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Lucros dão margem para recuperar poder de compra, conclui OCDE

Os apoios da pandemia ajudaram a criar condições para uma combinação pouco usual: os custos do trabalho subiram e os lucros subiram mais, sem evitar quebras de poder de compra. OCDE considera que há margem para compensar perdas de poder de compra e prevenir a generalização das dificuldades financeiras, sobretudo entre as pessoas com salários mais baixos.

O mercado dos escritórios está a entrar numa nova fase, por causa das regras de sustentabilidade.
Maxim Shemetov/Reuters
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Com o emprego a resistir relativamente bem ao impacto da guerra da Ucrânia, a atenção da OCDE volta-se para a "crise do custo de vida": os salários reais caíram em praticamente todos os setores e países desenvolvidos, nalguns casos "de forma considerável", lê-se no Employment Outlook da OCDE, divulgado esta terça-feira.

"Não havendo indicação de uma espiral salários-preços", dizem os autores, o principal risco daqui para a frente é o do "agravamento da crise do custo de vida".

Em 2021 e 2021, "os custos unitários do trabalho caíram em termos reais em 18 dos 29 países para quais há dados". "Entre os restantes, os maiores crescimentos nos custos do trabalho ocorreram em Portugal, no Reino Unido e na Lituânia".

Contudo, "na maior parte dos países, as margens de lucro cresceram mais do que os custos do trabalho em 2021 e 2022. Desta forma, ao longo dos últimos dois anos, os lucros tiveram um contributo grande e não muito habitual para as pressões internas nos preços e o peso do trabalho (a parte do rendimento nacional alocada a salários e outras compensações do trabalho) caiu em muitos países da OCDE".



Esta combinação – entre aumento de custos do trabalho e de lucros – é pouco usual: geralmente um absorve o outro. A degradação das condições das trocas comerciais podia ter impedido que isso acontecesse, escrevem os autores. Contudo, a recuperação da pandemia criou "condições particularmente favoráveis para a expansão de margens de lucros". Isto porque em muitos países a quebra das margens "foi mitigada por diversas formas de apoios públicos, incluindo mecanismos de retenção de emprego", como o "lay-off" em Portugal, "que subsidiaram o emprego de uma forma sem precedentes".

Assim, ao contrário do que aconteceu noutras crises, a capacidade produtiva foi preservada apesar da paralisação da economia. À medida que os mercados reabriram, a recuperação da procura e os programas de apoio alimentaram a procura e "ajudaram os lucros a recuperar" à medida que os problemas de abastecimento foram ultrapassados.

"Num contexto de forte procura dos consumidores e subida da inflação motivada por fatores externos, as empresas podem ter tido mais espaço para aumentar preços simultaneamente, já que esperaram que os concorrentes fizessem o mesmo, e os consumidores podem ter sido mais tolerantes com a subida de preços dado o contexto inflacionista".

De uma forma geral, na Europa, no ano terminado no primeiro trimestres, as margens de lucro subiram mais do que os custos unitários do trabalho não apenas na energia, mas também na indústria, na construção e no setor financeiro e cresceram o mesmo noutros setores incluindo o alojamento.

Sem sinais de uma espiral

Sem evidência de uma espiral de salários-preços, que só agora se aproximam porque a inflação está abrandar, "o principal problema daqui para a frente é um agravamento da crise do custo de vida nos países da OCDE", lê-se no relatório.

"Uma recuperação gradual de pelo menos algumas das recentes perdas no poder de compra é essencial para prevenir aumentos transversais de dificuldades financeiras", especialmente entre trabalhadores com baixo salários.

Os salários mínimos "devem continuar a ser ajustados regularmente". Os dados da OCDE também mostram que em Portugal o salário mínimo subiu 20% desde dezembro de 2020, o que corresponde a um ganho de 5%, defendem os autores.

Já na negociação coletiva, o aumento de 4% entre 2019 e 2022 corresponde a uma quebra real de 2,2%, segundo cálculos dos autores do relatório.

Quebra real de 3,8% num ano

De uma forma geral, no primeiro trimestre, os aumentos nominais de salários por hora foram de 5,6% em média nos 34 países para os quais há dados, em termos homólogos. No entanto, os salários reais caíram em média 3,8%, recuando em 30 dos países analisados.

Em Portugal o aumento nominal por hora no primeiro trimestre do ano foi de 4,5%, em termos homólogos, abaixo da média da OCDE, mas a quebra real foi de -3,5%, menos acentuada do que na média da OCDE.

Se olharmos para a evolução desde o período anterior à pandemia (entre o último trimestre de 2019 e o último de 2022), Portugal regista ganhos de poder de compra: a subida foi de 13,6% (abaixo da média de 14,3% da OCDE) mas o ganho real foi de 1,3% (enquanto a OCDE registou uma quebra de 2,2%).

Agora, a OCDE prevê uma subida de pouco mais de 4% nos salários do conjunto dos países, que deverá moderar para 3,5% em 2024. A inflação deverá ser de 6,6% este ano de 4,3% no próximo.

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