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Desemprego só baixará com crescimento de 2,5% a 3%
Aumento da actividade terá de ser "contínuo e sustentado", diz a análise da Universidade Católica.
A elevada taxa de desemprego é considerada o maior flagelo da actual crise, mas as perspectivas de que venha a registar uma descida rápida e ampla durante os próximos anos são reduzidas. A análise é feita pelos economistas do núcleo de estudos de conjuntura sobre a economia portuguesa da Universidade Católica (NECEP).
Num texto em que é avaliada a relação entre os comportamentos do crescimento e do desemprego em Portugal entre 1999 e 2013, publicado na folha trimestral daquele organismo a que o Negócios teve acesso, o NECEP afirma ser necessário que a economia cresça "acima de 2,8% de modo a que se alcance uma variação nula" na evolução do desemprego. E acrescenta que uma redução "efectiva" das elevadas taxas de desemprego "que têm fustigado" o país só será possível "com um crescimento contínuo e sustentado do PIB [produto interno bruto] à taxa de, pelo menos, 2,5% a 3% ao ano".
Recessão menos grave com desemprego elevado
Os cálculos efectuados pelo NECEP sustentam a antecipação de tom pessimista que o gabinete faz do comportamento do desemprego. Apesar de admitirem que a recessão será, em 2013, menos grave em comparação com a sua convicção em previsões anteriores [ver texto associado], os economistas da Católica acreditam que a taxa de desemprego se fixará no valor médio de 17,1%.
No próximo ano, o quadro ficará pior, embora a projecção para o crescimento do PIB também tenha sido revista em alta. O núcleo prevê, como cenário central, a estagnação da economia, mas a taxa de desemprego registará um agravamento. Em média, subirá para 18% da população activa em 2014.
Apesar de alertar para as dificuldades que o país irá enfrentar na redução da taxa de desemprego, as novas previsões são menos sombrias. Na anterior folha trimestral, o NECEP antecipava taxas de desemprego de 18% em 2013 e de 18,7% durante o próximo ano.
Crescimento de 2014 revisto em alta
O núcleo de estudos de conjuntura da Universidade Católica prevê que a economia portuguesa estagne durante o próximo ano, cenário central de um intervalo em que é admitida uma recessão de 1%, na pior das hipóteses, e uma taxa de crescimento de 1%, na melhor. O organismo sublinha que as previsões estão "envoltas num grau muito elevado de incerteza" sobre a "inversão do ciclo da economia, a trajectória de consolidação orçamental" e a crise da dívida soberana. A projecção é mais pessimista do que aquela que foi adoptada pelo Governo, que acredita num crescimento de 0,8% durante o próximo ano.
Recessão mais suave em 2013
O Governo estima que o PIB registará, este ano, uma contracção de 1,8%, mas o NECEP tem uma opinião mais positiva. De acordo com o gabinete, a variação em comparação com 2012 será negativa em 1,5%, resultado, "no curto prazo", de "algum relaxamento orçamental" e dos sinais de "alguma recuperação cíclica" da actividade económica.
Exportações crescem no terceiro trimestre
"O comportamento recente da procura externa encerra algumas hesitações e incertezas, especialmente na componente de bens, que o bom desempenho da exportação de serviços tem vindo a compensar", escreve o NECEP. O núcleo de estudos estima que "um crescimento em cadeia superior a 1% das exportações de bens e serviços no terceiro trimestre de 2013, em termos reais".
"As mais recentes crises políticas em Itália e em Portugal" configuram o resultado mais "desestabilizador" daquilo a que o NECEP chama "fadiga de ajustamento". Com esta expressão, os economistas da Católica qualificam a "crescente dificuldade política dos países sob maior pressão em prosseguir reformas, susceptíveis de reconduzir as finanças públicas à sustentabilidade e dinamizar o potencial de crescimento económico". Este é um dos riscos identificados pelo NECEP, que alerta, também, para a "persistência da fragmentação financeira" na Zona Euro como explicação para as "sérias dificuldades" que este bloco enfrenta para regressar a um "crescimento saudável". Em 2013, a "eurolândia" registará o segundo ano consecutivo de recessão.