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Em Paris houve menos coletes amarelos mas o descontentamento continua
As manifestações deste sábado em Paris diminuíram de intensidade. Houve menos pessoas e menos detidos. O descontentamento, esse, parece ter vindo para ficar.
Menos manifestantes, menos danos e menos detidos é o balanço do quinto protesto dos coletes amarelos em Paris, mas a rejeição das medidas apresentadas por Macron continua e quem saiu à rua mostra-se cada vez mais politizado.
"Mesmo se, durante o período festivo do Natal e do Ano Novo, o movimento recuar um pouco em termos de presença aqui em Paris, penso que o desespero que eles exprimiram vai durar porque é profundo. É um descontentamento que dura há muito e não vai parar por aqui", disse Danielle, reformada e membro da CGT - uma das mais importantes centrais sindicais em França - à Agência Lusa.
Na praça da Opera, à hora de almoço de sábado, 15 de Dezembro, Danielle discutia animadamente com duas coletes amarelos, Marie e Eugenie, vinda dos arredores de Paris. "Os coletes amarelos são um movimento cidadão, veio do povo", avança Marie. "Nós tivemos discussões nas nossas estruturas e quando percebemos que as reivindicações são as mesmas, decidimos convergir. Se bem que é verdade que trazemos algum atraso", admitiu Danielle.
Esta foi a primeira vez que a CGT se juntou aos manifestantes e, ao mesmo tempo, um outro encontro foi organizado pelo partido de extrema-esquerda La France Insoumise (A França Insubmissa), perto de Saint Lazare. Com tantos apelos ao mesmo tempo, os coletes amarelos acabaram por espalhar-se por diversos pontos emblemáticos da cidade, sem mostrar a mesma força dos últimos sábados nos Campos Elísios.
"É preciso que sejamos cada vez mais politizados e não podemos aceitar as medidas que foram avançadas pelo Governo, porque não são nada. Trata-se só de mentiras", disse ainda Eugenie. Durante toda a jornada, os coletes amarelos têm vindo a pedir medidas adicionais ao Presidente, mas também a sua demissão e a introdução da possibilidade de um referendo de iniciativa cidadã.
"Acho que Macron não pode contentar toda a gente e já descemos demasiado para que o Governo possa agir. E agora, têm de aceitar que haja um referendo para votar as leis e medidas excepcionais. Não há outra maneira de fazer as coisas a não ser tirar-lhes o poder. Estamos agora a assinar várias petições para pedir o direito ao referendo de iniciativa cidadã", afirmou Laure, colete amarelo vinda de Cergy-Pontoise, a 30 quilómetros da capital.
As autoridades contabilizaram cerca de 2.500 manifestantes em toda a capital, sendo que o dispositivo da polícia incluiu o destacamento de 8.000 agentes, 14 blindados - mais do que na última semana - e ainda o reforço de forças a cavalo. A polícia tentou também enquadrar mais os manifestantes, encaminhando-os para perímetros mais limitados e não permitindo movimentações em grupo.
"Vamos tentar juntar-nos a outros manifestantes, possivelmente nos Campos Elísios. A polícia não nos deixa manifestar, temos de ficar aqui parados. E ainda por cima há menos gente, talvez devido ao frio ou porque estamos mais dispersos", disse Henri, que veio do Val de L'Oise, perto de Paris, para se manifestar.
Ao mesmo tempo, a vida em Paris decorria dentro de uma certa normalidade. Com os grandes armazéns e algumas lojas abertas, os franceses continuavam as suas compras de Natal entre as manifestações. David não teve receio de vir a Paris com a família para aproveitar um dos últimos fins de semana antes do Natal.
"Desde que fiquemos no perímetro de segurança, não deve haver problema. É verdade que somos muito taxados. Eles não estão completamente errados", disse David.
Com a chuva intensa e as temperaturas a rondarem os zero graus durante todo o dia, a maior parte dos manifestantes vindos de fora da capital começaram a regressar às suas casas depois da hora de almoço, deixando os protestos maioritariamente a cargo de grupos de jovens vestidos de negro, com cara tapada e sem colete amarelo à vista, como já tem sido habitual.