmente tem um relacionamento com Louis Aliot, 47 anos, também ele advogado, vice-presidente da FN e antigo chefe de gabinete de Jean-Marie Le Pen. Discretos, estão juntos desde 2000, mas só em 2010 oficializaram a relação. Só muito raramente aparecem em público como casal e, segundo as revistas sociais francesas, vivem em casas separadas, encontrando-se sobretudo aos fins-de-semana. Quando têm eventos públicos, de natureza partidária, a que comparecem os dois, fazem questão de chegar separados e em carros diferentes.
Louis tem dois filhos, Marine três, cuja privacidade protege furiosamente. A ponto de processar jornais por escreverem sobre eles. Uma infância e uma juventude como filha de Jean-Marie Le Pen deixaram marcas e receios sobre o ódio que pode despertar a sua família – em 1972 o apartamento onde viviam, em Paris, foi alvo de um ataque bombista que traumatizou a filha do fundador da FN e que a leva a ser cuidadosa até à exaustão com as questões de segurança.
Alta, loura, voz rouca de ex-fumadora – agora usa cigarros electrónicos – Marine Le Pen leva tudo à frente e marca pontos nas suas exuberantes intervenções públicas. Fez uma limpeza no partido quando lhe tomou as rédeas. Objectivo: afastar extremistas e acabar com posições radicais de racismo e anti-semitismo. A começar pelo seu próprio pai, com quem se incompatibilizou e que, entre várias pérolas, ficaria célebre por comentários como aquele em que afirmou que as câmaras de gás nazis não passaram de um detalhe na história da Segunda Guerra Mundial. Jean Marie Le Pen, esse, continua igual a si mesmo e não tem perdido uma oportunidade para apelar ao voto na sua filha e lançar ferroadas a Emmanuel Macron.
Uma entrada oficial na esfera do poder
Marine apostou num programa eleitoral proteccionista e num discurso contra o euro e a perda de poderes do país, que tinha como alvo os mais jovens. Acompanhando o ritmo dos acontecimentos na Europa, concentrou a agenda nos temas da segurança e da imigração. Um terreno cada vez mais fértil, com a crise dos refugiados às portas da Europa a incendiar opiniões no país. A eurodeputada cavalgou o tema do combate ao terrorismo e fez dele uma das suas principais bandeiras. Os atentados que o país tem sofrido deram um novo fôlego à FN e a Marine Le Pen, que sabe que o medo é terreno que dá frutos e apostou nele.
As sondagens para a votação deste domingo não lhe são favoráveis, reduzindo as efectivas hipóteses de a extrema direita chegar ao Eliseu. Segundo as últimas projecções, o moderado Emmanuel Macron leva a dianteira, mas Le Pen não está assim tão longe dos 50%. Na passada terça-feira, 3 de Maio, passados dez dias sobre o início da campanha, Emmanuel Macron somava 59% das intenções de voto e Le Pen contabilizava 41%. Mas a abstenção estava entre os 22% e os 38% e 18% ainda se diziam indecisos, deixando no ar um perigoso "tudo pode acontecer".
Em 2002, quando Jean Marie Le Pen foi à segunda volta, com Jacques Chirac, as sondagens eram esmagadoras, dando a Chirac mais de 80% das intenções de voto. Não é assim desta vez. Marine consegue ir buscar muitos votos fora do eleitorado típico da FN e chega às vésperas das eleições com uma distância muito menor face ao seu rival.
Todo este percurso representa também uma entrada oficial na esfera do poder e no Verão, nas legislativas, Le Pen terá todas as razões para acreditar num resultado como até agora o seu partido não conseguiu ver. A extrema-direita começa, indubitavelmente, a ser vista apenas como mais um partido político e não como o partido radical em que apenas os radicais alguma vez votariam. E está no poder.