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Europa entra em modo defensivo com medo dos compradores da China e EUA

Governos de Berlim, Paris, Roma e Madrid aumentaram os seus poderes para vetar investimentos de fora da UE.

03 de Maio de 2020 às 11:00
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Lançadas numa nova era de maior intervencionismo devido à pandemia do coronavírus, as autoridades da União Europeia tentam proteger os seus ativos mais valiosos após a pior sangria do mercado acionista em quase uma década, que deixou as cotadas vulneráveis a aquisições.

 

Governos de Berlim, Paris, Roma e Madrid aumentaram os seus poderes para vetar investimentos de fora da UE nas últimas semanas, e o bloco prepara as primeiras regras válidas para o continente com o objetivo de monitorizar aquisições por motivos de segurança. Garantias especiais foram oferecidas a empresas de biotecnologia, já que a corrida por uma vacina contra a covid-19 assume uma importância crítica.

 

Como o colapso económico se somou às incertezas provocadas pela ascensão da China, a retirada dos EUA e o avanço da Rússia, o bloco de 27 países está em vias de abandonar a sua antiga política de portas abertas devido aos sinais de que outras potências globais tentam tirar partido desta abordagem.

As empresas chinesas apoiadas pelo estado comunista já procuram pechinchas na Europa. A Alemanha aprendeu uma lição amarga com a operação furtiva do investidor bilionário Li Shufu, que se tornou o maior acionista da Daimler em 2018. As autoridades de Berlim também ficaram em alerta com reportagens divulgadas em março sobre uma abordagem do governo dos EUA de uma empresa de fabrico de vacinas, que foi negada pela Casa Branca.

 

"Trata-se da necessidade de proteger a nossa infraestrutura crítica, para não sermos ingénuos quanto ao que poderia acontecer com alguns setores vulneráveis e tecnologias vulneráveis com intervenções de países terceiros", disse o comissário de Comércio da UE, Phil Hogan, aos deputados europeus a 21 de abril, em Bruxelas.

 

Até agora, investidores estrangeiros tinham como foco o cumprimento das regras de concorrência da UE, disse Pascal Dupeyrat, que assessora investidores não europeus na França. "Nos próximos cinco a 10 anos, essas transações deverão ser aceitáveis sob a medida muito mais ampla da segurança nacional", afirmou.

 

Ainda assim, o que europeus chamam de comportamento predatório, outros considerariam jogo justo sob as regras do capitalismo moderno. Críticos argumentam que essa abordagem enfatiza o crescente protecionismo que tem marcado a Europa nos últimos anos.

 

A UE também deve agir com cuidado devido à importância do investimento direto estrangeiro (IDE) para a economia europeia. O IDE é diretamente responsável por cerca de 16 milhões de empregos na UE, e o bloco atraiu 7,2 biliões de euros  em capital estrangeiro até o final de 2018.

 

Nesse sentido, a Europa tem sido um termómetro da economia global. Em todo o mundo, a proporção de ações de IDE em relação ao PIB global quase multiplicou por seis, para 40% em 2017 em relação aos 7% em 1990, de acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico.

 

Apesar do maior escrutínio regulatório, o interesse de investidores estrangeiros em ativos europeus permanecerá forte como resultado da queda do mercado de ações, que provavelmente deve durar até o próximo ano, disse Davina Garrod, consultor de investimentos e concorrência do escritório de advocacia Akin Gump Strauss Hauer & Feld, com sede em Londres.

 

"A maré está a mudar na Europa com maior vigilância, principalmente em relação aos chineses e russos", disse Garrod. "Mas não está a transformar a Europa numa fortaleza."

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