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Macron: O improvável candidato providencial

De desconhecido a favorito a vencer as presidenciais, de socialista a independente, de ministro no Governo do PS francês a candidato anti-sistema partidário, foi rápido e paradoxal o caminho trilhado por Emmanuel Macron.

Reuters
07 de Maio de 2017 às 12:00
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De desconhecido a favorito à vitória na segunda ronda das presidenciais gaulesas, foi fulgurante o percurso de Emmanuel Macron que, aos 39 anos de idade, poderá tornar-se no mais novo presidente da história da V República francesa.


Desde tenra idade o mais velho de três filhos de uma família burguesa começou a trilhar um caminho muito marcado pela precocidade. Ainda criança aprendeu a tocar piano e recitava poesia clássica. Seguiram-se estudos num liceu jesuíta em Amiens, no norte francês, onde foi colega de um dos três filhos da sua actual mulher, a professora de Francês e Literatura Brigitte Trogneux. Foi ainda na fase liceal que Macron se envolveu com Brigitte, que também dera aulas no teatro em que o próprio representava, e terá sido essa a razão que levou os seus pais a transferi-lo para o parisiense Liceu Henrique IV.

A relação, inicialmente clandestina, perdurou e, em 2007, Macron casou com Brigitte. Hoje Macron diz com orgulho ser avô de seis netos, todos descendentes dos filhos de Brigitte com o primeiro marido. Concluído o secundário, Macron licenciou-se em Filosofia com uma dissertação final sobre o "bem-comum", partindo das teorias de Maquiavel e Hegel. Só depois ingressou na École Nationale d’Administration, por onde passa boa parte da elite gaulesa e que já teve três ex-alunos no Eliseu.

O liberal reformista

O percurso profissional começa em 2005 como inspector do Ministério da Economia, mas é em 2008, com a entrada no banco Rothschild, que Macron inicia a carreira que lhe colou à pele a etiqueta de banqueiro de investimento. Le Pen apelida-o "homem da finança". A vida política deste auto-intitulado "não-político" tem o primeiro capítulo em 2012, quando se torna conselheiro para a área financeira do recém-eleito presidente François Hollande. Antes, tinha sido militante do PS francês durante 3 anos, desvinculando-se em 2009.

Já em 2014 assume a pasta da Economia do Governo de Manuel Valls e, segundo as notícias de então, teve a prévia anuência de Hollande para implementar reformas de cariz liberalizante que fizessem marcha-atrás às políticas esquerdizantes defendidas pelo seu antecessor, Arnaud Montebourg. Macron defendia um choque profundo à inflexível e paralisada economia gaulesa, através da liberalização económica e do mercado laboral, que queria "mais simples e mais flexível".

A globalização pode ser uma grande oportunidade. Emmanuel Macron

Apesar de a reforma laboral ainda hoje ser amplamente contestada pelo eleitorado gaulês, Macron propõe-se aprofundá-la se vencer Le Pen. No Governo, foi também responsável por uma reforma a que deu nome – Lei Macron – e que assentou em maior desregulação da economia.

A forte contestação à "deriva liberal" e as inúmeras críticas ao Executivo resultariam em várias demissões, desde logo do titular da pasta da Educação, Benoît Hamon, homem da ala esquerda do PS francês que abandonou a governação para se fixar no Parlamento a fazer oposição ao Governo de que se demitira e que acabou derrotado na primeira volta presidencial com o pior resultado de sempre dos socialistas.

Em Abril do ano passado, numa altura em que a historicamente alta impopularidade de Hollande já se mostrava irreversível, Macron lançou o movimento Em Marcha. Logo aí se pressentiram aspirações presidenciais. "Estou num Governo de esquerda, despudoradamente, mas eu também quero trabalhar com pessoas de direita, comprometidas com os mesmos valores", afirmou.

Perante o cansaço generalizado em relação aos partidos e o descontentamento do eleitorado face a uma governação mimética da terceira via de Tony Blair, Macron lançava as sementes para uma candidatura presidencial que afiança não ser de esquerda, nem de direita, mas "pela França". 

Os partidos tradicionais, que durante décadas foram incapazes de resolver os problemas de ontem, não serão capazes de resolver os problemas de amanhã. Emmanuel macron

Macron reapresentou-se ao povo francês como o homem providencial capaz de derrotar o populismo da extrema-direita. Ao medo e ao nacionalismo soberanista de Le Pen, Macron contrapôs uma mensagem optimista, liberal e favorável ao consenso europeu, defendendo mesmo o reforço da integração europeia e a consolidação do eixo franco-alemão. Pelo caminho, atravessou paradoxalmente incólume a derrocada dos socialistas, para a qual, aliás, contribuiu decisivamente por duas vias: primeiro como o ministro que desregulou a economia sem a pôr a crescer nem a criar emprego; e depois, já candidato, como adversário de um sistema partidário viciado.

 

"Mudámos a face da política francesa", proclamou na noite eleitoral de 23 de Abril quando confirmado que, pela primeira vez, não haveria nenhum candidato dos partidos tradicionais – socialistas e conservadores – na segunda volta deste domingo. Agora resta saber se vencerá Le Pen e, nesse caso, se será também capaz de mudar a face de França.

Não proponho reformar a França; proponho transformá-la até à sua raiz." Emmanuel macron
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