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BCE: Contratação colectiva destrói empregos nas recessões

A contratação colectiva dificulta reduções salariais em períodos de crise, o que por sua vez contribui para a destruição de postos de trabalho durante as recessões, escreve o BCE no seu último boletim mensal.

Jasper Juinen/Bloomberg
02 de Fevereiro de 2017 às 19:38
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Investigação produzida pelos economistas do Banco Central Europeu (BCE) conclui que, na Europa, entre 2010 e 2013, "as instituições de negociação colectiva contribuíram para a rigidez dos salários na Europa e podem ter exacerbado as perdas de emprego durante a recessão", lê-se no primeiro Boletim Económico do BCE de 2017.

O trabalho usa dados microeconómicos ao nível de cada empresa e trabalhador em 25 Estados-membros da União Europeia, e mostra que, em média, cerca de 75% dos trabalhadores da Zona Euro estão abrangidos por acordos colectivos de salários. Portugal está abaixo da média, com pouco mais de 60%, e nos extremos estão, numa ponta, Irlanda e Estónia, com menos de 10% dos trabalhadores abrangidos por acordos deste tipo; e na outra a Espanha e Itália com quase 100% em 2013.

A equipa de economistas de Frankfurt estuda depois como reagem os salários nas empresas face a aumentos e reduções de encomendas, e analisam os resultados tendo em conta o nível de abrangência da contratação colectiva. Os resultados apontam para que a probabilidade de um corte salarial face a redução de procura seja menor que a probabilidade de um aumento salarial quando a empresa tem mais procura. Aliás, os salários tendem até ficar imutáveis quando as empresas sofrem choques negativos de procura; enquanto aumentos de procura tendem a resultar em valorizações salariais. As reacções são tanto maiores quanto maior for a percentagem de trabalhadores cobertos por acordos de contratação colectiva, mostram ainda os dados trabalhados pelo BCE.

Os autores admitem que a rigidez de salários em baixa possa resultar de outros factores, como o facto de os empregadores temerem que cortes salariais possam reduzir a motivação dos trabalhadores e prejudicar a produtividade. Embora referida, esta dimensão não é no entanto considerada no estudo. O que é certo, continuam, é que a rigidez de salários contribui para destruir empregos durante as recessões.

"De uma perspectiva de políticas, os acordos colectivos parecem contribuir para a rigidez de salários que, por sua vez, pode exacerbar as perdas de emprego durante as recessões", lê-se no texto, que lembra que, durante a crise, e já depois de 2013, alguns países introduziram reformas que procuraram estimular a negociação salarial ao nível da empresa afastanda de acordos colectivos que associem as empresas a acordos de dimensão nacional, regional ou sectorial.

Sobre essas alterações, os economistas do BCE avançam que os primeiros resultados parecem apontar para uma maior flexibilidade salarial, nomeadamente no caso espanhol, o que leva o banco central a defender que "mais reformas nesta direcção podem ser benéficas para os países da Zona Euro e poderiam ter o potencial de reduzir a perda de empregos em futuras recessões".

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