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Físico do Porto e engenheiro de Torres Novas disputam Universidade de Aveiro
José Fernando Mendes e Paulo Jorge Ferreira vão a votos no Conselho Geral da academia aveirense para suceder a Manuel António Assunção, que abandona a Reitoria por ter atingido o limite de mandatos. Conheça os perfis.
Continuarão os mais de 14 mil estudantes, o milhar de docentes ou investigadores e os 635 restantes funcionários da Universidade de Aveiro (UA) a ser liderados por um especialista em Física ou será antes um catedrático da Engenharia Electrónica a substituir Manuel António Assunção na Reitoria, um lugar que ocupa desde 2010 e a que não se pode recandidatar devido à regra de limitação de mandatos?
A decisão está nas mãos do Conselho Geral, que vai votar ao final da tarde desta terça-feira, 13 de Março, após ouvir os candidatos apresentaram os programas de acção e de debater esses planos com cada um deles. Agendadas para a Sala de Traduções do Edifício Central e da Reitoria, estas sessões são públicas e transmitidas em directo através do sistema de videoconferência da rede interna desta Universidade, onde se leccionam 57 cursos de graduação e 127 de pós-graduação.
A 24 horas da votação decisiva, a única certeza é que o novo reitor da UA será dez anos mais jovem do que o actual… e nascido em Junho de 1962. Vinte dias mais novo do que o opositor nesta corrida, José Fernando Mendes é natural do Porto e fez todo o percurso académico na cidade Invicta: licenciado em Física na Faculdade de Ciências, mestre em Física do Estado Sólido e doutorado também pela Universidade do Porto.
Casado e pai de uma filha, dirigiu o departamento de Física da UA durante três mandatos (2004-2010) e, desde a eleição de Manuel António Assunção, é vice-reitor para a Investigação e Escola Doutoral, o que lhe vale o epíteto de candidato da continuidade. Dá aulas na academia aveirense desde 2002, é professor catedrático desde Maio de 2006 e investigador no laboratório associado I3N – Instituto de Nanoestruturas, Nanomodelaçao e Nanofabricação.
José Fernando Mendes, cujos pais só estudaram até à quarta classe, foi o primeiro licenciado de uma família grande, contando 17 tios e 19 primos. Na mesma nota curricular em que reclama ter sido até 2012 o cientista mais citado da UA e actualmente o quarto da lista do Google Scholar, diz que aos quatro anos consertou o ferro de engomar da mãe e aos sete montou os primeiros circuitos eléctricos com os fios eléctricos, baterias, interruptores e lâmpadas que o pai lhe deu para ocupar os três meses em que esteve acamado por uma causa de uma perna partida.
Replicar resultados da Engenharia
O Conselho Geral, órgão de governo da instituição que vai escolher entre os dois candidatos – e que está dividida em 16 departamentos, quatro escolas e 18 centros de investigação – é actualmente liderado pelo ex-ministro da Educação, Eduardo Marçal Grilo. Ali têm assento dez representantes dos professores e investigadores, três que falam e votam em nome dos estudantes e um do pessoal técnico, administrativo e de gestão, havendo ainda cinco membros cooptados.
E o papel de desafiador nesta corrida cabe a Paulo Jorge Ferreira, natural de Torres Novas, que, à excepção de uma passagem pela Philips, em Eindhoven (Holanda), desenvolveu toda a carreira na Universidade de Aveiro. Começou em 1985 como assistente estagiário e passou depois a assistente, professor auxiliar e professor associado, até chegar a professor catedrático no Departamento de Electrónica e Telecomunicações em Fevereiro de 2002.
Foi também nesta instituição de Ensino Superior crida em 1973 que o agora candidato a reitor se licenciou em Engenharia Electrónica e Telecomunicações e se doutorou em Engenharia Electrotécnica em 1993. Autor de mais de 200 publicações repartidas por revistas de áreas tão diversas como a Agricultura, Bioinformática, Estatística, Biologia, Medicina ou Parasitologia, sustenta no currículo entregue com a candidatura que algumas se tornaram "referências obrigatórias" – cita os trabalhos na área da viticultura de precisão feitos com um grupo da UTAD e investigadores espanhóis – e que da sua actividade de investigação resultaram "algumas patentes" nacionais e internacionais.
O ribatejano que liderou nos últimos três anos a divisão de Electrónica, Telecomunicações e Informática argumenta que "em resultado das mudanças que [introduziu], a atmosfera no departamento mudou totalmente e a procura dos cursos cresceu muito em número e em qualidade". "Apresentei a demissão do cargo de director do departamento com a consciência de ter conseguido reunir e motivar uma equipa, ter colocado em curso dinâmicas de grande impacto e estar já a assistir aos resultados", acrescentou Paulo Jorge Ferreira, indicando que os candidatos com notas superiores a 18 valores quadruplicaram nos últimos dois anos, "um crescimento muito superior" ao registado no conjunto da UA.