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Santos Pereira: "Se a luta contra corrupção é desígnio nacional, onde estão a Assembleia da República e o Governo?"
Álvaro Santos Pereira está no parlamento para explicar polémica sobre a questão da corrupção em Portugal no último relatório da OCDE. E critica a falta de ação do Governo, mas também da Assembleia da República no combate à corrupção.
"Se a luta contra corrupção é desígnio nacional, onde estão a Assembleia da República e o Governo?", questionou o diretor do departamento de estudos de países da OCDE, que está a ser ouvido no parlamento.
Para Álvaro Santos Pereira, o Governo mas também a Assembleia da República - dirigindo-se também às bancadas do PSD e do CDS, que apoiaram o Governo de que fez parte - "têm obrigação de mudar a Constituição ou de fazer leis para que a luta contra a corrupção seja um verdadeiro desígnio nacional".
"Não basta lindas palavras e discursos", disse.
Entre as críticas de Santos Pereira esteve ainda a nomeação de políticos para dirigentes da Administração Pública. "Temos de tirar a política da Administração Pública. De acabar com os jobs for the boys".
A oposição do Governo à atenção dada à corrupção no país
O economista está a ser ouvido no parlamento nesta quarta-feira, 3 de março, a pedido do PSD para explicar a alegada pressão do Governo para atenuar as referências à corrupção no último relatório da OCDE sobre Portugal, divulgado no início do ano.
Os desentendimentos entre a OCDE e o Governo por causa da avaliação da corrupção no país no relatório da entidade foram noticiados inicialmente pelo Expresso - que dava conta de que o executivo português se opunha à ênfase dada ao problema. Em causa estaria também o destaque dado a situações específicas (como a Operação Marquês), que constavam numa versão inicial do relatório mas não na final.
O diretor da OCDE confirmou que houve "algum incómodo" demonstrado quer pela delegação portuguesa que representa o país na instituição, liderada pelo secretário adjunto e das Finanças, Ricardo Mourinho Félix, quer por um membro do Governo, "que fez chegar ao secretário-geral da OCDE algumas preocupações com o relatório".
"Esses membros manifestaram a sua intenção de remover a palavra corrupção do relatório", porque o problema em Portugal "não era dos mais graves", recordou Santos Pereira. "Mas nós não dizemos que é dos mais graves - o que dizemos é factual"
Mas apesar da oposição de Portugal, o Comité de Desenvolvimento Económico (onde são discutidos os relatórios e onde têm assento todos os países da OCDE) decidiu que a referência ao problema da corrupção ia constar dos relatórios.
Álvaro Santos Pereira explicou ainda como foi convidado a não participar nas conferências sobre o relatório da OCDE: "Pouco dias antes o secretário-geral disse-me que tinha estado em contacto com o presidente do Eurogrupo [o ministro das Finanças português, Mário Centeno], quando foi demonstrado incómodo da minha presença no lançamento do relatório", descreveu. Santos Pereira ainda admitiu estar presente na conferência da Ordem dos Economistas, no dia seguinte à apresentação oficial do relatório, mas, segundo contou agora, foi aconselhado a fazer essa apreciação técnica numa "altura posterior", o que ainda não aconteceu.
Por fim, o ex-ministro da Economia disse que "não houve nenhuma recomendação" feita na versão inicial do relatório que não conste do final e que o relatório manteve-se, no seu fundamental. Ainda assim, confirmou que as referências a casos envolvendo um ex-primeiro-ministro e empresários foram retiradas.