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Na aldeia de Palaçoulo há emprego para todos

Palaçoulo é uma excepção na ruralidade transmontana. Na década de 60 do século passado as aldeias do interior começaram a ficar sem gente. Os homens, pela calada da noite, atravessavam a fronteira rumo a França. Em menos de vinte anos as aldeias ficaram sem gente. Palaçoulo resistiu ao fenómeno da desertificação.

03 de Fevereiro de 2009 às 01:25
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Palaçoulo é uma excepção na ruralidade transmontana. Na década de 60 do século passado as aldeias do interior começaram a ficar sem gente. Os homens, pela calada da noite, atravessavam a fronteira rumo a França. Em menos de vinte anos as aldeias ficaram sem gente. Palaçoulo resistiu ao fenómeno da desertificação.

Enquanto na maioria das povoações a população aumenta para o dobro, principalmente no mês de Agosto ( com o regresso de férias dos emigrantes e descendentes), Palaçoulo mantém o mesmo ritmo, sem flutuações populacionais. A emigração passou praticamente ao lado desta freguesia mirandesa.

Com uma tradição artesanal no fabrico de pipas e navalhas, e a chegada da energia eléctrica no início dos anos 60, criaram-se algumas unidades familiares. Hoje, Palaçoulo, que tem cerca de 650 habitantes, coisa rara nas aldeias transmontanas, proporciona cerca de 170 postos de trabalho.

Domingos Martins, sócio de uma empresa de fabrico de cutelarias, a FILMAM, a qual emprega 20 operários, deu continuidade ao trabalho dos ascendentes. O tetravó, que em 1870 era ferreiro, produzia navalhas, que depois vendia de terra em terra. "Em todas as gerações desta família fabricaram-se sempre navalhas. Depois, com o tempo, foi industrializada a navalha mirandesa.

"A empresa factura milhares de euros por ano e 40% da sua produção é exportada para Espanha, apesar da concorrência deste país. Mas, sem querer correr riscos, o objectivo é procurar outros mercados." "Nós já exportamos há mais de 30 anos. Convivemos com a burocracia das fronteiras e alfândegas. Temos ao longo dos anos inovado e acompanhado a evolução técnica." Por isso, está para breve o lançamento de um talher novo com o "design" de inspiração transmontana. O Brasil e outros países de expressão portuguesa estão no horizonte, anuncia Domingos Martins.



Palaçoulo não tem mão-de-obra suficiente para as oportunidades de emprego que são oferecidas. Na Tanoaria J.M. Gonçalves, com 100 anos de existência, que dá trabalho a cerca de 50 trabalhadores, Sérgio Gonçalves, sócio gerente da empresa, teve que recorrer às aldeias vizinhas. Produz pipas em carvalho francês e americano, (madeira que importa da França e dos Estados Unidos) para estágio de vinhos de qualidade.

Em instalações recentes e modernas, esta unidade labora durante todo o ano, porque coloca as pipas nos dois hemisférios. "Exportamos para Espanha, Alemanha, França, Estados Unidos e Austrália. Esta diversidade permite-nos ter uma produção contínua, já que o período das vindimas e da utilização das barricas para estágio do vinho diferem no tempo. Por isso, diminuímos também o risco".

Mas o objectivo deste empresário não se esgota aqui. "Esperamos agora pela aprovação de um projecto de inovação tecnológica que foi apresentado no âmbito do QREN, e que nos vai permitir produzir mais, com mais volume de facturação e com o consequente aumento de postos de trabalho.

A Tanoaria J.M. Gonçalves produz qualidade e com facilidade de colocação no mercado." Para Sérgio Gonçalves, o segredo do sucesso desta unidade transformadora, tem a ver com o rigor no fabrico das barricas. A qualidade da matéria-prima é controlada permanentemente através de processos internacionais certificados".

Como esta há mais algumas pequenas empresas em Palaçoulo que permitiram a fixação das pessoas. Jacinto Afonso trabalha na MAM há 30 anos. "Do que conheço, Palaçoulo é diferente das outras aldeias. Os cafés têm gente, a escola aqui não encerrou, o número de alunos até aumentou e aos domingos, durante a celebração da missa, a igreja está cheia". Nelson Martins também trabalha nesta empresa."

Não fosse o mercado de trabalho local, provavelmente tinha sido obrigado a emigrar". Mas alguns não resistem ao trabalho por conta de outrem. Depois de uma passagem por uma empresa de cutelaria, os três irmãos Pires decidiram criar uma pequena unidade artesanal de fabrico de navalhas. E com sucesso. Há uns anos que vão andando de feira em feira de artesanato, vendendo navalhas e facas moldadas pelas suas mãos.

Por isso, Palaçoulo tem poder de compra e o ritmo das obras de construção civil é sinal disso. A contrastar com a zona velha da aldeia, parte da qual está desabitada, foram construídas novas habitações, a maioria das quais pertencente a trabalhadores das unidades industriais locais.

Quem entra numa povoação do distrito de Bragança às oito da manhã nesta altura do ano, tem alguma dificuldade em encontrar gente com quem conversar. Em Palaçoulo passa-se o contrário. Há um vaivém de gente, ao início e final de uma jornada de trabalho.

A aldeia tem restaurantes, cafés e uma agência bancária. Para que aos fins de semana Palaçoulo não entrasse em letargia, foi também criada há uns anos a Associação Cultural e Recreativa "Caramonhico" - nome jucoso, que remete para histórias antigas. E há cerca de meio ano foi constituída a Associação Cultural e Recreativa "Lérias", em memória de uma figura típica de terras de Miranda. Palaçoulo tem vida porque tem gente que, acima de tudo, é empreendedora numa competitividade saudável.

(A Antena 1 é parceira editorial do Negócios.

A reportagem em audio pode ser ouvida em www.antena1.rtp.pt)

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