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Cidade que já foi a mais rica do mundo quer voltar ao pódio
Ninguém diria, mas fraca e desmoralizada Génova foi a cidade mais rica do mundo há apenas 700 anos.
A frota comercial e a poderosa marinha de Génova dominaram o Mediterrâneo durante mais de 100 anos e a cidade-estado independente tinha o seu próprio império, que se estendia da Síria à Crimeia. Os seus mercadores e banqueiros ajudaram a financiar os vastos palácios e outros tesouros arquitetónicos que levaram os orgulhosos habitantes a chamar a cidade de "a Soberba".
Atualmente, tudo é um pouco menos soberbo. A população de Génova está a envelhecer e a diminuir - é agora apenas a sexta maior cidade de Itália. Os empregos são escassos e os volumes de carga que passam pelo seu porto histórico são só uma fração do que os europeus do Norte recebem. O Banca Carige, o maior banco da cidade, está sob administração do Banco Central Europeu.
Para muitos, o desastre da ponte Morandi no último verão europeu parecia ser apenas mais um capítulo do triste declínio da outrora grande cidade. Mas o presidente da Câmara Marco Bucci viu as coisas de maneira diferente.
No dia 14 de agosto, poucos minutos depois do colapso da ponte, que matou 43 pessoas e dividiu a cidade pela metade, o presidente da Câmara de 59 anos estava num modo de crise, reunindo líderes cívicos e planeando o "renascimento" da cidade.
Após a tragédia, o president concluiu que, se o governo municipal "jogasse as suas cartas corretamente, a cidade poderia tornar-se ainda maior, este momento seria o início do ressurgimento de Génova".
Apesar da sua cidade estar de luto, Bucci aproveitou a oportunidade.
Ressurgimento
Primeiro passo: a ponte Morandi, saudada como um triunfo da engenharia moderna na sua inauguração em 1967, seria reconstruída em tempo recorde e por um dos cidadãos mais famosos de Génova, o arquiteto Renzo Piano.
Segundo passo: o autarca usaria a solidariedade nacional com a cidade afetada para libertar fundos para trabalhos de infraestrutura planeadas há muito tempo, engavetadas pela burocracia há anos. Com estradas reformadas, ligações ferroviárias e melhorias nos portos, Génova voltaria ao seu auge como potência marítima europeia.
Os políticos estão ansiosos para participar. Até mesmo o ministro dos Transportes, Danilo Toninelli, cujo Movimento Cinco Estrelas desconfia notoriamente de grandes planos de infraestrutura, mostrou-se eloquente sobre o plano de reconstrução.
"A reconstrução da ponte sinalizará o relançamento da imagem da Itália no exterior", disse Toninelli em 8 de fevereiro, numa vistosa cerimónia para marcar o início das obras de reconstrução da ponte.
"É um momento importante, é o renascimento de Génova", acrescentou o primeiro-ministro Giuseppe Conte no evento, usando um capacete de operário e ajudando no trabalho inicial.
Sinais
Olhando ao redor de Génova, os sinais de renascimento ainda parecem muito distantes. A economia é fraca e a cidade lidera um declínio populacional na região. O mercado de trabalho está estagnado.
O principal motor de crescimento ainda é o porto, onde um filho da cidade, Cristóvão Colombo, planeou as suas aventuras navais. Como mais de 55 milhões de toneladas de mercadorias passaram por Génova no ano passado, este ainda é o porto mais movimentado da Itália, mas o tráfego caiu cerca de 8% desde o desastre.
Teresa Marasso, de 49 anos, mãe de dois filhos, pensou muitas vezes em deixar a cidade para procurar emprego noutro lugar. Até agora não saiu. "Génova é humana", disse Marasso. "Ela está a tentar lembrar-nos que está magoada, mas que ainda está viva."
(Texto original: This City Once Ruled the Mediterranean. Now It’s Eyeing a Comeback)