Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Notícia

“Temos de refletir a inflação nas nossas decisões de consumo”, avisa Centeno

Inflação está a influenciar todo o tipo de bens. Governador do Banco de Portugal alerta para a necessidade de empresas e famílias terem o aumento de preços em conta nas decisões de despesa.

Mário Centeno, governador do Banco de Portugal, elogiou as medidas no âmbito do mercado de trabalho.
Manuel de Almeida/Lusa
05 de Maio de 2022 às 11:34
  • ...
O governador do Banco de Portugal (BdP), Mário Centeno, considera que a inflação, "um fenómeno muito complexo e difícil de avaliar", tem de fazer parte da equação de famílias e empresas no momento de entrar em despesa.

"Temos de refletir a inflação nas nossas decisões de consumo", afirmou Mário Centeno na conferência de imprensa de apresentação do Boletim Económico de Maio, que analisa a evolução da economia portuguesa em 2021.

Realçando que o documento não olha para a situação atual, muito influenciada pelos efeitos da guerra na Ucrânia, o governador afirmou que só no ano passado, a inflação já tinha dado sinais de aumento: foi de 0,9%, 1,1 pontos percentuais acima do ano anterior.

O responsável máximo do regulador sublinhou ainda que que no último trimestre o aumento dos preços já tinha excedido 2%, o valor de referência do Banco Central Europeu.

Petróleo e gás natural pressionaram preços

O supervisor observou pressões externas sobre os preços dos bens ao longo de 2021 e considera que "essas pressões refletiram a subida forte e generalizada dos preços da energia e das matérias-primas internacionais – com destaque para o petróleo e o gás natural – e o impacto das disrupções nas cadeias de distribuição global sobre os preços de diversos bens e os custos de transporte".

Os especialistas do banco central consideram que este fenómenos "teve reflexo nos preços na produção industrial, que aumentaram de forma generalizada, salientando-se a subida nos bens energéticos e intermédios".

A transmissão do aumento aos preços praticados junto aos consumidores "foi visível na componente energética, mas também nos preços dos bens industriais não energéticos".

Inflação está a alastrar a bens e serviços de preços normalmente estáveis

O Banco de Portugal acredita que a inflação em 2021 está a atingir todos os bens e serviços, incluindo aquele que têm preços historicamente mais estáveis, como "alguns serviços de educação e saúde, as rendas e os restaurantes e cafés".

No documento que analisa e evolução económica do país no ano passado, o supervisor escreve que "as pressões ascendentes estão a transmitir-se aos preços das componentes tipicamente mais estáveis". Observando que "a subida da inflação no período recente é explicada em larga medida pelo quartil [de preços] de maior volatilidade", o BdP realça no entanto que "a variação homóloga média dos preços nos quartis de menor volatilidade também aumentou no final de 2021 e início de 2022".

Os técnicos do BdP ilustram a ideia com números: "a variação homóloga dos preços no período 2016-2020 manteve-se próxima da média de 1,5% para o primeiro quartil de volatilidade e em 1,1% para o segundo quartil, mas aumentou para 2,9% e 5,2%, respetivamente, em março de 2022", escrevem.

Os bens e serviços "com taxas de variação homóloga acima de 2% ganharam peso, representando 52,6% no final de 2021, contra 20,2% no final de 2020", lê-se no documento. O supervisor realça mesmo que 27,4% dos bens incluídos no cabaz considerado para o cálculo do índice de preços praticados junto do consumidor tiveram "variações de preço superiores a 4%" e conclui que "o aumento da inflação não se cingiu aos itens habitualmente mais voláteis e que a subida se poderá prolongar".

"Evolução dos salários não pode ser avaliada no curto prazo"

Questionado sobre o efeito da pressão inflacionista no rendimento das famílias, Centeno considerou que "os salários e o rendimento disponível das famílias não podem ser avaliados numa perspetiva de curtos prazo".

O governador recordou que "nos últimos seis anos os salário médios cresceram muito mais do que a inflação", dado que "desde 2015 a inflação cresceu menos de 5%, enquanto os salários médios cresceram próximo de 20%". Por isso, sustenta, "esta avaliação não pode ser feita apenas no momento que estamos a viver".

O governador do Banco de Portugal manifestou esperança "que este momento que vivemos – se não acontecer mais nenhum choque – possa ser o ponto mais alto do fenómeno inflacionista", ressalvando no entanto que "isto pode ter de ser reavaliado se surgirem novos dados".
Ver comentários
Saber mais Banco de Portugal Mário Centeno inflação
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio