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Metade dos empregos estão ameaçados pela automatização

Um estudo da OCDE antecipa "alterações profundas" ou o fim de vários postos de trabalho. Vendo a disparidade entre províncias do outro lado da fronteira, Vieira da Silva quer regiões e cidades portuguesas a atacar o problema.

A indústria transformadora é um dos sectores onde há maior risco de substituição de tarefas. Paulo Duarte
18 de Setembro de 2018 às 16:30
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Quase metade (48%) dos actuais postos de trabalho correm o risco de ser total ou parcialmente substituídos por máquinas, segundo as estimativas da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), sendo que 14% estão classificados como "em elevado risco" – ou seja, a probabilidade de automatização é superior a 70% - e praticamente um em cada três (32%) correm "risco significativo", o que quer dizer que uma boa parte das tarefas será automatizada e isso implicar alterações profundas na organização destes empregos.

 

Entre as profissões mais ameaçadas pelo simples desaparecimento estão as de motorista, assistente de preparação de alimentos ou operador de máquinas. Ao nível das tarefas, um relatório divulgado no Porto esta terça-feira, 18 de Setembro, coloca no nível máximo de risco as funções no sector dos bens transaccionáveis, sobretudo na agricultura e na indústria transformadora. Embora os serviços estejam menos expostos, "o potencial de maior crescimento da produtividade" nesta categoria resulta também de "maiores oportunidades de automatização".

 

A boa notícia no estudo intitulado "Criação de Emprego e Desenvolvimento Económico Local 2018 – Preparando para o Futuro do Trabalho" é que o progresso tecnológico também cria novos postos de trabalho. Em 60% das regiões que disponibilizaram dados à OCDE, o decréscimo nas profissões de risco foi "compensado por um aumento maior na proporção" de vagas com baixo risco de automatização, tais como quadros dirigentes e profissionais da área do ensino.

 

A automatização rápida pode deixar algumas pessoas para trás. Os trabalhadores cujas tarefas são automatizadas perdem o seu lugar num mercado de trabalho em mudança. Mari Kiviniemi, secretária-geral adjunta da OCDE

 

"A digitalização e as novas tecnologias estão a criar novas oportunidades de emprego e impulsionam o aumento da produtividade e a melhoria do nível de vida. Mas a automatização rápida pode deixar algumas pessoas para trás. Os trabalhadores cujas tarefas são automatizadas perdem o seu lugar num mercado de trabalho em mudança. Tal como as empresas que não acompanham as inovações perdem competitividade e não conseguem manter os empregos", resumiu a secretária-geral adjunta da OCDE, Mari Kiviniemi, sublinhando que este movimento arrisca aumentar as desigualdades não só entre pessoas e empresas, mas também entre países e entre regiões do mesmo país.

 

Disparidade regional: risco e oportunidade

 

Essa diferença a nível nacional, regional e até entre comunidades locais é demonstrada no relatório da instituição com sede em Paris, que não apreciou o caso português porque as autoridades de Lisboa não facultaram dados. Nos 21 países analisados, a percentagem de profissões com elevado risco de automatização varia entre o mínimo de 4% na zona próxima da capital norueguesa, Oslo, e os 40% na parte ocidental da Eslováquia. E se há países, como o Canadá, em que as diferenças regionais quase inexistem, no caso de Espanha esta disparidade estica até aos 12 pontos percentuais quando se compara Castilla - La Mancha com Múrcia, a comunidade autónoma com pior desempenho do outro lado da fronteira.

 

Na abertura de um fórum da OCDE dedicado a profissionais de desenvolvimento local, empreendedores e inovadores sociais, que acontece até quarta-feira na Alfândega do Porto, o ministro do Trabalho e da Segurança Social, Vieira da Silva, lembrou que, no passado, as assimetrias faziam com que as regiões menos competitivas tivessem grandes dificuldades em recuperar o dinamismo e gerar emprego. E lamentou que as respostas a essas desiguldades, dadas sobretudo por via de investimentos públicos, tivessem ficado quase sempre "aquém das possibilidades".

 

Não nenhuma garantia que as regiões que assistem à destruição de emprego sejam as mesmas que assistem à criação de novo emprego. Por isso, há uma abordagem territorial – regional e local – que deve ser aprofundada. Vieira da Silva, ministro do Trabalho e da segurança social

 

Para o governante português, "o paradigma mudou" e se as tecnologias criaram novas assimetrias e riscos de exclusão, também oferecem ferramentas para diminuir essas desigualdades. Vieira da Silva frisou que as empresas podem agora estar em territórios menos dinâmicos. Até deu o exemplos de algumas – "não tantas quanto gostaríamos" – empresas de serviços tecnológicos que se instalaram em locais de baixa densidade no Interior do país, uma vez que o sucesso, mais do que da localização, depende do acesso a recursos humanos qualificados e da existência de boas infra-estruturas tecnológicas.

 

Nos progressos ocorridos no passado acabaram por ser criados mais empregos do que os que se destruíram, ao contrário do previsto inicialmente. E agora nesta era da digitalização e automatização, o que vai acontecer? "É difícil dar essa resposta. Mas há uma realidade indiscutível: não há nenhuma garantia, como aponta a OCDE, que as regiões que assistem à destruição de emprego sejam as mesmas que assistem à criação de novo emprego. Por isso, há uma abordagem territorial – regional e local – que deve ser aprofundada no futuro", concluiu Vieira da Silva.

 

OCDE apela à "mobilização" da economia social

Migrantes, pessoas com deficiência, jovens, trabalhadores idosos ou populações indígenas. Estes são alguns dos grupos catalogados pela OCDE como desfavorecidos, que podem precisar de programas específicos que os ajudem na preparação para o mercado de trabalho do futuro. A organização chefiada pelo mexicano Angel Gurría apela à "melhor mobilização" das instituições da economia social para ajudar a promover a inclusão destes grupos, seja como entidade empregadora, prestadora de serviços ou através de "inovações sociais favoráveis à inclusão".

 

A OCDE sustenta que as regiões com mão-de-obra menos qualificada apresentam uma maior percentagem de postos de trabalho em risco de automatização. "As economias rurais, onde apenas uma reduzida parte da população vive em zonas urbanas, estão particularmente sujeitas a este risco, uma vez que apresentam uma menor taxa de emprego no sector dos serviços, que é menos susceptível de ser automatizado", lê-se no mesmo relatório.

 

Além disso, nas pequenas cidades e nas zonas rurais é mais provável haver uma forte dependência de um escasso número de empregadores ou de um único sector de actividade. E embora essa dependência, por si só, não aumente o risco de automatização, alertou a instituição internacional, isso vai acabar por dificultar a absorção dos trabalhadores dispensados no caso de uma automatização em grande escala implementada por um dos empregadores dessa região.
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