Notícia
BCE: China até pode vir a beneficiar das tarifas dos EUA
O feitiço pode virar-se contra o feiticeiro. É essa a previsão de um estudo do Banco Central Europeu: os EUA vão sofrer com a guerra comercial que iniciaram, enquanto a China poderá vir a beneficiar.
E se a China vier a beneficiar da guerra comercial iniciada pelos Estados Unidos? As medidas de Trump podem vir a fazer ricochete, prejudicando os EUA e beneficiando a economia chinesa. É essa a previsão do estudo dos economistas do Banco Central Europeu (BCE), Allan Gloe Dizioli e Björn van Roye, publicado esta quarta-feira, 26 de Setembro, no Boletim Económico de Setembro. Tal acontecerá porque os produtos chineses deverão ganhar quota de mercado, enquanto os norte-americanos perdem.
"O efeito do comércio no PIB na China é inicialmente ligeiramente positivo [ver gráfico em baixo], ainda que os ganhos diminuam ao longo do tempo", escrevem os autores. A ideia subjacente é que as exportações chinesas vão ganhar quota de mercado noutros países e, por isso, vão "mais do que compensar" a queda do consumo e do investimento na China.
Esses ganhos de quota de mercado serão possíveis porque os produtos norte-americanos, que incorporam importações chinesas mais caras, deverão ficar menos competitivos. Ao vender esses produtos mais baratos, a China poderá ganhar espaço face aos exportadores dos Estados Unidos. Não é expectável que as empresas norte-americanas avancem em bloco com produção própria, o que traria custos mais elevados e demoraria tempo a concretizar-se.
Além da China, outros países também podem beneficiar se a guerra comercial se mantiver entre as duas principais economias. Se tal acontecer, os bens chineses ficam mais caros nos EUA e os bens norte-americanos ficam mais caros na China. Isso cria uma oportunidade para os exportadores de países fora do conflito comercial, que podem aumentar a quota de mercado nos dois países.
Em suma, os autores não têm dúvidas de uma coisa: os Estados Unidos serão os grandes perdedores do conflito que iniciaram nos vários cenários traçados. E os estragos podem ser elevados. Num cenário em que os EUA imponham 10% de tarifas sobre os bens dos seus parceiros comerciais e tenham uma resposta na mesma moeda, Wall Street poderá cair 16%. A elevada volatilidade dos mercados financeiros seria a maior desde a crise financeira de 2008 quando o S&P500 afundou 28%.
"No global, quanto ao efeito na actividade económica, qualitativamente os resultados são inequívocos: uma economia que imponha tarifas que desencadeiem retaliações por parte de outros países está claramente pior", concluem os autores, assinalando que as condições de vida e a taxa de emprego irão cair. No caso dos EUA, mesmo que haja alguma mudança dos hábitos de consumo dos residentes para produtos nacionais, tal não deverá compensar o impacto económico pelas outras vias.
Neste momento as medidas proteccionistas ainda têm um efeito marginal na economia global. Tal acontece porque, para já, apenas uma pequena parte do comércio mundial está a ser alvo de conflito comercial. Mas há quem antecipe uma desaceleração da economia, tal como alertou recentemente a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE). Anteriormente, o BCE também tinha alertado para o "impacto severo" do conflito nos EUA.
Esta simulação dos economistas do BCE não inclui as tarifas de 10% sobre 200 mil milhões de dólares de bens chineses que entraram em vigor esta segunda-feira. A taxa pode vir a ser agravada para 25% em Janeiro caso a China não vá ao encontro das exigências norte-americanas.
"O efeito do comércio no PIB na China é inicialmente ligeiramente positivo [ver gráfico em baixo], ainda que os ganhos diminuam ao longo do tempo", escrevem os autores. A ideia subjacente é que as exportações chinesas vão ganhar quota de mercado noutros países e, por isso, vão "mais do que compensar" a queda do consumo e do investimento na China.
Além da China, outros países também podem beneficiar se a guerra comercial se mantiver entre as duas principais economias. Se tal acontecer, os bens chineses ficam mais caros nos EUA e os bens norte-americanos ficam mais caros na China. Isso cria uma oportunidade para os exportadores de países fora do conflito comercial, que podem aumentar a quota de mercado nos dois países.
Em suma, os autores não têm dúvidas de uma coisa: os Estados Unidos serão os grandes perdedores do conflito que iniciaram nos vários cenários traçados. E os estragos podem ser elevados. Num cenário em que os EUA imponham 10% de tarifas sobre os bens dos seus parceiros comerciais e tenham uma resposta na mesma moeda, Wall Street poderá cair 16%. A elevada volatilidade dos mercados financeiros seria a maior desde a crise financeira de 2008 quando o S&P500 afundou 28%.
"No global, quanto ao efeito na actividade económica, qualitativamente os resultados são inequívocos: uma economia que imponha tarifas que desencadeiem retaliações por parte de outros países está claramente pior", concluem os autores, assinalando que as condições de vida e a taxa de emprego irão cair. No caso dos EUA, mesmo que haja alguma mudança dos hábitos de consumo dos residentes para produtos nacionais, tal não deverá compensar o impacto económico pelas outras vias.
Neste momento as medidas proteccionistas ainda têm um efeito marginal na economia global. Tal acontece porque, para já, apenas uma pequena parte do comércio mundial está a ser alvo de conflito comercial. Mas há quem antecipe uma desaceleração da economia, tal como alertou recentemente a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE). Anteriormente, o BCE também tinha alertado para o "impacto severo" do conflito nos EUA.
Esta simulação dos economistas do BCE não inclui as tarifas de 10% sobre 200 mil milhões de dólares de bens chineses que entraram em vigor esta segunda-feira. A taxa pode vir a ser agravada para 25% em Janeiro caso a China não vá ao encontro das exigências norte-americanas.