Notícia
Controlos de capital no Chipre podem durar anos
Especialistas e exemplos recentes apontam para a dificuldade de prever duração deste tipo de medidas. Na Islândia, cinco anos depois, ainda há medidas de controlo de capitais
É caso para dizer que sabe-se como começam, mas não como acabam. Os controlos de capitais, pois claro. Experiências do passado mostram que este tipo de medidas de repressão financeira têm tido durações distintas que podem chegar a vários anos, como acontece na Islândia onde, cinco anos depois, ainda há restrições à entrada e saída de capitais.
O Chipre deverá apresentar hoje as medidas com que pretende evitar que amanhã, quando reabirem os bancos cipriotas, ocorra uma fuga massiva de capitais que derrube o moribundo sistema financeiro nacional. Será a primeira vez que tal acontece na União Europeia e também um caso único de restrições num país sem moeda autónoma.
"Graças a má gestão política teremos o primeiro controlo de capitais na Zona Euro", afirmou à Bloomberg Nicolas Veron, investigador dos think-tanks Bruegel e Peterson Institute, que acrescentou: "Quanto tempo é temporário? Pode acontecer como na Islândia, prolongando-se por vários anos".
Experiências de controlo de capitais na Ásia e na América Latina, nos anos 80 e 90, duraram entre seis meses de dois anos, analisa a agência noticiosa que nota que no caso islandês, cinco anos após o colapso de 2008, ainda há medidas de controlo de capital.
Esta análise faz temer que a expectativa do governo cipriota de que os controlos de capitais durem "apenas semanas" seja impossível de alcançar. Numa entrevista a uma televisão local e citada esta manhã por vários orgãos de comunicação social internacionais, Michalis Sarris, o ministro das Finanças garantiu que os controlos estarão dentro "dos limites do razoável" e que os bancos abrirão portas amanhã.
O "Guardian" avançou ao fim da manhã que o Governo cipriota garante que o plano está pronto e que será apresentado ao final do dia de hoje.
Que controlos de capitais?
O parlamento cipriota aprovou na semana passada legislação que concede poderes a Panicos Demetriades, o governador do banco central, e a Michalis Sarris, o ministro das Finanças para decidirem medidas que vão da extensão compulsiva de prazos de depósitos, a limites a levantamentos e transferências de dinheiro, passando por restrições à abertura de novas contas bancárias, à utilização de cartões de crédito e à saída do país com dinheiro.
"Terão de existir controlos a sério para assegurar que o dinheiro não saia", afirmou à Bloomberg Nikolaos Panigirtzoglou, estratega da JP Morgan: "De outra forma não vejo como é que este dinheiro com elevada propensão para sair ficará voluntariamente".
Uma das particularidades do sistema bancário cipriota foi a concentração nos depósitos como fonte de financiamento e entre eles depósitos russos, avaliados em cerca de 25 mil milhões de euros, um quarto do total de depósitos, escreve a mesma agência.
No caso dos depositantes russos, muitos deles de empresas sedeadas por razões fiscais no Chipre, há um outro risco que tem a ver com a possibilidade de se tentar tirar dinheiro do país através de operações de importação e exportação que exigam conversão de euros em rublos, analisou ontem o Open Europe, um think tank britânico.
Uma saída em força deste dinheiro do país implicaria um reforço do apoio financeiro do BCE aos bancos cipriotas, o qual ficou garantido com o acordo de resgate firmado entre o Chipre e a troika no fim-de-semana. O financiamento de emergência já concedido poderá ascender a 10 mil milhões de euros, tanto quanto do dinheiro que EU e FMI se comprometeram a emprestar a Chipre no âmbito do seu programa de resgate.
Cerca de 6 mil milhões de euros adicionais chegarão de um plano de reestruturação do sistema financeiro que implicará perdas para os depositantes acima de 100 mil euros nos dois maiores bancos país: o Laiki e o Banco do Chipre.